Da privilegiada posição de quem está acostumado a detectar talentos, o consultor de empresas Ricardo Neves é um crítico do sistema de ensino. Autor de livros, entre eles O Novo Mundo Digital (Ediouro), Neves afirma que uma das falhas no processo de aprendizagem está no abismo entre mestres e pupilos. "Professores, de um modo geral, são seres formados nos anos 1980 do século 20, que reagem com repressão por não saberem como acompanhar os alunos do século 21", diz. Exemplo? A dificuldade dos professores em lidar com a mesma velocidade de informação a que seus alunos estão acostumados. O resultado, segundo Neves, é que os alunos se sentem desmotivados e tendem a se afastar de quem deveria orientá-los.

O consultor também vê com reservas o formato do Ensino Médio tradicional que, segundo ele, visa apenas um momento: o vestibular. "São três anos de exílio intelectual, no qual a criatividade fica suprimida, não colaborando para a formação de talentos", diz. "Além do mais, alguém me explica como uma menina de 15 anos tem certeza de que tem aptidão para se tornar uma cirurgiã-plástica ou uma engenheira, por exemplo? É um equívoco decidir uma profissão que irá seguir sendo ainda tão jovem."

O consultor só ameniza a crítica quando o assunto são as escolas técnicas, que, segundo ele, inserem o jovem em cenas próximas da realidade, além de desenvolverem o foco nos alunos.

"O estudante recebe o diploma preparado para enfrentar o mercado de trabalho, que hoje solicita cada vez mais especialistas", afirma, ao definir seu ponto de vista como ‘paulofreiriano' (método de ensino no qual se aprende por meio de referências cotidianas).