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Semasa e Prefeitura divergem sobre catadores
Illenia Negrin e
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
23/07/2004 | 22:33
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   A Prefeitura de Santo André e o Semasa (Saneamento Básico de Santo André) não se entendem quando o assunto são os catadores de lixo.

De acordo com o diretor do Departamento de Geração de Trabalho e Renda, Antonio Carlos Schifino, o trabalho dos carrinheiros não pode ser cerceado. Para ele, é necessária a criação de políticas que incluam esses profissionais ao processo produtivo. “O catador não é o vilão da história. Ele dá duro pelas ruas da cidade para sobreviver de forma digna. Se todo o lixo da cidade fosse reciclado, teríamos material reciclado de sobra”, afirmou o diretor.

A declaração de Schifino vai na contramão do que foi afirmado pelo diretor do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa, Pedro Milani, na quinta. A autarquia diminuiu a coleta seletiva de porta em porta na região do bairro Santa Terezinha para impedir que catadores roubassem o lixo separado pelos moradores. Foram instaladas lixeiras em 16 pontos do bairro e agora os caminhões da coleta de recicláveis passam só um dia por semana.

Ao Diário, Milani justificou a iniciativa dizendo que a ação dos catadores é “informal” e prejudica o desempenho das duas cooperativas instaladas no aterro da Cidade São Jorge. “A maioria dos catadores usa o dinheiro da coleta para o consumo de drogas”, afirmou ele em reportagem publicada na edição de sexta.

O Semasa tem autonomia financeira e administrativa para atuar como gestor ambiental em Santo André. As políticas devem estar em consonância com as diretrizes da Prefeitura, já que ambas são parceiras. Segundo Schifino, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Ação Regional vai investir R$ 3 milhões na criação de oito postos de coleta, triagem e comercialização de recicláveis. “Metade do dinheiro é um convênio com o BNDES, e a contrapartida é da Prefeitura. Estamos terminando o levantamento de todos os carrinheiros que atuam na cidade. Queremos criar uma infra-estrutura capaz de absorvê-los e dar chance para que trabalhem melhor. Cooperando entre si e não competindo”, disse o diretor. Segundo ele, as estações devem estar funcionando no início do ano que vem.

Renda – “Trabalhei em cooperativa, mas não vale a pena. Consigo mais dinheiro se fizer a coleta por conta”. A afirmação é de Atanael Ferreira de Souza, 42 anos, dez deles percorrendo as ruas de São Bernardo e Santo André em busca de lixo para vender e sustentar a família (três adultos e três crianças).

Souza conta que foi um dos primeiros a aderir às cooperativas quando o programa de coleta seletiva foi implantado na cidade. “Cheguei a presidir um grupo, mas desisti quando comecei a ganhar R$ 20 por dia.” Trabalhando sozinho, Souza consegue chegar a R$ 60 por dia. “A diferença é que agora tenho de concorrer com a Prefeitura. Corro mais porque preciso chegar no ponto de coleta antes dos caminhões”, afirmou o catador

Rogério Ribeiro Cavalcanti, 23 anos, é outro exemplo de catador que passa longe das cooperativas. “Não vale a pena porque a gente ganha menos.” Assim como Souza, o jovem – que sustenta mulher e dois filhos pequenos – afirma que dribla de segunda a sexta-feira a coleta seletiva da cidade. “O que me salva é que, em alguns lugares, consegui freguesia. O pessoal guarda o lixo para mim.”

Por dia, os carrinheiros percorrem quilômetros em busca de quilos de lixo. O trabalho fora das cooperativas vai de sol a sol e depende de muita força física. “Na semana que preciso de mais dinheiro saio de casa mais cedo.”




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