É notória a vida que leva um professor em sala de aula neste nosso imenso rincão. Não cabe, logicamente, citar aqui outros rincões, embora desconfie do intelecto minguado de outras partes, tendo em vista o avanço de uma ala política que prega o retrocesso intelectual mundo afora.
Mas é este o solo sobre o qual caminho há décadas, o lugar onde cresci em maturidade e profissionalismo, sobretudo, no seio escolar. Coro calejado mesmo, de dar inveja, é este que peleja na construção diária do conhecimento daquele ser de alma ainda verde, carente, pois, de uma mão que o ensine a caminhar pelo chão cada vez mais espinhoso desta vida. E é justamente por isso que, volta e meia, utilizo este espaço para dividir com alguém um desabafo a respeito dela, da educação, tema sempre em pauta, que, diga-se de passagem, tem tornado robusta a hipocrisia política em todo o território nacional.
E, porque dela se faz a prosperidade de um país, com direito a justiça social e tudo, é que mais uma vez me debruço sobre este atraente papel em branco para nele pincelar mais algumas ideias a respeito do assunto. Vã tentativa, dirão alguns. Mas necessária, insisto eu.
Aliás, o que me levou a buscar novamente a palavra, minha dileta ferramenta de luta, para debater a questão foi uma conversa que tive, há pouco, com duas professoras, amigas de longa data, que se desdobram todos os dias em busca de um meio que faça despertar na garotada um fiapo que seja de interesse pelo crescimento intelectual, sem o que está fadada ao fracasso de uma vida inteira, constatado e sentido, quase sempre, ao final dela, quando o tempo se esvai pelo vão dos dedos. Artigos caros demais que se tornam, então, os dias e as horas.
Entretanto, em tempos de internet, pouca ou nenhuma importância se dá para a proposta do quadro docente, trabalho, muitas vezes, concebido e executado no aconchego do lar e oferecido ao aluno, lá, no templo erigido, a princípio, para o culto ao conhecimento, mas que, aos poucos, vem se tornando um parque dedicado somente aos encontros sociais.
E o desalento toma conta daquele que se arma de entusiasmo, ideias e recursos obtidos aqui e ali, para ver nascer no jovem uma chama, por menor que seja de interesse pelas palavras, de fato inteligentes, que o conduza a uma deliciosa viagem pelas páginas de um livro, pelo ensinamento que livre este jovem da superficialidade das ideias e o leve a pensar com profundidade acerca do universo que o cerca. O desalento é, pois, fruto desses trabalhos perdidos em meio ao descaso reinante num mundo em que as futilidades ganham cada vez mais espaço na mente das pessoas, levando-as à cegueira política, a mesma que conduz o planeta à barbárie.
Mesmo assim, é bom pensar que ainda contamos com a presença da garotada em sala de aula, o que teima em nos fazer sonhar com uma palavra, uma leitura comentada, uma atividade, um estalo, qualquer movimento que possa despertá-los da letargia e voltar o seu olhar para algo que os liberte dessa vida enfadonha, que vem empobrecendo a mente humana que criou e desenvolveu a tecnologia que criou a era digital que deu origem à internet, em cujo seio nasceram as redes sociais, palco onde se desenrola o drama da pobreza intelectual ora vigente.
Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.
É professor e autor do blog cafeecronicas.com
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