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Juca Chaves comemora 40 anos de carreira com o show "Socorro"
Do Diário do Grande ABC
19/11/1999 | 15:31
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Ele transformou a irreverência numa profissao. Mais do que isso, numa maneira de ser. Juca Chaves, de 61 anos, apresenta-se domingo (21) e dia 28 no Bourbon Street, às 22 horas, com o show Socorro, que comemora seus 40 anos de carreira. Mais uma superproduçao de Chaves - "Eu, um banquinho e um violao", ele diz, antecipando que a fórmula do espetáculo é a mesma a que seu público está acostumado.

Já virou lugar-comum definir Chaves como "menestrel do Brasil" ou "trovador maldito". Ele conta que o apelido foi dado pelo radialista Flávio Alcaraz Gomez, uma figura mitológica do rádio no Rio Grande do Sul. "O Flávio perguntou o que eu era eu disse que menestrel e ele disse entao que eu era um menestrel maldito; a definiçao colou."

Maldito porque ao longo destes 40 anos Chaves tem conseguido conciliar duas vertentes aparentemente inconcliáveis. Canta modinhas de amor e faz sátira política. Costuma ser comparado a Gregório de Matos. Diz que é exagero. "Matos era gênio, eu nao sou." Por conta de suas estocadas em todos os governos das últimas quatro décadas, teve quase sempre problemas com a censura. Chegou a chamar um de seus shows de Depressa, Antes Que Proíbam.

Boa parte do seu público o acompanha desde o início da carreira. Mas Chaves tem certeza de que está conseguindo renovar as platéias de seus shows. "Aparece muita gente jovem; eles vêm por curiosidade, porque sabem que eu usava cabelo comprido quando isso era coisa proibida e também fui meio hippie." Acrescenta que jovem é contestador por natureza, mesmo quando lhe faltam boas causas. Mas nao é do tipo que faça da juventude uma profissao nem da velhice uma desculpa. Acha que o importante é viver todas as etapas da vida. E ir longe. "Fechei um contrato com Deus para mais 122 anos", diz.

Irreverente, contestador, sim, mas movido a caviar e champanhe. Nos anos 80, ganhou um disco de ouro (200 mil cópias) pelo disco "O Incrível Juca Chaves". Pelo mais recente, diz que vai ganhar o disco de 'ourina', mas diz de um jeito que parece urina mesmo. "Vendi oito cópias no ano passado e 16 este ano; qual é o artista brasileiro que conseguiu duplicar assim suas vendas?", ironiza.

Falar com ele é um exercício permanente de humor. Fiel ao seu mito, Chaves debocha de tudo e de todos. Nao poupa as gravadoras ("Elas impoem a mesmice ao mercado"), o governo ("FHC, com sua política de juros altos, acabou com a classe média"), nem mesmo o povo. Aliás, o povo é um dos seus alvos preferidos. Ele lamenta a falta de informaçao e cultura do brasileiro médio. "Fale com um chileno ou um argentino e, depois, com um brasileiro; a diferença é brutal." É o tipo da observaçao que, longe de indispor Chaves com seu público, faz com que as pessoas se mantenham absolutamente fiéis a ele. Costuma fazer shows para casas cheias.

Esse do Bourbon dura pouco mais de uma hora. Ele canta modinhas românticas, faz um medley das sátiras políticas. Ou seja: ataca de amor e humor. A voz é um tanto monocórdica, mas a presença de Chaves vale como compensaçao. Ele é ótimo contando piadas. Essa combinaçao de música e conversa, num estilo coloquial, faz dele o nosso one man show. Ele acrescenta: "One man show man." Diz que, como heterossexual convicto, talvez seja uma espécie em extinçao.

Se o assunto é mulher cai automaticamente em Yara, a musa e companheira que Chaves nao se cansa de cantar. Yara é tao perfeita que até o nariz dele encaixa direitinho nela. O narigao - o famoso nasal que Chaves transformou em tema de uma de suas músicas - é alvo de chacota. "Só fica excitado quando espirro" diz. Voltando a Yara, vivem numa eterna lua-de-mel na praia de Itapua, onde têm uma casa. "Dali, segundo o Caymi, é direto para as águas." Chaves adora a Bahia, mas nao se abaianou. "Meu pique é paulista", conta. Sao 60 anos de Sao Paulo, desde que aqui chegou com 1 ano. "Apaulistei-me de fato e de direito." Mas lembra com saudade do tempo em que a cidade ainda nao era Sampa. "Quando era Sao Paulo e tinha até garoa", provoca.

Como um polemista profissional, ele dispara seus dardos contra a música brasileira atual ("uma porcaria"). Embora de formaçao erudita (estudou regência, seu prazer até hoje é ouvir ópera), gosta de pagode, mas acha que os pagodeiros estao se repetindo. Culpa as gravadoras, que nao incentivam a audácia. Mas culpa também a mídia e o próprio público, que vivem escolhendo a bola da vez. "Pegam um artista e o exaurem, de tanta exposiçao; depois jogam fora e partem para outro."

Ele explica o segredo de sua permanência. "Como nao entrei nesse esquema, consegui fugir da trituraçao, mas poucos artistas da minha geraçao sobreviveram." Socorro, título auto-irônico, chega a Sao Paulo depois de percorrer várias capitais brasileiras e fazer sucesso especialmente no Rio. Daqui Chaves refaz parte de seu roteiro. Volta, por exemplo, a Porto Alegre para apresentar-se no tradicional Teatro Sao Pedro. Mas lá nao será o one man show, sozinho no palco. Vai apresentar-se com um conjunto de câmara.




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