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Intelectuais apóiam Zé Celso na luta pelo Oficina
Do Diário do Grande ABC
28/06/2000 | 16:07
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O geógrafo Milton Santos e filósofa Marilena Chauí sao os mais novos aliados do diretor José Celso Martinez Corrêa em sua luta pela preservaçao do Teatro Oficina, ameaçado pela construçao do Shopping Bela Vista Festival Center, de propriedade do empresário Silvio Santos. Milton Santos e Marilena Chauí - ambos vencedores do Prêmio Multicultural 2000 Estadao Cultura - vao participar nesta quinta à noite, no Teatro Oficina, de uma espécie de conselho deliberativo que contará com a presença de José Guilherme de Castro, representante do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).

Participam ainda do debate - aberto ao público - o geógrafo Aziz AbSaber, os arquitetos Paulo Mendes da Rocha, Edson Elito e Joaquim Guedes, o ator Sérgio Mamberti, o diretor Hugo Possolo, o dramaturgo Aimar Labaki e a atriz Bete Coelho.

Como esta quinta é dia de Sao Pedro, Zé Celso vai acender uma grande fogueira no centro do Oficina - o fogo do conselho -, às 19 h. O músico José Miguel Wisnick vai interpretar, ao piano, a cançao "Inverno", às 21h, senha para o início do debate. "A minha casa é maloca rasgada no futuro/ é inverno é o eterno enquanto duro/ osso duro osso duro/ que ninguém há de roer", sao alguns versos da cançao.

Para Zé Celso, o confronto entre o Oficina e o shopping do dono da rede de televisao SBT é representativo de um embate muito mais amplo. "A luta do Brasil naçao contra o Brasil mercadao". É o espaço da criaçao artística e crítica contra o espaço do consumo. Enquanto o Oficina - desenhado para ser uma passagem, uma espécie de praça no Bixiga - representa o espaço público e democrático, o shopping reforça o apartheid econômico e social. "É difícil convencer um empresário que a luz, a água, o fogo e o ar, elementos fundamentais ao Teatro Oficina, sejam mais importantes do que a construçao de um shopping".

Nao há dúvida de que, se for construído o prédio desenhado pelo arquiteto Júlio Neves - um centro de compras e lazer de oito andares com direito a uma torre com vista panorâmica -, as características arquitetônicas do Oficina estarao desfiguradas.

Patrimônio - A mobilizaçao dos intelectuais nao deveria ser o único obstáculo no caminho de Silvio Santos. Afinal, o Oficina foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 1982 e, pelas normas estabelecidas pelo Condephaat, nenhuma obra pode ser feita no entorno de 300 metros de cada imóvel tombado. No entanto, o próprio Condephaat - que ressaltou nao só a importância arquitetônica, como também artística do Oficina no parecer de tombamento - aprovou a obra de Silvio Santos em 1997.

"O parecer para aprovaçao foi apocalíptico, na linha se está ruim, deixa ficar pior", diz Zé Celso. A alegaçao foi de que a área já estaria degradada pelos elevados e prédios construídos no entorno. Mas nem tudo está perdido.

Nesta quinta à noite, a partir das 19h, Zé Celso vai autografar o livro "Lina Bo Bardi, Teatro Oficina - Oficina Theatre", uma publicaçao bilíngüe - português/inglês - com textos de Lina Bo Bardi, Edson Elito e Zé Celso. Fartamente ilustrado, o livro documenta a transformaçao arquitetônica do histórico prédio e, principalmente, resgata a importância do Oficina para o teatro brasileiro, narrando passo a passo a aventura de uma criaçao artística e simbólica fundamental para o Brasil. A história de uma luta vitoriosa apesar do insistente e concomitante cerceamento das censuras ideológica e econômica.




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