Moradores do Santa Elizabeth pedem aumento de auxílio-moradia e garantia de que serão beneficiados com unidade habitacional prometida
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Matéria atualizada às 18h59
Em meio a pilhas de entulho, 12 famílias do Núcleo Santa Elizabeth, na Vila Nogueira, em Diadema, resistem às tentativas de despejo e demolição de seus imóveis por parte da Prefeitura. Ocupado pela primeira vez na década de 1980, o local, que fica em uma área pública, é habitado por pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que enfrentam, desde junho deste ano, investidas do Paço para desocupar o espaço.
Cerca de 20 famílias já deixaram o núcleo e recebem atualmente auxílio-moradia de R$ 420. Segundo afirmam os moradores que ainda residem na área, eles não são contrários à desocupação – porém pedem aumento do benefício habitacional, que seria incompatível com o mercado imobiliário. Também pedem garantia contratual de que serão contemplados com unidades habitacionais prometidas pelo Paço.
De acordo com informações do site da Prefeitura, a secretaria municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano teria retomado em junho deste ano o processo de urbanização do núcleo habitacional Santa Elizabeth. Conforme descreve a administração, as intervenções fazem parte do contrato assinado entre a Prefeitura e o governo federal em 2009, por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
“A urbanização do núcleo Santa Elizabeth prevê a remoção de 72 unidades habitacionais, devido à situação de risco de deslizamentos e precariedade da infraestrutura e a construção de outras 250 novas unidades. Todas as famílias removidas têm a garantia de atendimento com uma nova unidade habitacional”, prometeu o Paço na época.
O líder comunitário Severino José da Silva, 54 anos, que vive desde 1995 no núcleo com a família, a esposa e três filhos, disse que um grupo de moradores apresentou neste ano uma proposta para a secretaria de Habitação de Diadema com as demandas. Porém, segundo ele, a Pasta não teria considerado a sugestão.
“O prefeito de Diadema (José de Filippi Júnior) veio aqui na terça-feira (22). Ele prometeu que depois da eleição, ganhando ou perdendo, irá voltar a conversar com a gente e todos devem sair daqui. Como vamos sair e pagar um aluguel com R$ 420? É impossível sobreviver com esse valor em Diadema. Além disso, as pessoas que saíram não têm garantia nenhuma de que serão contempladas com a unidade habitacional. Não entregaram nenhum documento, nem nada”, afirmou o líder comunitário.
O operador de máquina, Juarez João da Silva, 47, que mora há 16 anos no local, falou que equipes da Prefeitura intimaram os moradores a deixarem suas casas. “Eles vinham todos os dias, falavam que tínhamos 30 dias para sair, ficavam ameaçando as pessoas. Muitas famílias não aguentaram e foram embora por conta da extrema pressão. Pagamos pelas nossas casas. E o dinheiro que investimentos nos imóveis? Na construção? Não tem como simplesmente abandonar e deixar que destruam tudo que construímos durante uma vida”, lamentou.
O advogado Luis Fernando Lopes de Oliveira, que representa um grupo de moradores do núcleo habitacional, ingressou na Justiça com pedido de indenização às famílias, aumento do auxílio-moradia e garantia de que as pessoas serão contempladas com as unidades habitacionais.
“A Prefeitura diz no processo que é demolição de imóveis, e informo para o juiz que é desapropriação, e com isso a administração tem que indenizar o proprietário da moradia. O Paço recorre e diz que o termo utilizado é demolição, para não indenizar as pessoas, mas está usando a força da GCM (Guarda Civil Municipal) para retirar as famílias”, reforçou Oliveira.
Segue nota na íntegra enviada pela Prefeitura de Diadema sobre o caso:
“A assessoria de imprensa da Prefeitura de Diadema esclarece que o núcleo Santa Elizabeth é uma área pública, desapropriada para fins de habitação social e construção de escolas, na década de 1990. Passou por três processos de congelamento/selamento (identificação das famílias e fiscalização para que a ocupação não se expandisse), em 2011, 2013 e 2023. Os registros apontam que 30 famílias estão na área desde a 1ª selagem em 2011; 22 famílias se instalaram depois de 2011; e 12 famílias depois de 2013.
O projeto de urbanização do núcleo Santa Elizabeth, com a construção de unidades habitacionais, foi pactuado por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em 2011, mas o projeto passou vários anos parados a partir de 2013, quando entrou a gestão anterior. Quando a atual gestão assumiu, a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano buscou repactuar o contrato com o Ministério das Cidades.
A partir da data da assinatura do contrato original a Municipalidade passou a monitorar a área, e em 2011, realizou o primeiro congelamento/selagem da área onde já estava pacificada a necessidade de remoções, primeiramente por conta dos riscos. Nesta mesma época, por causa das ocupações irregulares em cima do gabião e da área próxima ao talude, houve um deslizamento, com a imediata remoção de 21 famílias para o auxílio moradia, as quais encontram-se até hoje aguardando a produção das unidades habitacionais.
Em 2013, foi realizado o segundo congelamento/selagem da área, e em 2023 considerando a retomada do Programa Minha Casa, Minha Vida foi realizado o terceiro/congelamento a área. A ação envolve o processo de urbanização com a regularização fundiária beneficiando 126 famílias, e a ação de produção de unidades habitacionais que beneficiarão 129 famílias.
Entre todas as famílias do núcleo, apenas nove não aceitaram ser incluídas no auxílio moradia e permanecem na área. Importante salientar que é uma exigência do Ministério das Cidades, para liberação de recursos, que a área onde as unidades habitacionais serão construídas esteja totalmente desocupada. A Prefeitura segue dialogando com essas famílias remanescentes”.
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