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Hospital Nardini mantém funcionários sem registro
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
12/06/2010 | 07:21
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A expectativa de que as deficiências estruturais do Hospital Doutor Radamés Nardini, em Mauá, começariam ser minimizadas com a entrada da Fundação do ABC ainda não se concretizou, sobretudo para os funcionários. Auxiliares e técnicos de enfermagem reclamam que estão trabalhando sem registro e em excesso para compensar a falta de pessoal.

O gerenciamento do hospital foi assumido pela entidade em 1° de março. De propriedade da Prefeitura de Mauá, o Nardini atravessa problemas administrativos e de atendimento ao público há quase dois anos.

Os funcionários do lugar reclamam que a Fundação do ABC havia prometido formalizar o emprego dos auxiliares e técnicos de enfermagem em até um mês após o início dos trabalhos da nova equipe administrativa. Até agora não cumpriram.

Nem mesmo vale-transporte e vale-refeição estariam sendo pagos. Segundo um funcionário, a ausência do benefício faz com que colegas deixem de fazer as refeições e se desgastem em viagens a pé no trajeto de casa para o trabalho.

O receio da categoria é de que a falta do registro deixe desamparado quem necessitar reivindicar direitos trabalhistas em caso de doença, por exemplo. O temor é justificado por causa dos riscos de contaminação submetidos pelos profissionais, que lidam diretamente com pacientes vítimas de meningite, tuberculose e outros males.

Um integrante do quadro do Hospital Nardini, que pediu para não ser identificado, estimou em pouco mais de 100 o número de auxiliares e técnicos de enfermagem, que se revezam em quatro turnos. "A Fundação não contratou mais ninguém. A situação está obrigando cada profissional a trabalhar por outros dois ou três. Em dias críticos, um auxiliar fica responsável por até 20 pacientes", reclamou outro funcionário.

Para a vice-presidente do Coren (Conselho Regional de Enfermagem) de São Paulo, Cleide Mazuela Canazevi, o principal risco gerado pelo número insuficiente de pessoal é a possibilidade de erros. "Uma medicação errada, um procedimento qualquer sendo feito de forma indevida, uma queimadura em um recém-nascido. A comunidade, que deveria ter direito a assistência segura está sujeita a isso", comentou.

O contrato da Fundação do ABC com a Prefeitura de Mauá, celebrado no fim de fevereiro, prevê o gerenciamento da unidade por R$ 4 milhões mensais. A entidade recebeu também R$ 200 mil para executar reformas emergências nos prédios, que ainda estão em curso segundo funcionário.

Precariedade continua - No segundo semestre de 2008, quando a crise de atendimento atingiu seu ponto máximo, os problemas que eram apenas pontuais, se tornaram regra. Todos os dias, a população que procurava socorro médico na unidade era obrigada a aguardar por horas. O problema era ampliado pela precariedade das instalações, sem conforto para quem espera atendimento.

Quando, enfim, recebia auxílio, o paciente era ainda submetido a tratamento incompleto devido a ausência de remédios e outros suprimentos básicos - em falta pela quebra de contrato da Prefeitura com empresa fornecedora. O desabastecimento teria terminado, segundo funcionários. Mas, o atendimento continua ruim, embora esteja mais breve do que quando a crise estourou.

Problemas existem desde a construção

O Hospital Doutor Radamés Nardini, em Mauá, convive com problemas administrativos há tempos. Se a precariedade no atendimento atingiu o maior nível só em 2008, as incertezas sobre as condições da unidade pairam desde que o prédio começou a ser construído, na década de 1980.

Financiado com recursos da Caixa Econômica Federal, logo no início de sua história o hospital ficou sem funcionar plenamente por não haver pagamento aos fornecedores e ao banco.

Em 1985, o governo do Estado entrou com ação, assumiu o gerenciamento e transformou a unidade em referência, para atendimento não só da população de Mauá, mas também para moradores de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

No ano seguinte, o pronto-socorro entrou em funcionamento. Em 1987, os setores de internação e a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) começaram a receber pacientes . A mudança definitiva viria três anos depois.

Em 1990, o Hospital Nardini foi municipalizado, passando das mãos da secretaria de Estado da Saúde para a Prefeitura de Mauá.

No decorrer dos anos, a unidade passou a apresentar problemas e virou alvo dos conselhos nacionais de Medicina e Enfermagem, e do Ministério Público, que ingressou ações civis para correção das irregularidades.

No segundo semestre de 2008, a empresa que distribuía os suprimentos médico-hospitalares para o hospital rompeu contrato com a administração municipal por falta de pagamento.
O desabastecimento de remédios e outros materiais agravou a crise, intensificada pela falta de profissionais e pela demora no atendimento da população, que passou a esperar horas e horas na fila até conseguir ver um médico.

Para tentar colocar fim aos problemas, em junho de 2009, a Câmara de Mauá aprovou a proposta de terceirização da unidade de Saúde. Em 1° de março, com a tarefa de solucionar os problemas, a Fundação do ABC assumiu o hospital.

Nova gestão faz balanço de 100 dias hoje

A Fundação do ABC realiza hoje, a partir das 10h, evento na sede da entidade, em Santo André, em que reinaugura o Complexo Poliesportivo da Faculdade de Medicina e faz balanço dos 100 dias da nova gestão - biênio 2010-2011.

A área para esportes, apresentada hoje, ganhou duas quadras cobertas, vestiários e espaço de convivência com churrasqueira, antiga reivindicação de alunos, professores e funcionários da Faculdade de Medicina.

Além da instituição de ensino universitário, a Fundação é mantenedora de nove hospitais no Grande ABC e Litoral, além da Central de Convênios. São mais de 7.000 funcionários e orçamento superior a R$ 700 milhões.

Em Santo André, a Fundação administra o Hospital da Mulher e presta assistência no CHM (Centro Hospitalar Municipal), no Centro de Saúde-Escola de Capuava, e em serviços de saúde mental, de emergência e controle de vetores.

Ainda em 2010, a entidade deverá assumir o Poupatempo da Saúde, que terá uma unidade do AME (Ambulatório Médico de Especialidades), em parceria com o governo do Estado. Também participará da licitação para gerir o futuro Hospital do Idoso do município.

 




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