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Banda de São Caetano que ficou na memória
Cláudia Fernandes
Do Diário do Grande ABC
23/12/2006 | 20:04
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Há 34 anos, a Corporação Musical de São Caetano do Sul fazia sua primeira apresentação com contrato assinado pela Prefeitura. Era o início de uma longa jornada de trabalhos prestados à administração que só terminaria em 2005. Seu fundador, Oswaldo Ciotto, morreu no dia 20 de dezembro de 2004. Um dia antes do amigo e admirador Luiz Tortorello. Diz Dielene Ciotto, filha do ex-maestro, que nos últimos dias, já velhinho no hospital, o pai ainda falava com orgulho da banda que formou e que se dedicou integralmente tocando tuba.

Até o ano passado, nas vésperas de Natal e Ano-Novo, ainda era possível ver alguns poucos integrantes da banda passarem pelas ruas da cidade tocando velhas cantigas. Uma verdadeira seção de nostalgia que a população da cidade estava acostumada a esperar nos finais de tarde, algumas horas antes de encontrar com o restante da família e amigos. Os músicos entravam nos comércios e nos salões de beleza lotados e angariavam alguns trocos. Era um bico dos mais jovens integrantes que tinham disposição para ir para as ruas.

Neste ano, poucos devem repetir a dose. Após o rompimento do contrato com a Prefeitura no ano passado, a banda se dispersou muito. Poucos continuam ensaiando numa sala do Parque do Bosque. A maioria desistiu de ser músico. Foi procurar outra profissão.

Os mais antigos ainda se emocionam ao lembrar dos tempos em que se apresentavam nas inaugurações da Prefeitura desde a época do prefeito Walter Braido. O estilo interiorano da administração do ex-prefeito Luiz Tortorello manteve viva a tradição da banda com 35 componentes.

“O repertório era escolhido de acordo com o evento”, diz o atual maestro Orlando Portesan, 69 anos. Foi com Portesan que Ciotto fundou a Corporação Musical. Os dois eram músicos da Polícia Militar e, aos domingos, se apresentavam nas praças da cidade. Nas décadas de 1960 e 1970, antes de a banda virar corporação, as famílias já iam a praça passear no fim das tardes de domingo. “Tocávamos durante duas horas marchinhas, samba, bolero, rumba...”, diz Potesan, que desde os 10 anos toca pistão, trombone e saxofone.

Assim que José Auricchio assumiu a Prefeitura, as apresentações foram ficando cada vez mais raras. Até que no ano passado o contrato não foi renovado. É uma pena, informa a Prefeitura, mas a administração não tem como manter um contrato de R$ 35 mil anuais tendo à disposição uma infinidade de artistas na Fundação das Artes. Departamento municipal que pode ceder a qualquer momento seus artistas sem qualquer ônus.

“Eu amo a banda. Não importa o cachê", diz quase chorando Dielene. Ela fala que na quinta-feira da semana retrasada foi uma emoção. Os músicos lutaram um ano para conseguir renovar o contrato e, agora, desesperançosos, os amigos se abraçaram no último ensaio do ano e se despediram saudosos do passado. Benedito Pereira da Costa é um dos mais velhos, com 72 anos. Dielene conta que ao final do ensaio daquela quinta, os olhos do ex-pedreiro e músico lacrimejaram. Ele guardou o clarinete na sala do parque e foi para casa com um fio de esperança. O suficiente para mantê-lo ensaiando todas as quintas-feiras à espera de uma boa notícia.



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