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Cartão é tarefa de casa
Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
23/11/2006 | 22:13
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Pelo quinto ano consecutivo, a Escola Municipal de Idiomas Paulo Sérgio Fiorotti, em São Caetano, realizou o projeto Correio Itinerante. Nele, alunos adolescentes da instituição dedicam algumas horas de um dia escrevendo cartões a pedido das pessoas que passam pela rua Visconde de Inhaúma, na Vila Gerti.

Com pranchetas, canetas e cartões nas mãos, os alunos oferecem: “Você quer fazer um cartão de Natal para quem você gosta?”. E antes da recusa, completam: “É de graça”. A tática, segundo a aluna Mariana Moreto, 12, dá certo. “Na hora que a gente fala que é um serviço gratuito, as pessoas param, olham e pedem explicações”, diz. Quinta-feira foram mais de 300 cartões.

No filme Central do Brasil (1998), Dora, protagonizada por Fernanda Montenegro, escreve cartas para analfabetos. Já na rua Visconde de Inhaúma, não há restrições para escrever cartões. O Correio Itinerante surgiu em 2002, às vésperas do Dia das Mães. A empolgação dos alunos fez com que o projeto se estendesse a mais duas datas comemorativas: o Dia dos Pais e o Natal. Desde então, faz parte do calendário da escola.

Os cartões são escritos na hora pelos alunos. Basta que o interessado saiba o endereço do destinatário. A despesa com Correios fica por conta da escola. Para a atividade, a escola dedicou duas horas da tarde de quinta-feira. A divulgação foi feita através de uma faixa.

A dona-de-casa Tereza de Oliveira Lima, 52, passava pela tua e viu a faixa. Preparada, trouxe anotado em um caderno os endereços da sobrinha que mora em Detroit, nos Estados Unidos, e o da irmã, que se mudou há poucos meses para São José do Rio Pardo, interior de São Paulo.

“Acho esta iniciativa fantástica. Hoje em dia é tão raro as pessoas se darem ao trabalho de comprar um cartão, escrever e ir aos Correios e fazer uma coisa dessas. É uma demonstração de carinho”, diz a dona-de-casa.

Com os olhos cheios de água, a cearense Maria Edilamar Calda, 52, ditava a carta para a mãe Eurina, 82, que nunca saiu do Ceará. “Faz dois anos que não a vejo. Sinto muita saudade e nem sempre telefone resolve”, desabafa.

Desde que se mudou para São Caetano, há 11 anos, Maria Edilamar viajou poucas vezes para visitar a mãe. Para ela, poder escrever a carta é uma maneira de mostrar o quanto a mãe é importante. “Acho que minha mãe vai chorar quando abrir o cartão”, conta.

Para a diretora da escola, Anna Figueiredo, 68, este projeto é importante porque estimula os alunos a escreverem, desenvolve a sensibilidade social e de cidadania. “Os alunos se comovem com as histórias e sentem que podem ajudar. Por isso, este projeto é nosso carro-chefe”, termina.



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