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Região tem 31.469 alunos atrasados
Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
13/10/2008 | 07:13
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No Grande ABC, 9,29% dos alunos da rede estadual de ensino estudam em séries incompatíveis com a idade. São 31.469 estudantes em um universo de 338.424 matriculados nos ensinos Fundamental e Médio somente na região.

Os números vão ao encontro do que mostra a SIS 2008 (Síntese de Indicadores Sociais) feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apresentada há duas semanas e que aponta o Sudeste como região menos problemática quando o assunto é a defasagem de alunos. O Nordeste desponta como a área mais problemática.

De acordo com o MEC (Ministério da Educação), é considerado defasado o aluno que permanece por dois anos ou mais na mesma série.

Migração constante da família, matrículas tardias, alunos com necessidades educacionais especiais incluídos no ensino regular e repetência são fatores que propiciam casos como o dos irmãos da família Souza Guedes, de Mauá.

Breno*, 14 anos, já pensou em ser bombeiro, jogador de futebol, pintor, mas, para ele, tudo acaba esbarrando na dificuldade com os estudos. Prova disso é que o adolescente continua na 4ª série.

"Já era para ele estar na 8ª série, mas ninguém entende o que acontece com ele. Eu queria pagar um acompanhamento, um reforço para ele, mas não tenho condições", diz a mãe, que aos 34 anos está aposentada por invalidez.

A família reúne todas as características apontadas pelos especialistas: migrou duas vezes de Estado e três de cidade.

Vieram de Alagoas para São Paulo. Moraram em Campos do Jordão, depois São Paulo e Mauá.

Os outros dois filhos também estão atrasados. Adriano*, 12 anos, também está na 4ª série e Fábio*, 9, continua na 2ª série. Mesmo tendo passado pela fase de alfabetização - os dois primeiros anos de estudo -, os três têm dificuldade na leitura e na escrita.

Os índices do IBGE mostram que o alto índice de freqüência à escola nem sempre se traduz em qualidade do aprendizado. Em 2007, 2,1 milhões (8,4%) das crianças de 7 a 14 anos de idade freqüentavam escola, mas não sabiam ler e escrever.

É o caso de Samanta*, de Santo André, 13, na 4ª série. "Sinto dificuldade, principalmente, quando estou lendo", relata a menina.

Samanta diz que se desinteressou pelos estudos depois que, a cada ano, percebia estar aquém das outras garotas da sua idade.

O pesquisador do IBGE Enio Mello acha arriscado apontar onde está a falha para que adolescentes ainda estejam no Ensino Fundamental e crianças continuem analfabetas. "Essas crianças podem estar estar em um processo de ensino vicioso", diz Mello. "No caso das escolas do Nordeste, muitas são em um fundo-de-quintal, onde o professor leciona por solidariedade, sem um preparo específico."

Uma professora de uma escola estadual de Mauá e que pediu para não ser identificada aposta na constante migração da família como entrave para o desenvolvimento do aluno.

"São crianças em um núcleo familiar pobre, os pais se mudam em busca de novas perspectivas e a escola fica em segundo plano", diz a docente.

* nomes fictícios




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