Após a região registrar 24 óbitos durante o Maio Amarelo, maior marca desde 2015, ‘Diário’ ouviu nomes ligados à área sobre soluções
Apesar de ser marcado como uma época de conscientização no trânsito, o Maio Amarelo no Grande ABC registrou 24 óbitos, empatando com o mesmo período de 2015, ano de início da série histórica. Especialistas em trânsito destacam a necessidade urgente de reformas no Código de Trânsito Brasileiro e de uma fiscalização mais rigorosa como medidas essenciais para reduzir acidentes e salvar vidas nas vias da região.
Segundo dados do InfoSiga, sistema de monitoramento do governo estadual gerenciado pelo Detran-SP (Departamento de Trânsito de São Paulo), a marca de mortes também supera a dos meses anteriores de 2024, que, para comparação, tinha o mês de abril como o mais letal, com 18. O mês de maio também foi o que teve mais casos de acidentes na região, com 730, superando março, com 710 sinistros.
Para o professor da FECFAU-Unicamp (Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas), Creso de Franco Peixoto, apesar do alto índice, os números não sinalizam uma campanha ineficaz. “Nesse mês em que isso aconteceu, houve alguma mudança no Código de Trânsito? O nível de fiscalização nessa região aumentou? Você acha que a campanha muda alguma coisa no comportamento do motorista? A forma de dirigir se mantém”, avalia o professor.
Para Creso, existe a necessidade de um Código de Trânsito mais rígido e uma fiscalização eficaz para garantir sua aplicação, já que leis mais severas seriam essenciais para lidar com motoristas infratores. Em uma discussão nacional, o apelo é por reformas legislativas que reflitam uma abordagem mais científica baseada em estatísticas globais e experiências passadas no País. As propostas incluem destinar receitas de multas para campanhas de fiscalização e estabelecer transparência sobre como esses fundos são utilizados para melhorar o trânsito.
Para José Montal, da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, o crescimento econômico reflete diretamente no aumento do tráfego e, consequentemente, dos acidentes. Assim como Creso, ele defende uma maior fiscalização e punição aos maus condutores. O especialista avalia que as infrações relacionadas ao Código de Trânsito são como o prenúncio do acidente e afirma que quem costuma desrespeitar as leis de trânsito é um “perigo social”. Apesar da maioria dos acidentes ocorrer com adultos, ele defende as campanhas voltadas para o público infantil usadas na região.
“Todos os países que conseguiram reduções visíveis na mortalidade no trânsito trabalham com as crianças desde os 7 anos. As crianças são as melhores para aprender e para ensinar”, explica Montal. “E, por outro lado, como elas ainda não têm a experiência de conviver com riscos, ensinar a elas é fundamental até para sobreviverem nessa barbárie que é o trânsito motorizado.”
Regis Frigeri, observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária, diz incentivar ações voltadas ao público infanto-juvenil, uma vez que eles se posicionam e cobram os mais velhos por um comportamento seguro e por boas atitudes. “Sabemos que essas crianças representam o futuro do trânsito brasileiro”, destaca.
Concessionárias detalham ações para diminuição dos sinistros
Responsáveis por 25% das mortes no Maio Amarelo (6), as concessionárias que administram rodovias do Grande ABC afirmam que estão implementando ações para melhorar a segurança no trânsito e reduzir acidentes. Durante o Maio Amarelo, a SPMar, que coordena os trechos Sul e Leste do Rodoanel Mário Covas, utilizou simuladores para conscientizar motoristas e ciclistas sobre os perigos da estrada, incluindo um de embriaguez, que mostrou os riscos de dirigir sob efeito de álcool.
Em parceria com a Polícia Rodoviária, a Operação Hércules foi realizada na Praça de Pedágio de Mauá para fiscalizar irregularidades em motocicletas. A SPMar diz que também mantém ações educativas e de fiscalização ao longo do ano, usando tecnologias como óculos virtuais e os próprios simuladores, além de mensagens educativas exibidas em painéis ao longo do Rodoanel.
A Ecovias, responsável pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), diz manter o PRA (Programa de Redução de Acidentes), com equipes técnicas que analisam ocorrências e propõem melhorias, incluindo obras de infraestrutura como instalação de barreiras rígidas e luminárias de LED. A concessionária ainda afirma que realiza campanhas de conscientização, especialmente durante o Maio Amarelo, e a Semana Nacional do Trânsito.
O DER (Departamento de Estradas de Rodagem) adotou a metodologia iRAP (Programa Internacional de Avaliação Rodoviária) durante o Maio Amarelo para avaliar a segurança das rodovias. Parcerias com Google Cloud e Waze for Cities melhoraram o monitoramento em tempo real, segundo o órgão. O DER informa que está adquirindo novos equipamentos de fiscalização e investe em conservação de rodovias. Campanhas educativas são realizadas ao longo do ano, e o projeto DER na Escola busca conscientizar crianças sobre segurança.
Prefeituras da região apostam em fiscalização e ações educacionais
As prefeituras do Grande ABC também afirmam que estão promovendo diversas ações para melhorar a segurança no trânsito. Em Santo André, a Secretaria de Mobilidade Urbana realizou blitzes educativas, cursos de direção defensiva e lançou o Plano para Mobilidade Segura e Inclusiva. A cidade inaugurou 5 km de Faixa Azul de Motos e reforçou a sinalização. Diadema treinou novos agentes da GCM (Guarda Civil Municipal) para reforçar a fiscalização.
Ribeirão Pires realizou ações educativas nas escolas, melhorias na sinalização e a Operação Visibilidade para inibir infrações, projeto que passa a ser realizado permanentemente. A cidade também adquiriu novos veículos para reforçar a fiscalização. Em Rio Grande da Serra, agentes de trânsito realizaram intervenções para conscientização, instalaram novos semáforos e revitalizaram a sinalização. Essas iniciativas visam reduzir acidentes e promover um trânsito mais seguro e eficiente.
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