Problema social é discutido em peça com
Denise Fraga e Cláudia Mello, em Sto.André
O cenário é simples: um caixote, um cobertor e o banco da praça. O poder do espetáculo Chorinho está no texto de Fauzi Arap e na interpretação de Denise Fraga e Cláudia Mello.
“Nunca fiz uma peça que senti tanto o poder que a palavra tem”, diz Denise, que interpreta uma moradora de rua que tem a vida entrelaçada com uma aposentada (Cláudia).
Por se cruzarem com frequência em uma praça, a personagem de Denise fica indignada com o fato de a aposentada fingir que não a vê por ali. Ela afirma que a razão de ter ido morar na rua foi justamente não precisar mentir e fingir. “É um pensamento simples que fala de assuntos profundos, preconceitos e coisas absurdas que acabamos nos acostumando. Na rua, passamos ao lado da cama de um mendigo e achamos isso normal”, fala a atriz.
Essa nova versão de Chorinho (a primeira foi montada em 2007, com Cláudia Mello e Caio Blat interpretando o morador de rua) foi um dos últimos trabalhos de Fauzi Arap, que morreu em dezembro do ano passado. “Estive com o Fauzi para pedir conselhos. Queria fazer uma peça simples e que tivesse mobilidade. Ele já estava recluso e só se envolvia com projetos que queria muito. Quando ele topou a direção, ganhei um dos melhores presentes”, conta Denise que já havia sido dirigida pelo dramaturgo em 1995, com a peça A Quarta Estação.
No fim do ano será montado um evento em sua homenagem, com releituras de peças e apresentações de Chorinho e Coisa de Louco. “Várias pessoas me disseram que queriam tirar papel e caneta da bolsa para anotar as falas. Em dezembro, pretendemos lançar uma edição do roteiro com as anotações que o Fauzi dizia.”
Plateia
O público funciona como um termômetro para as peças. No caso de Chorinho, a receptividade da plateia, segundo Denise Fraga, é “de dar esperança”.
Em uma das primeiras apresentações, há dois anos, no teatro Guairá, em Curitiba, a presença dos espectadores surpreendeu as atrizes. “A produção falou que teria pouca gente por ser no meio da semana e não ter tido muita divulgação. Minha primeira cena é com um cobertor na cabeça, quando tirei, vi 2.000 pessoas e nunca senti tanto medo. É quando vemos o poder da direção, da palavra e da condução do ator.”
Outro medidor do teatro é a risada. “Quem faz muita comédia sabe que a risada é uma voz. E nessa peça é a ‘risada pior que é’. Mostra que as pessoas estão se divertindo e saindo com a pulga atrás da orelha. E isso é uma felicidade para mim, quer dizer que elas digeriram tudo”, finaliza a atriz.
Chorinho – Teatro. Sexta, às 21h30, sábado, às 21h, e domingo, às 18h. No Teatro Municipal de Santo André – Praça 4º Centenário, Centro. Ingr.: R$ 35 a R$ 70.
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