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Mulheres freqüentam mais bibliotecas do que os homens
Do Diário do Grande ABC
05/08/2000 | 18:34
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Aos sábados e domingos, a estudante Débora Oliveira, 18 anos, costuma namorar e reunir amigos em noites dançantes. De segunda a sexta, em sessoes que nao duram menos de cinco horas, ela mergulha na leitura de clássicos, best-sellers e livros didáticos do acervo da Biblioteca Popular Machado de Assis, em Botafogo - hábito cultivado nos últimos quatro anos. No que se refere ao sexo, à idade e ao nível de escolaridade, o perfil de Débora corresponde ao da maioria do público que freqüenta as 21 bibliotecas municipais do Rio: 95% dos 550 mil freqüentadores sao mulheres.

Da linguagem ingênua de gibis à literatura precisa do autor do romance Dom Casmurro, a leitura vem delineando a alma de jovens como Débora, moradora de Laranjeiras, filha de uma microempresária do ramo de congelados. "Todo mundo tem de ler Dom Casmurro ao menos uma vez na vida", recomenda a estudante, amante dos personagens machadianos como Bentinho e Capitu. "Adorei Iaiá Garcia", conta a menina, que também aprecia os contos e crônicas de Machado de Assis, morto no início deste século.

Assim como 3.381 usuários da rede municipal de bibliotecas, Débora respondeu a um dos 4.200 questionários distribuídos pela Secretaria Municipal de Cultura, no primeiro semestre deste ano, com nove perguntas sobre o perfil da clientela que paga taxa de R$ 5 por ano para ter direito ao empréstimos de livros por até 15 dias. Concluída na quarta-feira passada, a pesquisa revela algumas características desse público: a maioria está na faixa entre 10 a 20 anos de idade, cursam 1º ou 2º graus e procuram a biblioteca, em 80% dos casos, para trabalhos de pesquisa e estudo.

Débora faz parte de um grupo de jovens que passou a freqüentar bibliotecas a partir de 1994, quando uma nova política transformou essas instituiçoes em espaços dinâmicos, com realizaçao de debates com autores, círculos de leitura e, para as crianças e eventos com participaçao de contadores de histórias. Somente em junho, mais de 50 mil pessoas consultaram ou pegaram emprestado cerca de 105 mil livros do acervo de 339.273 mil volumes das bibliotecas da rede municipal.

"Nosso propósito é tornar as bibliotecas espaços cada vez mais agradáveis e dinâmicos e mostrar que o livro é mágico e pode levar a novos caminhos", afirma a diretora-geral do departamento de Documentaçao e Informaçao Cultural da Secretaria de Cultura, Vera Mangas.

Nos últimos seis anos, desde que os livros puderam ser, por exemplo, escolhidos e retirados das estantes pelos próprios usuários, o movimento de procura pelas instituiçoes do município aumentou em 40%. No ano passado, 550 mil pessoas visitaram bibliotecas para consultar o acervo, pegar livros emprestado ou participar de eventos culturais. Mais da metade é de habituês, segundo Vera Mangas.

Débora, por exemplo, que desprezou uma vaga de Contabilidade na universidade pública ano passado, preferiu, aos cursinhos pré-vestibulares, a biblioteca como fonte exclusiva de estudos preparatórios para as provas das universidades públicas e dos institutos militares (IME e ITA) para o curso de Engenharia. "Os editais serviram de base para que eu montasse a bibliografia", explica a estudante que, de olho nos testes de conhecimentos gerais dos vestibulares, leu Violência: Brasil Cruel sem Maquiagem, de Hélio Bicudo. Na última sexta-feira, mesmo debaixo de chuva pesada, ela saiu de casa para pegar na Biblioteca Popular Machado de Assis um exemplar do best-seller Inteligência Emocional, de Daniel Goleman, para ler no final de semana.




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