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Anchieta vira estacionamento a céu aberto

Fechamento de pátios para caminhões em Cubatão provoca 50 quilômetros de lentidão no SAI

Caroline Garcia e Drielly Gaspar
29/05/2013 | 07:00
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Uma sequência de ações desastrosas travou por pelo menos 20 horas o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), único caminho que liga a Capital ao Porto de Santos, passando pelo Grande ABC. A medida radical tomada pela prefeitura de Cubatão de restringir o horário de funcionamento dos pátios para caminhões, a morosidade da Ecovias em implementar medidas de emergência e a falta de alternativas ao transporte de carga obrigaram motoristas a enfrentar média de oito horas para chegar à Baixada.

Por volta das 10h de ontem, os congestionamentos somavam 50 quilômetros em todo o sistema, dos quais 29 apenas na Rodovia Anchieta.

Às 18h de segunda-feira, quando o ecopátio – que funcionava 24 horas – foi fechado, fila de caminhões que pernoitariam no local começou a se formar na Rodovia Cônego Domênico Rangoni, em Cubatão. Em poucas horas, o congestionamento chegava à pista Sul da Anchieta, impedindo que os veículos que desciam a Serra seguissem tanto para Santos quanto para o Guarujá.

Durante a madrugada, por volta das 3h, a viagem de São Bernardo à Baixada levava cinco horas. Motoristas ouvidos pelo Diário afirmaram que a Ecovias demorou para incluir nos painéis eletrônicos a informação sobre as péssimas condições de tráfego na Anchieta. Outra reclamação é quanto ao serviço de 0800. Usuários dizem ter passado horas tentando falar com atendentes, sem sucesso.

A Ecovias rebate as críticas e garante ter adotado medidas para amenizar os transtornos. Segundo a concessionária, 12 mil caminhões utilizam a Anchieta diariamente para descer a serra, e que não era possível prever esse cenário caótico.
“Assim que registramos pontos de lentidão pela madrugada, implementamos ações junto à serra e ao trevo de Cubatão. Fechamos a alça de acesso da Anchieta para a Cônego, para dar mais vazão ao trevo, e fizemos alguns cortes no topo da serra para fazer fluir o tráfego na Baixada. Não tínhamos como antecipar como o trânsito iria responder. A comunicação com o caminhoneiro é um pouco complicada”, justifica o coordenador de planejamento da Ecovias, Ronald Marangon.

Maragon afirma que só ficou sabendo do decreto por meio da imprensa, e que, a partir disso, intensificou os canais de comunicação com os usuários. “A escala dos operadores foi mudada. O Twitter, que normalmente não funciona de madrugada, estava no ar. Os painéis informavam constantemente as condições da via, além do telefone 0800. Entramos em contato com as empresas de ônibus para, se possível, atrasar as viagens, e contamos também com a divulgação da imprensa”, enumerou.

A opção para os veículos de passeio que precisavam seguir para o Litoral foi utilizar a Imigrantes, que não apresentou problemas.

Por volta das 13h, com a abertura da pista Norte para a descida, as filas que chegaram ao km 26 da Anchieta, na altura do trevo do Riacho Grande, em São Bernardo, começaram a se desfazer.

No fim da tarde, a prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT), voltou atrás da decisão e manteve, ao menos temporariamente, os pátios funcionando 24 horas.

Lentidão faz passageiro voltar a pé e pedir carona

Ao se deparar com milhares de veículos ‘estacionados’ na Anchieta, muitos passageiros de ônibus e de carros de passeio decidiram interromper a viagem. Foi o caso de Daniele Ayme, 19 anos, que saiu de Santo André e precisava estar em Santos às 9h. “Já perdi o dia de trabalho. Vou andar até o pedágio e pegar carona com alguém”, conta. Daniele estava no km 32 e teve de caminhar por cerca de um quilômetro até a praça de cobrança.

O caminhoneiro Clodoaldo Rosa, 39, ficou parado logo que passou pelo pedágio, no km 31. “Saí da empresa em Diadema às 9h e, quando cheguei aqui, estacionei. Um amigo meu saiu uma hora antes de mim e está três quilômetros na minha frente. É um absurdo”, lamenta.

O motorista Lazaro da Silva, 40, disse que na noite de segunda-feira demorou cinco horas para fazer o trecho que vai do Guarujá até Praia Grande. “Nem voltei para casa. Quando cheguei na empresa, às 23h, deitei na boleia do caminhão e dormi, porque sabia que teria que pegar a estrada de novo.”

Em dias comuns, os caminhoneiros, que devem trafegar em velocidade inferior a dos carros, levam, no máximo, uma hora e meia para chegar a Santos. “Todos os dias, desço a serra duas vezes. Normalmente, em 12 horas consigo chegar ao meu destino, entregar a mercadoria, carregar meu caminhão e subir para São Paulo e, assim, fazer o mesmo trajeto mais uma vez. Ontem (segunda-feira) demorei oito horas apenas para descer uma vez”, conta o caminhoneiro Miguel Luiz Zavitoski, 55.

Por volta das 11h, por não avistarem opção de retorno, um grupo de caminhoneiros pegou ferramentas e desmontou o guard-rail para que os motoristas pudessem acessar a Anchieta sentido São Paulo. Houve uma pequena movimentação de veículos, mas, aproximadamente 30 minutos depois, funcionários da Ecovias chegaram ao local e fecharam a passagem improvisada.

Quem tentou sair da Baixada para chegar ao Grande ABC e à Capital também enfrentou congestionamentos na manhã de ontem, reflexo da lentidão na Cônego Domênico Rangoni. Ônibus que saíram de Santos às 8h só chegaram a Santo André por volta do meio-dia. (Drielly Gaspar)
 




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