Projeto da associação Ecolmeia visa que comunidades indígenas aprendam a atrair abelhas sem ferrão para consumir e vender a produção
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As aldeias Brilho do Sol, Guyrapaju e Krukutu, localizadas no pós-Balsa de São Bernardo e no entorno da Represa Billings, foram contempladas a participar do projeto Colmeias Urbanas, promovido pela ONG (Organização Não Governamental) Ecolmeia. A iniciativa visa instalar caixas de madeira com spray feito de própolis e álcool para que os moradores consigam atrair abelhas jataí (sem ferrão), reconhecidas por serem dóceis e de fácil manejo.
Além dos benefícios sustentáveis, os objetivos da nova produção de mel são gerar mais uma possibilidade de alimentação para as comunidades e prover uma nova fonte de renda com esse recurso. A atividade envolve, no total, 116 famílias.
A fundadora e diretora-executiva da Ecolmeia, Elaine Santos, explica que esse é um trabalho socioambiental, com estudo de espécies nativas para implementação de meliponário (coleção de colmeias de abelhas sem ferrão). Cada aldeia recebeu inicialmente duas caixas. A ampliação acontecerá a partir do interesse dos moradores e da análise da ONG mediante a habilidade e resultados das comunidades nos cultivos da jataí. A expectativa é que os primeiros enxames comecem em outubro.
“O mel de jataí é um dos mais valiosos, porque ele é produzido em pouca quantidade. A Ecolmeia é uma organização de São Bernardo fundada em 2009 e tem vários projetos. A Basf abriu o edital Conectar para Transformar para 2024 e apresentamos essa ação. Com a aprovação, algumas pessoas passaram por cursos para aprender como instalar as caixas e ensinar os indígenas.”
De acordo com ela, a ONG leva um oficineiro para a aldeia e fornece madeira serrada para montar as caixas. Depois, os moradores treinam como criar o spray atrativo. “É como se fosse um perfume para chamar essas abelhas. Como elas gostam de calor, esperamos atrair mais a partir do mês que vem. Ao todo, seis já foram montadas.”
DISSEMINADORES
Ivani Reimi Koyam Souza, fundadora da Apinan (Associação Protetora: Indígenas, Natureza, Animais e Necessitados), é uma das pessoas que receberam capacitação para lidar com o meliponário.
“Agora, com a chegada da primavera, teremos mais flores e conseguiremos capturar as abelhas sem ferrão. Na Brilho do Sol, eles já tinham um tronco com uma colmeia de jataí. Então, o processo está mais avançado, porque conseguiram transferir algumas para uma caixinha. A princípio, é para ajudar o meio ambiente e ser usado para consumo próprio. Futuramente, eles podem vender esse mel para outros lugares.”
Ivani detalha que o projeto contempla 18 famílias da Brilho do Sol, 28 da Guyrapaju e 70 da Krukutu. “Faz oito anos que nós, da Apinan, trabalhamos com as aldeias indígenas. Já implementamos minhocário, conseguimos fornecer mudas e doações de alimentos e rações. Quando soube do projeto das abelhas sem ferrão me interessei muito. Acho que foi uma coisa espiritual. Terminei as aulas em junho e começamos a trazer as caixas em agosto. Estou animada para ver os resultados.”
Segundo a Basf, que financia o projeto, as oficinas incluíram a preparação de alimentação para as abelhas, “com bombons nutritivos de pólen para reforço alimentar durante o frio e ensinamentos sobre a montagem de iscas para captura de abelhas sem ferrão”.
IMPRESSÕES
José Karaí, 51 anos, é responsável pelo cuidado das abelhas com e sem ferrão na aldeia Brilho do Sol. “Estou esperando juntar mais favos das jataís. Não sei quanto tempo vai demorar. Estamos fazendo com calma. Se estiver chovendo muito, por exemplo, elas trabalham pouco.”
Para o pajé Laurindo Tupã Mirim, 76, da Brilho do Sol, essa oportunidade veio em boa hora. “Vão nos dar orientação e vamos aprender a lidar melhor com elas. Eu nunca criei abelhas, mas já vi muita gente fazer. Eu tinha um tio que possuía 400 cascos de abelha. Depois que ele morreu, essa tradição de cuidar de várias acabou. Aqui é um ótimo lugar para isso, porque deixamos as caixinhas na sombra e esses bichinhos gostam de ser criados no meio do mato. Vai ser bom.”
Na Guyrapaju, o cacique Gilmar Nhamandu, 35, destaca o poder medicinal do mel ao comentar sobre o projeto.
“A gente já improvisava com alguns materiais, como tábuas, para atrair abelhas. Possuímos alguns conhecimentos medicinais e sabemos que o mel ajuda na tosse. Também temos bastante limão aqui. Então, se não for pneumonia, bronquite, conseguimos juntar e fazer chá para quem mais precisa. O mel produzido naturalmente é bem melhor do que aquele encontrado no mercado”, diz. “No momento, estamos só na experiência para juntar o nosso conhecimento indígena com ‘jurua’, que a gente fala que é o ‘não-indígena’. Unir os dois faz com que possamos produzir as coisas com mais facilidade.”
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