Setecidades Titulo Queixas desestimuladas
Descaso em Delegacia da Mulher de São Bernardo revolta vítima

Moradora buscou por duas vezes a unidade, em 2020 e neste ano, e afirma que se sentiu estimulada pela equipe a não registrar as queixas

Thainá Lana
01/05/2024 | 09:09
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FOTO: Reprodução


“É muita humilhação. Já estou passando por algo que está destruindo a minha saúde mental, e não me senti acolhida de nenhuma maneira pela equipe”. O relato é de uma moradora de São Bernardo, que não será identificada por questões de segurança, sobre o atendimento na DDM (Delegacia da Mulher) de São Bernardo. A vítima buscou por duas vezes a unidade, em 2020 e no mês passado, e denuncia a qualidade do serviço no distrito policial.

Segundo a denunciante, nos dois episódios ela se sentiu desencorajada pela equipe policial a registrar as queixas contra os ex-companheiros. Em julho de 2020, a vítima estava em processo de separação e estava se sentindo ameaçada pelo marido durante o processo de divórcio, o que a motivou a buscar a DDM para formalizar uma denúncia e buscar os serviços de proteção.

Porém, a realidade encontrada na unidade são-bernardense teria sido diferente. “Já começa pela estrutura da delegacia, que naquela época estava completamente abandonada, suja, com goteiras, um ambiente nada acolhedor. Quando entrei na unidade, um policial ficou me secando de cima a baixo, fiquei muito constrangida, ele não parava de me encarar. Quando finalmente fui chamada, expliquei a situação, e como ainda morava com meu ex-marido, a pessoa responsável alertou sobre os perigos da denúncia, que poderia sofrer represálias, entre outros pontos. Fiquei com medo do que poderia acontecer comigo e desisti de formalizar a queixa”, contou.

Já no segundo atendimento, no mês passado, a mulher alegou que está sendo perseguida por outro ex-companheiro, que estaria enviando mensagens para ela e para a sua família. Em um dos conteúdos, o homem teria escrito que iria “acabar com ela”, pois, não aceita o fim do relacionamento. “Mesmo eu deixando claro que não queria mais nada com ele e ter me afastado totalmente, ele passou a me perseguir e também as pessoas próximas a mim, como familiares e amigos. Pode ser que nada aconteça, que não passe de ameaças, mas preferi buscar ajuda ao invés de aguardar o pior”, relatou a vítima.

Ao procurar o equipamento público para registrar a queixa, a mulher disse que ficou sentada esperando por uma hora, sem qualquer justificativa ou previsão de quando seria atendida, e ainda presenciou o relato de outra denunciante que descrevia uma situação de importunação sexual. “Não tem nenhuma privacidade naquele ambiente, enquanto estava sentada ouvi todos os detalhes, despertando gatilhos na gente”.

Desta vez, a vítima formalizou a denúncia e solicitou medida protetiva contra seu agressor e foi informada pelo agente de segurança que poderia ter um retorno do seu caso em 72 horas ou em até uma semana, pois, a equipe estava com altas demandas. Ao passar o prazo de três dias, a vítima entrou em contato via telefone com a DDM de São Bernardo e descobriu que a sua ocorrência estava na Vara da Violência Contra Mulher do município.

“Se eu não ligo, não tenho nenhum retorno. E agora? Quando o agressor será intimidado? Quando vou receber a medida protetiva? São várias questões sem respostas, deixam a gente no escuro em uma situação de perigo”, questionou.

“Vemos todos os dias vários casos de violência contra mulher, seja física, moral, psicológica ou patrimonial, e em todas as situações pedem para a gente procurar a polícia, para registrar queixa, mas quando vamos não temos o apoio que precisamos. É um local que já não acolhe quem procura, as pessoas não são bem preparadas para atender às vítimas, um descaso total. Se a mulher chega com um psicológico muito abalado, ela acaba desistindo e vai embora sem fazer a denúncia”, finalizou a denunciante.

A primeira delegacia da mulher no País foi criada em 1985 no Estado de São Paulo para combater à violência contra mulher e como uma alternativa frente às reclamações sobre o atendimento prestado em delegacias de polícia comuns. Segundo o governo estadual, as DDMs são serviços especializados que contam com equipes treinadas para o atendimento às vítimas.

O QUE DIZ A SSP

Questionada sobre as reclamações de mau atendimento e falta de acolhimento na DDM de São Bernardo, a SSP (Secretaria de Segurança de São Paulo) disse, por nota, que a conduta citada acima não condiz com as diretrizes e protocolos da instituição. “Os funcionários da unidade são constantemente treinados para melhor atender às vítimas e foram reorientados sobre a denúncia prestada”, esclareceu o órgão.

A Pasta afirmou ainda que a denunciante foi orientada da necessidade de representação e respectivos prazos, “Bem como a oferta de encaminhamento às casas de abrigos e a possibilidade de requerimento de medidas protetivas de urgência, cujo deferimento e comunicação sobre a decisão ficam a cargo do Poder Judiciário”.




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