Carlos Boschetti Titulo Coluna
O futuro de nossos ‘hermanos’ argentinos

Juízes internacionais cobram do país até dia 30, pagamento de mais de US$ 1,5 bilhão entre dívidas e juros

Carlos Boschetti
26/06/2014 | 07:07
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Nesta semana fomos surpreendidos pela decisão da suprema Corte americana, que negou o pedido do governo argentino e deu ganho de causa para os fundos especulativos da não aceitação da renegociação da dívida do governo de Buenos Aires de 2001.

Se voltarmos aos anos 1940, a Argentina era considerada a Suíça do cone Sul devido à sua forca econômica e ao seu desenvolvimento cultural e social de alto nível. Não havia pobreza e todos os indivíduos tinham acesso à Educação, Saúde e prosperidade. Era comum as famílias argentinas educarem seus filhos nas melhores universidades no mundo. Todos desfrutavam de padrão de vida de boa qualidade somente igualada a padrões dos suíços. A partir dos anos 1960, os argentinos foram, assim como nós, submetidos a um regime militar que, além de destruir a democracia, deu início a um processo de empobrecimento. Nesta época, o país até declarou guerra à Inglaterra na disputa pelas Malvinas.

Após um processo doloroso e longo, o povo argentino reconquistou a democracia e, assim, começou um novo ciclo de esperança de recuperação dos anos gloriosos vivenciados pela sofrida população. Poucos argentinos, porém, tinham ideia do que estava por vir. A hiper inflação também deteriorou a tão frágil economia argentina, até que o governo implantou plano econômico que, constitucionalmente, equiparou artificialmente o peso argentino ao dólar americano.

Durante aproximadamente uma década, a população se recuperou, o consumo cresceu e os investimentos internacionais retornaram. O governo também aumentou o endividamento do Estado. Todavia, essa situação explodiu de tal forma que, no início dos anos 2000, o plano Cavallo ruiu e levou a economia ao caos. A dolarização da economia perdeu fôlego e, numa virada de noite, o peso argentino desvalorizou 40%. Com isso, a economia entrou em colapso e a dívida atingiu mais de US$ 100 bilhões.

Naquela época, o governo declarou sua incapacidade de honrar os compromissos e a comunidade econômica mundial encarou essa atitude como um calote. Essa situação foi tão grave que afetou diretamente a economia brasileira que sentiu um duro golpe nas relações do Mercosul. Desde 2001, a economia do nosso parceiro sofre com inflação, controle de preço, pressão dos credores e duros golpes em sua população que não tem clareza e entendimento da grave situação que o país atravessa nos últimos anos.

Todos os esforços da defesa do governo não foram suficientes para convencerem os juízes internacionais, que cobraram pagamento até dia 30 mais de US$ 1,5 bilhão entre dívida e juros. As reservas cambiais não são suficientes para negociação até o prazo. Os economistas estão tentando desenvolver proposta para que as partes interessadas possam se aproximar e iniciar rodas de negociação para que cheguem a um ponto comum, e que nossos hermanos possam honrar os novos compromissos.

A presidente Cristina Kirchner reagiu fortemente contra essa decisão, o que não resolveu a situação. É necessário que ela tenha atitude de transparência e não populista, transferindo a culpa do calote aos credores e não ao governo – tendo em vista quem deu o calote foi o seu marido Nestor Kirchner, que decidiu unilateralmente pagar apenas 30% da dívida. Plano está sendo elaborado e esperamos que, na data prevista, haja decisão que atenda a tão diferentes expectativas e que o resultado não afete a população tão sofrida durante todo esse período. 




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