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Vida útil limitada é desafio em aterros

Em Santo André, espaço poderá ser usado por mais cinco anos; já no de Mauá, a situação é mais confortável

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
16/08/2020 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Atualizado em 19/08/2020, às 18h49

O Grande ABC precisa pensar em soluções a curto e médio prazos para a destinação dos resíduos que são produzidos diariamente pelos mais de 2,7 milhões de habitantes. Com dois aterros sanitários para onde são enviados os milhares de quilos de detritos produzidos diariamente – de janeiro a junho, foram remetidas 401.160 toneladas de lixo para os equipamentos, as sete cidades sabem que no máximo em 20 anos essas áreas estarão esgotadas.

A situação mais urgente é com o aterro de Santo André, no bairro Cidade São Jorge, administrado pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental) e responsável pelo recebimento de todo o resíduo da cidade, que representa 28% do total de lixo produzido na região (veja na arte quanto cada cidade coletou de janeiro a junho deste ano). Criado em 1982 como usina de compostagem (basicamente, destinada a transformar lixo orgânico em adubo), o local passou a funcionar como aterro sanitário em 1986 e é identificado como um CRT (Central de Tratamento de Resíduo). No entanto, sua vida útil está perto do esgotamento: tem capacidade para mais cinco anos.

No aterro da empresa Lara Central de Tratamento de Resíduos, em Mauá, são recebidos os resíduos das outras cidades do Grande ABC, além de municípios da Região Metropolitana e do Litoral de São Paulo, totalizando 3.000 toneladas diárias. Segundo a empresa, o local ainda tem capacidade para funcionar por 20 anos, mas já está em fase de obtenção de licença para implantação de uma URE (Usina de Reaproveitamento Energético), na qual os resíduos inservíveis são incinerados para geração de energia elétrica. Na próxima semana, a série Destino do Lixo vai detalhar este e outros projetos.

Superintendente do Semasa, Ricardo Kondratovich explica que já está em fase final a obtenção de licença junto à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) de autorização para a última ampliação possível no equipamento. “A única forma de aumentar a vida útil é reduzir a quantidade de lixo aterrado”, destaca.

Mais do que apenas enterrar o que não pode ser reciclado e reutilizado – por se tratar de lixo orgânico, resíduos como fraldas descartáveis ou simplesmente porque não foi destinado adequadamente –, no aterro sanitário a emissão de gases e de chorume (líquido altamente tóxico gerado da decomposição do lixo) é controlada para minimizar o impacto ambiental. Em Santo André, os gases são queimados e o chorume, enviado para ser tratado em Caieras, cidade da Região Metropolitana de São Paulo. A empresa Lara adota medidas semelhantes, mas não detalhou os processos.

A professora do curso de graduação de tecnologia em gestão ambiental do Senac EAD, Gabriela Priolli de Oliveira, explica que as vantagens de um aterro, quando bem construído e gerenciado, é a destinação dos resíduos de forma mais segura, evitando a poluição ambiental, diminuindo o impacto dos resíduos ao ambiente e reduzindo a liberação do gás metano na atmosfera. “Está atrelado à saúde pública, como uma medida sanitária adequada ao tratamento dos resíduos. Pode também agregar benefícios econômicos, como geração de energia a partir de gases”, elenca.

Entre as desvantagens citadas pela docente estão o desafio das cidades em encontrar áreas disponíveis, escassas em centros urbanos, além dos custos para sua implantação e gerenciamento. “Em termos ambientais podem causar impactos como vazamentos de líquidos e gases no ambiente.”

Com o esgotamento dos aterros, soluções como incineração ou envio dos resíduos para outras cidades entram no radar das administrações. Apesar de ser realidade em muitos locais (o próprio aterro da Lara recebe resíduos de Itanhaém, que viajam mais de 100 quilômetros), a prática pode agravar problemas ambientais. “No momento em que se debate as alternativas para o enfrentamento às mudanças climáticas e a diminuição da emissão de gases do efeito estufa, o transporte para outros Estados aumentaria esse impacto”, afirma Gabriela.

Reciclar ajuda a esticar prazo de validade
Com prazo de validade, os aterros sanitários podem ter sua vida útil prolongada com o aumento da reciclagem. No Grande ABC, de janeiro a junho deste ano, apenas 3% do total de resíduos coletados foram encaminhados para reaproveitamento. Mesmo nas cidades com coleta seletiva, os maiores percentuais não chegam a 5% (veja dados na tabela).

Ambientalista e presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), Carlos Bocuhy afirma que a reciclagem dos materiais depende do mercado consumidor do produto, e que é preciso observar este percentual reciclável e as possibilidades graduais de aumento. “Aí entram o poder público e o setor econômico para planejar, alterar a cadeia produtiva para criar mercado e implementar meios para que o lixo se transforme em insumo”, explica.

Bocuhy lembra que este é justamente o objetivo da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) e avalia como “notória” a inação dos setores públicos e produtivo, que deveriam estar prestando este serviço à sociedade e em benefício ao meio ambiente.

“Podemos afirmar, com certeza, que o reaproveitamento de materiais potencialmente recicláveis praticado hoje está infinitamente abaixo das possibilidades, o que demanda com urgência políticas públicas e industriais adequadas”, pontua. O especialista destaca que é preciso estimular a separação na origem com coleta seletiva, a diminuição do desperdício, incluindo alternativas de compostagem, assim como apoiar o fortalecimento das cooperativas de catadores, que têm importante papel social para a geração de renda.

Cidades com coleta seletiva têm melhor desempenho em índice do setor
As cidades do Grande ABC que contam com coleta seletiva apresentam melhores índices em ranking que mede a sustentabilidade da limpeza urbana no País. Organizado desde 2016 pelo Selurb (Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana), o índice é um termômetro de ações previstas na PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), como a oferta de coleta e a destinação dos resíduos.

Em Diadema, cidade com a 4ª pior nota na região (quanto mais perto de 1, melhor o município aplica a lei) e menor proporção de material reciclado, as cooperativas trabalham aquém da capacidade. Oficializada em 2016, a Cooperfenix já teve 26 cooperados e hoje conta apenas com 10.

A equipe já realizou coleta porta a porta na região onde atua, no bairro Taboão, mas a atividade foi interrompida porque os carrinhos elétricos doados pela Prefeitura não têm mais onde ser consertados, após a empresa que os produziu fechar. “Apenas na vizinhança, a gente chegava a recolher até 10 toneladas de material”, explicou a cooperada Keila da Silva, 28 anos.

A cidade conta com 10 ecopontos, mas o material que é deixado lá não chega para as duas cooperativas da cidade. “Buscamos em condomínios e empresas parceiras. Se houvesse a coleta, teríamos mais material para trabalhar e com maior valor agregado”, completou Keila.

Na região, apenas Santo André e Mauá remuneram as cooperativas por tonelada de material triado (pagam pelo que deixa de ser aterrado), conforme prevê a PNRS, mas somente Santo André tem coleta seletiva porta a porta. Em São Bernardo, São Caetano e Ribeirão Pires, as cooperativas também recebem o que é coletado porta a porta, mas sem incentivo de remuneração, ficando apenas com a receita das vendas dos materiais.

O diretor de Sustentabilidade do Selurb, Carlos Rossin, afirmou que o índice de reciclagem no País é em torno de 3,8% e em países desenvolvidos, como Alemanha, chega a 30%. “Para isso, é preciso aumentar a receita específica do setor”, defende.




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