Cultura & Lazer Titulo
Dez anos após sua morte, o rock ainda agradece Cobain
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
31/03/2004 | 20:27
Compartilhar notícia


Há dez anos, Kurt Cobain, líder da banda de grunge Nirvana, entrou para o mórbido clube do qual já faziam parte outros três gênios da música: Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi Hendrix, todos mortos precocemente, aos 27 anos. Na estufa de sua casa, em Seattle, Estado de Washington, Cobain injetou, na altura do cotovelo e perto de seu K tatuado, grande quantidade de heroína chinesa (o equivalente a US$ 100), dose suficiente para matá-lo. Resolveu, no entanto, dar um basta em sua dor com um tiro de espingarda na garganta. Cobain preferiu “queimar de vez a desaparecer devagar”, como diz um trecho de seu bilhete de despedida, numa citação a Neil Young.

“Como um grande diretor de filmes, ele havia planejado este momento até os mínimos detalhes, ensaiando a cena como diretor e ator. No curso dos anos, tinha havido muitos ensaios finais, passagens de raspão que quase seguiam esse caminho, fosse por acidente ou por querer”, escreve o biógrafo Charles R. Ross, autor de Mais Pesado que o Céu, sobre as muitas tentativas de suicídio de Cobain.

Cobain era avesso à superexposição, como lembra o baixista Krist Novoselic no pronunciamento após à morte do colega de banda. “Kurt tinha uma moral em relação a seus fãs que estava enraizada no seu modo punk rock de pensar: nenhuma banda é especial, nenhum músico é rei. Se você tem uma guitarra e muita emoção, apenas toque alguma coisa com força e vontade – você é o superastro. Capte um canal legal e deixe-o fluir de seu coração. Era desse nível que Kurt falava conosco: em nossos corações”.

A mensagem deixada pelo autor do hit Smeels Like Teen Spirit e do fabuloso álbum Nevermind produz até hoje ecos no mercado fonográfico. É interessante perceber como o Nirvana abriu portas e influenciou grande parte das bandas que fazem sucesso atualmente. Muitas, como o Silverchair e o Evanescence, talvez nem existissem. E a eterna viúva do grunge, a onipresente Courtney Love, provavelmente não causaria tanto barulho na mídia internacional como faz em suas aparições públicas.

Daniel Johns, líder do Silverchair, por exemplo, é um devoto confesso de Cobain. Tem até semelhanças físicas com o ídolo – magro, com cabelos claros e ensebados – e partilha com ele a saúde frágil e o estado depressivo: Cobain tinha um sério problema de estômago, enquanto Johns foi bulímico por muitos anos. Mas a influência do Nirvana vai muito além: as canções do Silverchair provavelmente nunca teriam tocado nas rádios não fosse a banda de Seattle para desbancar astros do pop das paradas no início dos anos 1990.

Cobain e sua trajetória espetacular foi inspiração para muita gente que hoje faz sucesso. Fred Durst, do Limp Bizkit, tem o rosto do líder do Nirvana tatuado no peito. A primeira música que Julian Casablancas, líder do Strokes, aprendeu a tocar foi Polly, de Nevermind. O músico, aliás, teve um recente romance com Courtney, que originou uma das canções do novo disco dela, America’s Sweetheart.

Nevermind também serviu de fonte para Deryck Whibley, do Sum 41, que decidiu se tornar músico após escutá-lo, e é o disco favorito de Craig Nichols, do The Vines. Isso sem falar do Foo Fighters, cujo líder, Dave Grohl, foi baterista do Nirvana. E também do Red Hot Chilli Peppers que, apesar de ser contemporâneo ao Nirvana, tem Chad Smith como baterista. Antes de entrar na banda californiana, ele tocou – e aprendeu – com Cobain na formação que daria origem ao Nirvana.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;