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Um em cada quatro moradores da
região tem algum tipo de deficiência

Estágios severos representam 24% do total; prevalência
é de problemas visuais e motores, de acordo com o IBGE

Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
06/05/2012 | 07:00
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Números divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), que integram o Censo 2010, revelam que aproximadamente 611 mil moradores do Grande ABC convivem com algum tipo de deficiência, o que significa 24% da população total. A média, de um em cada quatro, se manteve durante a década. Em 2000, o número era de 580 mil (23%).

A pesquisa considera todos os estágios das deficiências. Entre aqueles em grau máximo ou com grande dificuldade estão cerca de 151 mil moradores. A prevalência está em pessoas com problemas visuais (48,5%), motores (33%) e auditivos (18,7%).

De acordo com a psicóloga hospitalar Rosely Perrone, a maior causa de mortes no Brasil atualmente são acidentes, seguida por problemas do coração e doenças cancerígenas. "Não devemos descartar as deficiências inatas. Mas hoje os acidentes (automotivos, principalmente) são os que mais causam sequelas, neurológicas ou motoras", explica a psicóloga, que é coordenadora do serviço de psicologia hospitalar do Complexo Hospitalar de São Caetano.

Qualquer tipo de deficiente tem direitos assegurados, como garantia de ir e vir e também de transitar em áreas com acessibilidade adequada. Cegos e pessoas com baixa visão, por exemplo, hoje podem utilizar meio de transporte e frequentar prédios públicos com auxílio de cão-guia. A reivindicação por esses e outros direitos deve integrar não só a rotina de deficientes como também dos familiares. "A pessoa com deficiência tem de ser protagonista da sua condição e impedir que seus direitos sejam violados. Os parentes devem tratar seus filhos como pessoas normais e ser esperançosos quanto à recuperação", recomendou o ex-gerente de Políticas para Pessoas com Deficiência da Prefeitura de São Bernardo, Luiz Soares da Cruz.

Em 2008 ele perdeu o filho de 26 anos, que sofreu de distrofia muscular por 17 anos. "A dificuldade do diagnóstico não está no deficiente, mas no acesso não fornecido. Ainda estamos aquém do ideal, mas no caminho certo", emendou.

A atual gerente, Maria de Fátima Augusto, considera fundamental a participação de deficientes e familiares em reuniões e conferências municipais. "O governo está aberto para ouvir propostas. Ninguém melhor do que esse público para dizer o que podemos planejar. O importante é somar e mobilizar." Hoje, a cidade tem 215 ônibus adaptados para deficientes. Está em andamento o rebaixamento de calçadas em vias como Peri Ronchetti e Estrada Galvão Bueno.

São Bernardo sediará no dia 28 a Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O evento é aberto ao público. Informações: 4126-3766.

Jovem busca mobilidade após sofrer assalto

Em 2005, o técnico em eletrônica Raul Callegon, hoje com 31 anos, foi alvejado na nuca durante assalto que ocorreu próximo à sua casa, na Vila Curuçá, em Santo André. Foram três meses no hospital. A tetraplegia obrigou toda a família a se adaptar às novas necessidades de Raul, que até hoje busca recuperar os movimentos das mãos e das pernas.

Os sete anos de fisioterapia o ajudaram a deixar de respirar com ajuda de aparelhos, recuperar o equilíbrio no tronco e o movimento dos ombros. O objetivo atual é estender a reabilitação até os cotovelos. Raul, inquieto, ainda tem dificuldade para aceitar a condição imposta pela violência urbana. "Não me acostumei e nem posso me acostumar." No entanto, é atento a assuntos como pesquisas com células troncos e outros avanços científicos. "Os resultados ainda são pequenos, mas estão evoluindo. Quero ganhar o mínimo de independência."

 

Raul não gosta de se expor. Raramente sai de casa e passa a maior parte do tempo vendo filmes ou na internet. Fez tratamento psicológico por dois anos, junto à família, mas não deu continuidade por dificuldades financeiras. O mesmo aconteceu com as sessões de equoterapia. De vez em quando segue até o estádio do Morumbi, na Capital, para acompanhar os jogos de futebol do São Paulo, time do coração. Sair às ruas exige série de cuidados. "Quando saio é com a ajuda de amigos. Sempre tenho de perguntar se o local tem acessibilidade."




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