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'A gente precisa discutir o emprego do futuro na região'

Reeleito com quase 200 mil votos para o terceiro mandato, o deputado federal Alex Manente (Cidadania) integra comitiva de parlamentares que embarcou para conhecer as principais empresas de tecnologia do Vale do Silício, nos Estados Unidos

Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
14/11/2022 | 08:52
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Claudinei Plaza/DGABC


Reeleito com quase 200 mil votos para o terceiro mandato, o deputado federal Alex Manente (Cidadania) entende que, após uma eleição extremamente polarizada, cabe agora ao presidente eleito unificar o País. Para ele, Lula deve enxergar brasileiros e não bolsonaristas e lulistas. Com olho no futuro, Alex diz que vai trabalhar pela reforma tributária e ajudar a preparar o País para o emprego do futuro, o que pode beneficiar o Grande ABC. O deputado integra comitiva de parlamentares que embarcou neste domingo (13) para conhecer as principais empresas de tecnologia do Vale do Silício, nos Estados Unidos, justamente onde estão os empregos do futuro.

Na sua avaliação, como o Brasil sai dessa eleição?

Nós temos que ressaltar que foi uma eleição com muita participação da sociedade. A população participou e escolheu um dos dois candidatos de maneira intensa. Nós temos de tirar bom proveito disso na questão democrática, na participação popular, mas temos de pregar o respeito da vontade soberana da sociedade, que foi a vitória do Lula, e fazer com que os desafios que foram colocados durante o processo eleitoral sejam cumpridos nos próximos quatro anos. Essa é a missão que nós temos, além de contribuir para o amadurecimento da democracia. Eu entendo como positivo a presença do eleitor nas urnas e agora temos de pensar no Brasil, dar todas as condições para que o País possa evoluir nos próximos quatro anos.

De quem é a responsabilidade de unir o País?

Em primeiro lugar, é do próprio presidente eleito, que tem a missão de governar para todos e não só para um setor da sociedade. Ele será cobrado por isso. Espero que ele tenha enxergado nessa eleição a divisão que existe no Brasil de posições ideológicas e possa fazer um governo equilibrado. Eu, pessoalmente, acho que nosso papel, o da federação PSDB-Cidadania e dos partidos do centro democrático, é ajudar nessa união porque nós somos ponte entre os dois lados. Essa ponte precisa estar muito bem estruturada, porque agora temos um novo presidente que irá ouvir toda a sociedade e não apenas seu segmento. Eu não enxergo bolsonaristas e lulistas. Eu enxergo brasileiros. E é assim que o presidente da República precisa pensar.

Como fica o futuro da federação PSDB-Cidadania após essa eleição?

Temos de avaliar de maneira bem ampla. Se olharmos do ponto de vista legislativo, sofremos uma queda, em virtude da própria polarização nacional. O eleitor tende a voltar de maneira conjunta, com seu candidato a presidente e os que estão vinculados a ele. Nós sofremos com isso durante o processo eleitoral, mas tivemos grandes vitórias que irão impactar no futuro de nosso País. Na minha opinião, tivemos duas candidaturas a governador que simbolizam o futuro da federação, que são Eduardo Leite (do PSDB, governador do Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (do PSDB, governadora de Pernambuco). São jovens que apresentaram propostas. Foram bem recepcionados pela sociedade e no segundo turno se mantiveram neutros sobre a escolha para presidente. E isso é um símbolo muito importante. A partir de agora, nosso trabalho será de ampliar a federação com partidos que têm o mesmo conjunto de ideias.

Na prática, isso significa dizer que Eduardo Leite é potencial candidato a presidente em 2026?

Ele tem todas as condições para isso. Agora reeleito, entendo que o PSDB o chamará para esta missão. E eu defendo que precisamos começar a trabalhar uma candidatura a presidente que represente esse nosso sentimento.

Com esse pensamento, é possível dizer então que a federação será oposição ao governo Lula?

Como líder do partido, tenho dito que nosso papel é de ser independente. Nós convergimos com algumas pautas do Lula e convergimos com algumas pautas do Bolsonaro. E, da mesma forma, divergimos de pautas dos dois. Vamos defender as pautas sociais que contribuam para incentivar as pessoas que vêm de uma classe social mais simples. Assim como vamos ser muito rigorosos e não permitir retrocessos nas reformas que levam o País para o futuro e na rota de investimentos globalizados. Retroagir, por exemplo, na reforma trabalhista seria um prejuízo para o Brasil. Precisamos estimular que as pessoas empreendam e busquem seus próprios negócios, porque o emprego mudou. E não vejo essa compreensão por parte do presidente Lula. Vamos apoiar o que acreditamos e defendemos e fazer oposição no que divergimos, além de exigir sempre o combate à corrupção. Presidente Lula está tendo o privilégio da população brasileira em receber a maioria dos votos, após ter enfrentado a Operação Lava Jato. Ele tem obrigação de responder a isso.

O Cidadania deve votar a favor da PEC da Transição?

Nossa tendência é votar favorável porque é algo que os dois candidatos assumiram como compromisso. Eles se comprometeram a aumentar salário mínimo, a manter essa política assistencial no patamar que está hoje e a nossa missão é colaborar para que isso ocorra. Mas tenho dito que quero conhecer a PEC para que tenhamos travas seguras e o Brasil não fique para sempre em sua história escrevendo apenas projetos de cunho puramente assistencial, sem alternativas de saída. Nossa exigência será colocar na PEC princípios para gerar oportunidades para as pessoas. Ela precisa conter essa questão do furo do teto de gastos muito específico, porque precisamos manter a Lei de Responsabilidade Fiscal. E também é necessário prever as oportunidades para melhorar o padrão de vida dos brasileiros que hoje dependem do auxílio, garantindo, assim, a porta de saída.

Como líder e tesoureiro nacional do Cidadania, o sr. tem mostrado crescimento também na direção partidária. Como tem sido essa experiência?

Quando você começa a trabalhar o partido nacionalmente, é possível ter uma visão mais ampla do Brasil. Essa foi a grande experiência que pude ter nesse ano de tesouraria e líder de bancada ao mesmo tempo, entendendo as diferenças regionais. Tenho dito por onde passo que o Grande ABC é a região menos preconceituosa do Brasil, porque recebemos pessoas de todos os lugares do Brasil de braços abertos. A gente é uma miscigenação de culturas em uma região que representa um dos maiores PIBs do Brasil. Convivendo com outras regiões, é possível perceber a importância do Grande ABC para o País. Isso tem dado a oportunidade de me aprofundar nos problemas vividos em cada região brasileira.

Falando no Grande ABC, um tema que tem causado preocupação é a questão da desindustrialização. O que um deputado federal pode fazer em Brasília para conter a saída de empesas?

Primeiramente precisamos enxergar qual é o emprego do futuro. É o desafio de todo o País, mais especialmente de uma região como o Grande ABC, que foi, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, um grande gerador de empregos para o Brasil na indústria automobilística, metalúrgica, que hoje, infelizmente, emprega muito pouco. Os números de empregados nessas indústrias caíram absurdamente nos últimos anos. Para nós termos condições de olhar para o futuro, é necessário, em primeiro lugar, estar preparado para o que vem pela frente, com uma sociedade totalmente diferenciada, com emprego totalmente diferenciado do que é hoje. A cada três crianças que estão no ensino infantil, duas delas terão seu primeiro emprego em funções que ainda não existem, ou seja, teremos um avanço tecnológico muito forte, e temos de estar preparados. Tenho dito que, ao invés de perder o emprego para a máquina que entra, temos de ganhar para a máquina que surge. É trazer a indústria, que hoje está quase que exclusivamente na China, Alemanha e nos Estados Unidos, na produção de tecnologias e máquinas, para implementar no nosso País. E o Grande ABC tem todas as condições de ser, assim como foi no setor automobilístico, a indústria da tecnologia e inovação.

E o que precisa ser feito para chegar a esse patamar?

Para isso, precisamos fazer reforma tributária. Diferente de antes, não há grandes indústrias e sim muitos empreendedores trazendo seus negócios para cá. E nós não podemos ficar cobrando imposto de produção. Enquanto a tributação for em cima de produção e não do consumo, nós vamos ter muita dificuldade de atrair esses empreendedores para produzir inovação e tecnologia no nosso País. O grande desafio inicial é termos essa reforma tributária, para que seja mais justo e que atraia esses investimentos. Precisamos defender que o Grande ABC seja esse polo. Nós temos condições de formar essa mão de obra no futuro e estar preparados para que isso possa ser aportado na região. Esse é o nosso papel no Congresso, brigar pela reforma tributária, brigar pelo emprego do futuro e fazer com que essa indústria esteja presente na região.

Como o mais votado de São Bernardo, como fica o debate em torno de 2024?

Preciso sempre ser muito grato à população de São Bernardo, que me elegeu o vereador mais votado da história, deputado estadual mais jovem da cidade e três vezes deputado federal com a maior votação da cidade. Minha gratidão é enorme. A gente precisa ter responsabilidade com o futuro de nossa cidade e tenho colaborado com o desenvolvimento de São Bernardo. Sobre eleição municipal, vamos falar em 2024. Agora preciso me concentrar em retribuir o que mais uma vez a sociedade me presentou, que é me dedicar ao mandato. Sempre digo que candidatura a prefeito é sobre a vontade das pessoas. E a gente não pode se negar a ouvir nenhuma vontade das pessoas. Quem nos conduz é a sociedade e não nossa vontade pessoal. Mas estou muito feliz como deputado federal.

O Cidadania foi o partido que teve os mais votados no Grande ABC a estadual, com Ana Carolina Serra, e a federal, com sua candidatura, somando quase 400 mil votos. O que isso representa?

Para mim, é uma alegria muito grande. Estou no mesmo partido desde os 18 anos. Ver hoje a minha região eleger Ana Carolina Serra como a deputada estadual mais votada e eu sendo o federal mais votado me enche de satisfação e dá a oportunidade de mostrar que o que fizemos no Grande ABC pode ser feito no Brasil e não apenas pelo Cidadania, mas pela federação. E esse é o nosso objetivo, de fortalecer a federação Cidadania-PSDB e fazer dela um grande instrumento de centro democrático no nosso País.




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