Um desentendimento entre adolescentes morando no Espaço Integrar – casa-abrigo para menores em situação de risco social mantida pela Prefeitura de São Bernardo no Centro da cidade – e educadores da instituição terminou com a presença da Polícia Militar, a troca de agressões entre os eles e os policiais e um boletim de ocorrência registrado no 1º DP. A confusão aconteceu na tarde de sexta-feira, depois de uma ameaça aos educadores por um dos menores, que estaria com um pedaço de pau nas mãos. O Integrar abriga menores que não cometeram crimes – atende a adolescentes que sofreram abuso sexual, violência em casa ou crianças e adolescentes em situação de rua.

Integrantes do Conselho Tutelar de São Bernardo, o advogado Ariel de Castro Alves, da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a própria presidente da Fundação Criança de São Bernardo, Heloísa Helena Daniel, criticaram a decisão dos funcionários de chamar a polícia.

Para o conselheiro tutelar Sérgio Linhares Hora, o abrigo é um “barril de pólvora” e está superlotado, o que compromete a situação dos menores. “Ficam misturados no local menores em várias situações, incluindo, por exemplo, uma menina que foi abusada pelo pai e um adolescente dependente de drogas”, disse Hora. “Em dois anos na comissão, é a primeira vez que tenho notícias da entrada da polícia em uma casa-abrigo”, disse Alves.

Heloísa Helena, entretanto, discorda de que haja superlotação no Integrar. “Temos capacidade para 20 crianças e adolescentes e a quantidade de abrigados está próxima desse número, normal”, disse Heloísa Helena. Ontem, eram mantidos 22 menores no local.

Confusão – Por volta de 15h, T.L.F., 17 anos, utilizando um pedaço de pau, teria ameaçado agredir educadores da casa-abrigo, o que fez com que a coordenadora da unidade, Maria Lúcia de Lucena, chamasse a Polícia Militar.

Dois policiais do 6º Batalhão foram até o local e detiveram F. e W.B.S., 17. F. e S. estão detidos numa cela especial no 3º DP de Diadema, por determinação do juiz da Vara da Infância e da Juventude de São Bernardo, Luís Carlos Ditommaso.

A presidente da Fundação Criança atribuiu a confusão a um surto por abstinência de drogas sofrido por F. O outro adolescente foi detido porque lutou com os policiais para tentar evitar que F. fosse retirado do local.

“Não temos na região nenhum espaço público para atender adolescentes em situação de rua dependentes químicos e, por isso, temos de mantê-lo na casa-abrigo”, disse Heloísa. O Hospital Estadual de Diadema mantém há dois anos uma enfermaria de Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes). O Proad de Diadema recebe menores carentes, com internação voluntária, encaminhados por instituições como a Fundação Criança.

Drogas – Um dos adolescentes mantidos na casa-abrigo afirmou aos conselheiros tutelares e ao representante da OAB haver consumo de maconha no Integrar. Mas não disse de que maneira a droga entraria no abrigo.

“Como eles saem quando querem, existe a possibilidade de usarem drogas fora do abrigo. Dentro, não, até porque a gente atua com rigor nesse assunto”, disse a presidente da Fundação Criança.