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Vivaldi sofre com enchente e assaltos

Bairro residencial tem fácil acesso, mas obras de rebaixamento da Lions prejudicam trânsito

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
12/12/2011 | 07:00
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Vila Vivaldi é uma das mais antigas de São Bernardo, localizada dentro do bairro de Rudge Ramos. Com acesso fácil a outras cidades do Grande ABC e da Capital, foi prejudicada pelas obras de rebaixamento da Avenida Lions. Porém, essa não é a principal preocupação dos moradores. O aumento da criminalidade e os alagamentos que ainda acometem o bairro são os principais problemas.

 

"Outro dia mesmo vi um senhor ser assaltado na Rua Tietê em plena luz do dia", disse a pensionista Shidney Aparecida Pereira Cagiano, 69 anos. A filha dela, Carla Regina Cagiano Flores, 40, é dona de um pet shop que foi assaltado no mês passado. Agora, o comércio só fica com as portas fechadas. "Levaram os computadores e o prejuízo é só meu." Até a filha de Carla, Gabriela, 16, teve o celular roubado na Escola Estadual Professor Amadeu Olivério. "Nem dentro da sala de aula a gente escapa."

 

Cortada pela Avenida Lions, moradores da vila possuem apenas um jeito de atravessar para o outro lado: por meio de túneis, que permitem o fluxo de carros e pedestres. Os moradores, porém, reclamam que a passagem é perigosa, além de servir como ponto de descarte irregular de lixo. "Atravesso sempre por aqui, mas precisa ficar de olho aberto", afirmou a vendedora autônoma Maria Rosenilda da Silva Delfino, 40.

 

Mas nem tudo é reclamação na Vila Vivaldi. O dono de mercadinho Abel de Gouveia, 58 anos e 41 deles no bairro, acompanhou o crescimento da área. "Não saio daqui porque o acesso é fácil para todo lugar. O trânsito complicou com as obras da Avenida Lions, mas quando ficar pronto vai ser uma beleza", opinou.

 

IGREJA E HORTA

Aos 44 anos, a Paróquia Santa Edwiges, que curiosamente fica na Praça Santa Luzia, é o ponto de encontro da comunidade católica. Ali, o presépio aguarda a chegada do Natal para ter a ilustre presença do Menino Jesus.

 

Quem cuida da igreja é a ajudante geral Eunice José dos Santos, 49, que nasceu no bairro e se lembra da época em que o templo religioso era apenas uma capelinha. "A gente tinha que fazer primeira-comunhão na igreja do Rudge Ramos, porque aqui não cabia."

 

A colega de trabalho Elizete Aparecida Rodrigues, 55, é secretária paroquial e afirmou que o público da igreja vem diminuindo. "As pessoas buscam outras religiões porque querem tudo rápido. O tempo de Deus é diferente do tempo do homem."

 

A vila também possui pequenas hortas comunitárias, mantidas em terrenos da AES Eletropaulo. Uma delas fica sob os cuidados do agricultor Joaquim Alves de Jesus, 57. Há alface, tomate, couve, abóbora, repolho, almeirão e milho, entre outros. "Vem gente de tudo quanto é lugar para comprar, porque o produto é fresquinho e sem agrotóxico." Coisas de vila antiga.

 

Ela garante o lazer da meninada da vila

Uma simpática senhora abre o portão de sua casa com um sorriso no rosto. "Pode entrar, minha filha, senta aqui para a gente conversar." É assim que a dona de casa Ildeide Martins da Costa, 50 anos, recebe quem aparece em sua residência, localizada dentro do campo de futebol da Sociedade Esportiva Amigos de Vila Vivaldi.

 

Há 25 anos a família de Ildeide se mudou para o local para manter a manutenção e limpeza da área de lazer em dia. "A gente recolhe o lixo, passa cal no campo, faz essas coisinhas para ficar tudo bonito para quando a meninada vem jogar."

A residência da espírita Ildeide ainda conserva a decoração da festa que fez em homenagem aos ciganos, semana passada. Fios coloridos espalhados pelo teto, combinados ao sorriso fácil de Ildeide, são um convite para papear.

 

"Quando mudamos para cá, isso daqui parecia uma lagoa em época de chuva. Cheguei a perder móveis, documentos, objetos pessoas", relembrou. Hoje Ildeide garantiu ter melhorado. "Ainda fica alagado, mas nada que chegue a encher a casa da gente."

 

Sobre a criminalidade da qual muitos reclamam, Ildeide rebateu na lata: "Não é só aqui, mas em todo lugar, não tem jeito." Essa guerreira disse não ter do que reclamar. "Em casa nunca deu problema, mas coloco o cadeado no portão para garantir."

 

Antes da urbanização, Vila Camargo

Vila Vivaldi nasce Vila Camargo em1930. Ganha os contornos atuais em 1950, já com o nome Vivaldi, tendo à frente a Imobiliária Itaguassu e aprovação em 26 de janeiro daquele ano.

 

Desde o nascedouro, Vivaldi enfrentou o problema das enchentes do Ribeirão dos Meninos. Há moradores que guardam vídeos das mais fortes. De um lado as enchentes obrigaram a saída de muitas famílias; de outro, o enfrentamento tornou a comunidade fiel ao bairro mais unida.

 

Essa união salienta-se em outros pontos, como o da criação da Sociedade Amigos, de 1956. No mesmo ano, é fundado o EC Nacional. Em 1961 surge a SE Vila Vivaldi, com dissidência da diretoria do Nacional. Em 1973, ocorre a fusão do mesmo Nacional com a SAB. Nasce a Sociedade Esportiva Amigos de Vila Vivaldi.

 

Vila Vivaldi fica próxima do espaço onde situou-se a sede da fazenda dos beneditinos. Ali nasceu São Bernardo (primeira metade do século 18). Ponto estratégico: às margens do Ribeirão dos Meninos e do seu afluente, Borda do Campo, denominação que remete à própria formação da Santo André da Borda do Campo (século 16).

 

Uma referência é a Estrada do Vergueiro, hoje Avenida Senador Vergueiro, variante do Caminho do Mar histórico, que antecede a própria vinda da estrada de ferro (século 19). Pela Estrada do Vergueiro passaram os primeiros paulistas nas idas e vindas entre Litoral e São Paulo.

 

CHÁCARAS

O Sítio dos Camargo não estava incluído na fazenda beneditina. Pertencia a Agenor Camargo Filho, que abriu várias chácaras na década de 1930.

O topógrafo e historiador Newton Ataliba Madsen Barbosa cita Vivaldi como uma das primeiras ocupações urbanas da margem de São Bernardo do Ribeirão dos Meninos.

 

IGREJA

A Paróquia de Santa Edwiges foi criada em 1967, como desmembramento da construção da primeira capela. É comovente verificar em antigas fotos o trabalho em mutirão dos moradores católicos para a construção da igreja. O próprio sacerdote misturando massa e puxando carrinho de mão. Uma história que remonta a 1955, com a construção do cruzeiro em terreno baldio onde foi celebrada uma missa campal. (Ademir Medici)




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