Pouca gente sabe como é o encontro entre cuidados saúde e bom humor como os Doutores da Alegria. O trabalho de visita a hospitais iniciado em 1991 inspira dezenas de outras entidades do Brasil.

Val de Carvalho é parte do quadro médico dos Doutores da Alegria desde 2004. Ela - que embora more no bairro Sacomã, em São Paulo, teve grande parte de sua formação artística em São Caetano - teve de se adaptar para atuar nos centros médicos, apesar da vasta experiência na arte circense. Ex-aluna da Academia Piolin, aprendeu muito do que sabe com o palhaço Picolino (Roger Avanzi) no começo dos anos 1980.

"Apesar de trabalhar duas décadas como palhaça, tive de fazer um ano de treinamento, porque palhaço de hospital é diferente", conta Val. "Fui com uma certa curiosidade, porque não sabia nem se ia dar conta do recado."

Para ser doutora da alegria, Val teve de passar por um processo seletivo muito concorrido. "Na época tinha um volume muito grande de pessoas que quiseram entrar", lembra.

E depois disso, veio o treinamento de um ano para atuar para as crianças hospitalizadas. "Tive bastante dificuldade porque era uma palhaça de picadeiro - tudo era aumentado, grande. Como palhaço de hospital, às vezes você está trabalhando para uma pessoa só. Então muda muito, os gestos têm de ser menores, o olhar tem de ser trabalhado individualmente", explica Val.

O treinamento também é importante para aprender a lidar com situações inesperadas ao trabalhar com crianças hospitalizadas - inclusive quando os próprios sentimentos podem interferir no processo. "Não vou como Val de Carvalho, a atriz. Vou como palhaça, em um estado diferente, que não leva nada a sério."

Quando entra em ação, a ordem é "manter o estado do palhaço vivo". "A gente não mexe só com a criança, mas tudo que está ao redor, desde o recepcionista", diz. E se a criança não está com vontade de ver palhaços? "Respeitamos. Se a criança fala não, a gente sai. Não forçamos nada."