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E Utinga não se separou

Diadema conseguiu a emancipação, Utinga, Distrito de Santo André, não. E Utinga tentou várias vezes. Promoveu um plebiscito em 1958. Perdeu. Seguiu organizando movimentos separatistas até o advento da desindustrialização

Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
07/01/2021 | 07:00
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TEMPO DAS CARROÇAS
Santo André estava em processo de formação na década de 1950. Crescia seu parque industrial, loteamentos eram abertos, multiplicavam-se as necessidades. A Prefeitura procurava investir irmanadamente nos seus dois subdistritos, o I, abrangendo o Centro histórico em direção à periferia representada por bairros como o Bom Pastor e a Vila Luzita; e o II, o subdistrito de Utinga.
Por exemplo: a coleta de lixo era realizada em 151 ruas do I subdistrito e em 106 ruas do II subdistrito, mesmo com uma frota de veículos modesta: cinco carroções, duas carroças, três caminhões comuns e um caminhão especial.
Importante benefício foi a inauguração da parada de trens Prefeito Saladino, em 1952, mas a própria obra servia de argumento às lideranças autonomistas, já que se pretendia uma estação como a central e a de Utinga, e não um arremedo com cercas de arame farpado. Os moradores de Utinga são tratados como gado, diziam as mesmas lideranças.

Em 1958, o povo disse não.

Em 1963, o não foi da Alesp.

Brandão e Celso, a mesma postura.
321 – Na luta pela emancipação de Utinga, a discussão maior era sobre as divisas. Seria Utinga a faixa de terra entre os trilhos da estrada de ferro e o Rio Tamanduateí? Ou Utinga começa depois do rio? Claro, a faixa ao longo da estrada de ferro era disputadíssima, pois ali estavam as grandes indústrias da cidade.
322 – E veio o plebiscito de 21 de dezembro de 1958. As chuvas foram apontadas como a causa do fracasso do movimento. Dos 28 mil eleitores, apenas 5.152 votaram: 2.829 disseram “não”. E Utinga continuou pertencendo a Santo André.
323 – Em 1958, Utinga era habitada por 80 mil pessoas, das quais 28 mil eleitores. Sua arrecadação atingia 1,380 bilhão de cruzeiros. Números bem maiores que os apresentados por Diadema. E o povo disse “não”.
324 – Em 1963 a questão voltou à tona. Em 9 de novembro daquele ano a Assembleia Legislativa abortava o pedido de um novo plebiscito: 44 deputados foram contra; 32 a favor; vários se ausentaram do plenário. E novos comentários surgiram: muitos deputados, no último momento, por razões pouco nobres, teriam mudado de opinião.
325 – Dois prefeitos, de posições políticas opostas, Newton Brandão e Celso Daniel, em momentos diversos, trabalharam pela manutenção do território andreense, o que impediu a separação de Utinga contra a divisão de Santo André. De tal ordem que, em 1990, quando se esboçou nova campanha pela independência utinguense, o movimento não conseguiu captar o apoio nem dos vereadores que moravam no distrito.
326 – Com maioria legislativa, o Executivo criou uma legislação que inibiu novos movimentos. O prefeito Brandão desmembrou Utinga, com a criação de um terceiro subdistrito, Capuava; já o prefeito Celso Daniel estabeleceu que a divisa de Utinga seria o rio e não a estrada de ferro.
327 – Utinga perderia as grandes indústrias, antes que as próprias indústrias deixassem a cidade ou simplesmente fechassem as portas.
328 – Capuava permaneceu com o polo petroquímico, este dividido entre Santo André e Mauá.
329 – Utinga acompanhou o processo de desindustrialização. Rhodia Química, Quimbrasil, Elevadores Otis, Swift e tantas outras indústrias de ponta deixaram a faixa tão cobiçada entre o Rio Tamanduateí e o sistema ferroviário.
330 – Dizia-se: Utinga convive com a emancipação psicológica, título de uma matéria assinada pela jornalista Isabel Contadorio no Diário (edição de 8-1-1991). Novos tempos. Uma estação ferroviária decente foi construída. A legislação permitiu que Utinga também ganhasse seus arranha-céus. Veio o crescimento vertical. Bom? Ruim? A verdade é que o processo emancipacionista ficou na história e na memória dos mais antigos.

Diário há meio século
Quinta-feira, 7 de janeiro de 1971 – ano 13, edição 1428
Manchete – Temporal provoca mortes e desabamentos.
Vila Luzita e Cidade São Jorge foram os bairros mais afetados em Santo André. Uma senhora foi eletrocutada ao tentar pegar a antena de TV que havia recebido uma descarga elétrica e caído no quintal de sua casa.
Direito – Júri simulado vai julgar Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em Santo André. Na promotoria, os acadêmicos de Direito Newton Portela e Neuza Munhoz; na defesa, Celso Zucatelli e J. J. Ramos.
Movimento Estudantil – Estudantes do Clube de Experiências e Pesquisas do Ipiranga vão lançar o míssil ‘Estação 4’ na Represa Billings.

Em 7 de janeiro de...
1896 – Tomam posse os novos vereadores do município de São Bernardo; o coronel João Baptista de Oliveira Lima é reconduzido ao cargo de presidente da Câmara Municipal.
1916 – A agência do correio de São Caetano muda do acanhado prédio em que estava para um amplo edifício, à Rua de São Caetano, esquina com a Virgilio de Rezende. Ganhou moderno guichê para a venda de selos.
1921 – Escrevia o articulista ‘P’, no jornal O Estado de S. Paulo: “A admirável proeza de Edú Chaves, voando do Rio de Janeiro a Buenos Aires, e assim realizando o mais belo feito de aviação na América do Sul, precisa ser perpetuado de alguma forma, numa praça pública de São Paulo, para que não nos esqueçamos dessa data memorável”.
1931 – Com a fundação da União Sindical dos Profissionais do Volante de São Paulo, termina a greve dos choferes na Capital.
1956 – Novo flagelo: 17 casos de poliomielite no Interior, sendo um em São Caetano.

Santos do Dia
- Luciano de Antioquia
- Raimundo de Peñafort
Maria Tereza do Sagrado Coração (Liegi, 1777-1876). Fundadora da congregação Filhas de Santa Cruz de Liegi, que organizava as escolas privadas, assistia aos presos e aos hospitais de carentes, dava atendimento às missões 




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