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Muçulmanos dos subúrbios dão vantagem a Macron no segundo turno

Eleição à presidência da França será decidida entre ele e a 'detestada' Marine Le Pen

24/04/2022 | 08:00
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Reprodução/TV


Com previsão de alta abstenção - cerca de 30% -, o segundo turno deste domingo, 24, da eleição presidencial francesa, entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen, será decidido, segundo analistas, pelos eleitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, terceiro colocado no primeiro turno, com 21,95% dos votos. Uma das cidades que votou em massa em Mélenchon foi Saint-Denis, subúrbio de Paris, majoritariamente muçulmana onde a rejeição a Le Pen é grande.

Em Saint-Denis, onde mais da metade da população é islâmica, Mélenchon teve 61% dos votos. Segundo pesquisa do Ifop para o jornal católico La Croix, Mélenchon teve 69% dos votos entre os muçulmanos - apenas 14% votaram em Macron e 7%, em Le Pen.

Le Pen é detestada pelos muçulmanos em razão de sua retórica anti-imigrante. Durante a campanha, ela prometeu banir o véu islâmico em espaços públicos, ou seja, em ruas, praças, parques e centros comerciais - o véu já é proibido em colégios, desde 2004, e em repartições públicas, desde 2010.

Para Lamyae, de 37 anos, eleitora de Mélenchon, Le Pen leva longe demais a retórica anti-Islã. "Eu uso o véu por escolha e terei de votar em Macron para impedir esta atrocidade", disse Lamyae.

"Isso vai de encontro às liberdades individuais já conquistadas pelas mulheres. É um passo atrás. O véu é signo de emancipação da mulher muçulmana. Ela quer que fiquemos em casa? Não vamos ficar. Se ela for eleita, vamos fazer um grande movimento, mesmo correndo o risco de multas e prisões", disse Sephora, de 37 anos, auxiliar administrativa, que tira o véu para entrar na escola do filho ou trabalhar. Ela também é eleitora de Mélenchon.

Sephora confirma que, na véspera do primeiro turno, alguns imãs pediram voto em Mélenchon. "Em geral, eles não se misturam com política. Mas, desta vez, o perigo estava muito perto. Infelizmente, Mélenchon não foi para o segundo turno e agora temos de fazer esta escolha absurda (entre Macron e Le Pen)", lamenta.

Abstenção

Como evidência da importância de Saint-Denis, a cidade foi o local escolhido por Macron para fazer campanha na reta final - Le Pen preferiu viajar para o norte, para perto dos caminhoneiros. Durante o debate, o presidente disse que proposta de banir o véu islâmico provocaria uma "guerra civil" na França.

Mesmo se dizendo "horrorizadas" com Le Pen, as amigas Stéphanie, de 25 anos, Sarah, de 33, e Ouiza, de 41, que votaram em Mélenchon e vivem em Saint-Denis, ainda não sabem em quem votar. São eles - os indecisos - os mais disputados na reta final da campanha, que terminou oficialmente na sexta-feira.

Segundo pesquisas, o debate favoreceu Macron, consolidando o seu favoritismo. Ele teria cerca de 15 pontos porcentuais a mais do que Le Pen (57% a 42%) - suficiente para vencer, mas bem menos do que a vitória sobre Le Pen na eleição de 2017 (66% a 33%).

O voto não é obrigatório na França e a maioria dos eleitores de Mélenchon não se sente confortável com nenhum dos dois. Segundo pesquisas, 34% dos eleitores de Mélenchon devem migrar para Macron e 18% votarão em Le Pen - 48% não votarão em ninguém.

Voto útil

Com uma taxa de pobreza de 27,9% (a média nacional é de 14,8%), segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), Seine Saint-Denis é o departamento mais pobre da França metropolitana.

A franco-brasileira Silvia Capanema, conselheira (espécie de deputada estadual) do departamento de Seine-Saint-Denis, diz que o arrocho salarial, o trabalho precarizado e a "uberização" da sociedade, agravados pelas políticas de Macron, têm levado mais e mais pessoas a se absterem de votar. "Na França, esta vai ser a última vez que o voto útil para barrar a extrema direita vai funcionar, porque as pessoas não querem mais participar deste jogo. São as classes populares que estão se abstendo. Os intelectuais e artistas que votaram em Mélenchon votarão em Macron. Mas o povo não aguenta mais", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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