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Ditadura econômica determina encenação de peça em SP
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
18/01/2001 | 19:00
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Amores e sonhos que se misturam com a miséria humana do cotidiano de uma família de classe média. É com essa matéria-prima que O Grande Amor de Nossas Vidas, de Consuelo de Castro, entra nesta sexta-feira em cartaz no Teatro Mars, em São Paulo. Orias Elias assina a direção da peça encenada pelo Grupo Epa. 

O universo dessa família da Mooca, os Galvão, implode quando o filho mais novo cai nas garras do aparelho repressivo do regime militar durante os anos 70. A família, então, dedica-se a casar a filha mais nova com um rico comerciante do bairro, que a moça odeia. O desejo da família é, em outras palavras, a ascensão social. 

A essa sinopse soma-se o tempero rodrigueano (adultério, machismo rançoso, repressão sexual, submissão feminina) que a autora inseriu na sua obra – sem, evidentemente, perder sua personalidade. Afinal, Consuelo é uma das mais contundentes dramaturgas brasileiras. 

A primeira montagem de O Grande Amor de Nossas Vidas, dirigida por Gianni Ratto, data de 1978. Já a que estréia nesta sexta, embora preserve o texto original, apresenta sutilezas que a diferenciam da primeira encenação. O trabalho de Elias, também produtor do espetáculo, sobrepõe o conteúdo social ao político. 

“Não quis fazer discurso político, acho chato. Os personagens continuam alienados, acham que comunista come criança, mas estou moldando a peça à situação atual, de ditadura econômica. A violência social se reflete no pobre oprimido pelo poder”, diz o diretor. 

“Os personagens são bem rodrigueanos e puxam para (o dramaturgo norte-americano, autor de Um Bonde Chamado Desejo e Gata em Teto de Zinco Quente) Tenesse Williams”, afirma Elias. “São personagens viscerais, intensos. Se têm uma tara, põem isso na frente, escancaram, evidenciam. É nesse sentido que são rodrigueanos”, afirma. Quanto a Williams: “As mulheres são tranqüilas na superfície, mas há um vulcão de neuroses por dentro”. 

Como exemplos, ele cita Marta, a filha mais velha, “que a família pensa ser virgem, mas que canaliza no sexo sua carência afetiva”, e Helecy, a mãe, “uma mulher fragilizada”. 

A maior influência do diretor, porém, é o cineasta espanhol Pedro Almodóvar. O clima setentista – calças boca-de-sino e frentes-únicas nos figurinos, Odair José na trilha sonora – da montagem é inspirado nos exageros, nas cores fortes de Almodóvar. “Ele não tem medo de ser cafona”, afirma Elias. “E eu não tenho medo de mostrar emoções”, completa.




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