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Paciente com transtorno mental realiza sonho de conhecer Rio de Janeiro

Aos 69 anos, morador de casa terapêutica de Santo André viajou pela primeira vez de avião e passeou pela ‘Cidade Maravilhosa’

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
03/12/2022 | 09:01
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Foto: Arquivo pessoal


Conhecer a famosa praia de Copacabana ou vislumbrar as paisagens do Rio de Janeiro pelo alto do Cristo Redentor parece um desejo possível para muita gente, porém, a realização desse sonho foi renegada por anos para Odair Suares da Silva, por conta do seu transtorno mental. 

Somente aos 69 anos que o morador da Residência Terapêutica Espanha, localizada no Parque das Nações, em Santo André, teve o seu desejo atendido. Com um roteiro planejado por meses, o idoso que tem esquizofrenia e mal de Parkinson, aproveitou por dois dias a Capital Fluminense, também conhecida como “Cidade Maravilhosa”. 

A iniciativa faz parte da premissa do serviço terapêutico que é devolver autonomia, liberdade e cidadania aos pacientes com transtornos mentais, em sua maioria, egressos de hospitais psiquiátricos. 

A viagem ocorreu nos dias 22 e 23 de novembro e o paciente foi acompanhado pela integrante da coordenação das residências terapêuticas de Santo André Maria Aparecida Nardini da Silva e o psicólogo do Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e referenciado na residência Espanha, Allan Martins Santos.

Em apenas 48 horas, os três conheceram diversos pontos turísticos como Cristo Redendor, Pão de Açúcar, praia de Copacabana, feira de artesanato de São Gonçalo e a tradicional escadaria Selarón.

“Realizei um sonho. Conheci o Rio de Janeiro e viajei de avião. Fomos no bondinho, no Cristo Redendor. Achei exuberante”, conta orgulhoso Odair, que ainda revela o que mais gostou do passeio. “Gostei muito da pizza que comemos, essa foi a melhor parte”, diz sorridente. 

Todos os desejos do paciente foram atendidos durante a viagem, inclusive os gastronômicos. Pizza, sorvete, coxinha, café da manhã especial e água de coco estavam entre os pedidos. 

“A experiência foi muito gratificante. Não é fácil, porém, é possível. Quando você sai com uma pessoa portadora de um transtorno mental grave surgem diversas dúvidas. Será que vai dar certo? Como ele vai se comportar? Porque nunca sabemos o momento em que pode ocorrer uma crise. Porém, tudo ocorreu melhor que o esperado. Ele se divertiu muito e voltou encantado. Reabilitação social é isso, é viver novas experiências, é estar no mundo”, conta a acompanhante da viagem, Maria Aparecida. 

O planejamento para realização do passeio até ao Rio começou durante a construção do PTS (Projeto Terapêutico Singular) ou plano de vida de Odair, como afirma o psicólogo Allan Martins Santos. 

“Esses projetos são realizados com os moradores e buscam atender integralmente o desejo de cada um, seja para realização de uma simples caminhada ou até de uma viagem. Tudo que eles trazem tentamos articular a possibilidade, mas a iniciativa parte exclusivamente deles. Eles são os agentes promotores da ação”, destaca o profissional. 

No total, Odair pagou R$ 3.500 para viagem, entre passagem de avião, hospedagem para três pessoas (ele e os dois acompanhantes), alimentação e passeio (gastos individuais). O paciente é aposentado e o seu dinheiro é administrado por um advogado – ele utiliza mensalmente o benefício para comprar roupas e outros objetos. 

RETORNO

Durante a viagem, Odair fez questão de comprar lembranças do Rio para os funcionários da equipe de coordenação do serviço terapêutico, para seu advogado e também para as cuidadoras que atuam na residência. 

“Ele estava muito ansioso antes da viagem, fez até contagem regressiva dos dias. Foi comprar roupa nova, mochila, protetor solar e tudo que precisava para ir tranquilo. A alegria estava estampada em seu rosto quando voltou. Contou os detalhes para gente e já está programando a próxima aventura”, fala a cuidadora Vera Lucia Rodrigues Brito, 59, que atua há mais de 10 anos nas casas terapêuticas do município andreense. 

“Para o próximo ano ele já sinalizou que quer ir ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (em Aparecida). Odair é um homem religioso e vai sempre sozinho à Igreja Matriz. Vamos acrescentar esse desejo no seu PTS e iniciar a programação”, finaliza a funcionária da coordenação.




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