Aos 56 anos, Manuel Filho, escritor são-bernardense do bairro Terra Nova II lembra da diversão de uma infância marcada pela leitura do Diarinho, coluna infantil do jornal, de correr atrás dos bonecos da Turma da Mônica no parque Cidade das Crianças e de devorar as histórias de Ziraldo na Biblioteca Monteiro Lobato. Mal sabia aos 7 que, décadas à frente, seria ele o escritor a encantar pequenos e a estar confirmado na Bienal do Livro de São Paulo para sessão de autógrafo no estande da Maurício de Sousa Produções na terça (10), às 13h, e no sábado (7), às 15h, para o bate-papo na Arena Cultural 'Hora Maluquinha: cada um mora onde pode'.
“Achava impossível publicar um livro, por isso entrei no ramo só aos 35 anos, depois de já ter trabalhado com a escrita de outras formas. Considero um segmento bem sério, porque todo mundo lembra de um livro que marcou a infância. Então é preciso refletir com muito cuidado sobre os adultos que se metem a escrever apenas rimas para as crianças; elas não gostam só disso, são ricas de criatividade. Ouso dizer que quando a literatura não é sincera, não dura”, reflete.
Segundo ele, o cenário é tão sério que parte das ‘obras não envelhecem tão bem’. “Respeito imensamente os autores que li na minha infância e adolescência porque me estimularam. Mas, assim como hoje, lá na frente talvez seja possível observar criteriosamente um certo olhar dado para a sociedade do momento, de preconceito, racismo ou capacitismo.”
Apesar de já ter passado dos 50, ele afirma ainda a necessidade de voltar à escola, como um núcleo de renovação para ideias.
MODERNIZAÇÃO
Para o autor, assim como as escolas, as bibliotecas (sobretudo, em uma versão modernizada) são uma das únicas saídas para a retenção do importante hábito de leitura.
"Sendo sincero, não gosto muito do termo ‘hábito de leitura’, porque isto já nos induz a algo chato e leitura é educativa sim, mas é para ser principalmente divertida. No contexto atual, acho que algumas práticas podem salvar o interesse pelas palavras: como o espelhamento de crianças que veem seus responsáveis lendo e até um algoritmo do TikTok que sugira dicas de títulos, por exemplo. Mas nada vai substituir o investimento nas bibliotecas públicas e, infelizmente, na minha cidade só duas já fecharam (Malba Tahan, Manuel Bandeira)”, lamenta.
NOVIDADES - INSPIRADAS NO PAVILHÃO VERA CRUZ
O primeiro livro de Manuel que se passa na região é A menina que perdeu o tem, com enredo em Paranapiacaba. Depois veio O menino que queria ser prefeito, com passagem na Cidade das Crianças.
"O 'Histórias dos bancos da praça' também foi uma forma de escrever sobre o Grande ABC e tem uma versão digital. Mas já está em processo e muito em breve deve sair 'O menino que não via cores' e passa dentro do Pavilhão Vera Cruz de São Bernardo. É interessante como estas histórias por vezes ficam adormecidas dentro da gente por 30 anos", conta.
No momento, o escritor promove o Alguém me tire daqui!, em parceria com Maurício de Sousa - ídolo que conheceu na Alemanha: "o primeiro livro (O medo nunca senti!) se passa em um cemitério. Este, em um museu. A intenção é fazer as crianças descobrirem artistas importantes como Tarsila do Amaral e Heitor dos Prazeres".
Na 27ª edição da Bienal, Manuel completa 20 anos marcando presença como autor. Abaixo estão os horários para conhecê-lo junto aos demais moradores do Grande ABC convidados ao maior evento literário da América Latina.
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