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Table Mountain: nos céus com o capeta
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
12/07/2012 | 07:07
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Ir à Cidade do Cabo e não subir a Table Mountain é o mesmo que visitar o Rio de Janeiro e não conhecer o Corcovado: imperdoável. Até o turista pouco afeito a caminhadas não tem desculpa, já que também se pode chegar ao topo, de 1.086 metros de altura, a bordo de um teleférico. Se este não é o seu caso, comece escolhendo uma entre as mais de 500 trilhas guiadas montanha acima e prepare os calçados.

A diferença para o Corcovado é que, ao invés de um Cristo de braços abertos, quem sobe tem encontro marcado com o demônio. Reza a lenda que o coisa-ruim mora lá, nos céus da Table Mountain, dando seus pitacos de fumo desde o século XVII, quando desafiou um colonizador holandês. Mas a vista que se vislumbra no Devil's Peak (Pico do Diabo) não tem nada de tenebrosa. Pelo contrário: é divina! E ainda influencia positivamente o povo da Cidade do Cabo, servindo de referência geográfica para os moradores e de academia para os turistas menos acostumados a encarar trilhas íngremes. Se o diabo habita o pico, os santos também estão logo ali, nas formações rochosas batizadas de Doze Apóstolos.

Uma das caminhadas mais usuais leva de duas a três horas. É preciso estar atento ao chão para pisar as pedras certas e não correr o risco de cair no penhasco ao lado. Em vários momentos, você provavelmente se questionará se não teria sido melhor subir de cable car - bondinho, semelhante ao do Pão de Açúcar carioca, cujo passeio dura 5 minutos e custa 85 randes (cerca de R$ 20). Afinal, a caminhada exige esforço físico e as rajadas de vento gelado se intensificam à medida que o topo se aproxima.

Em outras ocasiões, no entanto, você dará graças a Deus por ter optado pelo percurso a pé, que permite fazer paradas estratégicas para ficar ali, estático, contemplando o visual sem pressa e - por que não? -, trocando uma palavra com o Todo-Poderoso diante de uma das mais belas obras de sua criação.

Mas guarde algumas preces de agradecimento para quando chegar ao topo. Pode crer: Deus também está lá, muito mais presente do que qualquer anjo caído, e recompensa quem enfrenta os próprios demônios com uma vista inesquecível. Lá embaixo, a ensolarada Cidade do Cabo. Em cima, gotículas d'água voam com o vento e escorrem pelas mesmas rochas onde dassies (roedores típicos da fauna local) repousam no maior sossego, a despeito das cobras que também costumam rastejar por aquelas paragens... Sim, no recanto onde Deus e o diabo convivem em perfeita harmonia, tem lugar para todos. E não é pecado algum cometer o exagero de tirar a enésima foto da vista para o Oceano Atlântico antes de iniciar a descida - desta vez, de cable car. Os anjos perdoam tanto o excesso quanto a preguiça.




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