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Um trem para o século XIX
Reynaldo Gollo
Da Redaçao
17/07/1999 | 18:26
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Quando as portas dos modernos trens espanhóis, com seu visual futurista, abrem-se em estaçoes como a de Ribeirao Pires ou Rio Grande, o tempo parece retroceder mais de um século. Apesar do descaso do poder público e de grande parte dos usuários, as duas estaçoes sao as que mais preservam seu aspecto original do fim do século passado.

As passarelas escocesas e seus galpoes em tijolos ingleses aparentes conservam praticamente a mesma visao que as pessoas tinham há 100 anos. Descobrir formas de utilizaçao desse patrimônio histórico é o desafio que surge hoje, quando se comemora a recuperaçao da estaçao Júlio Prestes, em Sao Paulo.

As estaçoes de Ribeirao Pires e Rio Grande guardam galpoes centenários que podem ser utilizados para fins culturais ou de lazer. “Seria bom se fizessem uma cantina ou um barzinho nesse galpao”, disse Vinícius Villa, 19 anos, que esperava o trem para Santo André na estaçao de Rio Grande. Em Ribeirao, o galpao de desenho idêntico já é usado pela Prefeitura como museu.

No fim da linha férrea, está Paranapiacaba, outro ponto de grande potencial turístico. Mas os moradores criticam a dificuldade para se chegar ao local por trem. Há apenas quatro linhas diárias no percurso até a Vila.

“Pouca gente tem vindo para cá por causa desse problema”, diz Zilda Maria Bergamini, dona do bar que leva seu nome, ponto tradicional de parada de mochileiros e visitantes em Paranapiacaba. “Se houvesse mais horários, teríamos muito mais turistas aqui.”

Os números parecem concordar com Zilda. Segundo dados da própria CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que administra o transporte de passageiros na linha, Paranapiacaba tinha há 10 dez anos como média diária 932 pessoas embarcadas. Hoje, essa média é 18 pessoas.

Elias Pereira da Silva, que mora desde que nasceu (há 29 anos) na Vila, também critica as poucas linhas para o lugar. A CPTM se justifica por meio do número reduzido de passageiros.

As demais estaçoes de periferia também mostram queda de embarques. “O desemprego, as empresas que usam ônibus particulares e o aumento de preços (de 1994 para cá, sem o subsídio de 70% do governo federal, a passagem subiu de R$ 0,30 para R$ 1) sao alguns dos fatores que afastaram as pessoas dos trens.

Vandalismo – Entre Paranapiacaba e Rio Grande, há uma estaçao, já desativada, que remonta à mesma época dessas duas: a de Campo Grande. De todo o patrimônio histórico da rede, essa é a edificaçao que mais necessita de cuidados. Vândalos quebraram portas e vidros e usaram o local como banheiro. A passarela escocesa, igual às das outras estaçoes históricas, sofre corrosao.

O movimento local é restrito aos trens de carga da MRS-Logística (que administra o transporte desse tipo na rede). Apesar do clima de abandono, a estaçao merece uma visita. Bem ao lado da estrada SP-122, a caminho de Paranapiacaba, esse patrimônio também tem grande potencial turístico. Desperdiçado.




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