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Amos Gitai põe o dedo em ferida israelense
Do Diário do Grande ABC
09/10/2003 | 21:55
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Em 1973, aos 23 anos, o cineasta israelense Amos Gitai era reservista do Exército e participou dos conflitos do Dia do Perdão (Yom Kippur). Os horrores que presenciou foram todos exorcizados em O Dia do Perdão (2000). Em Kedma, (idem, França/Itália/Israel, 2002), que estréia nesta sexta-feira em São Paulo, Gitai recua 25 anos no tempo e bota o dedo em uma ferida mais aberta do que nunca: a formação do Estado de Israel.

Mestre dos planos-seqüência, o cineasta israelense elege um grupo de personagens para contar a os rumos trágicos de alguns sobreviventes dos campos de concentração europeus. Fracos, cansados, mesclando ódio e esperança, eles são reunidos no navio Kedma, que ruma à Palestina. Lá, são recebidos de forma pouco amistosa pelos ingleses e avisados de que terão de pegar em armas para conquistar a Terra Prometida, repetindo o tratamento violento do qual foram vítimas com os árabes que ocupavam o local.

Um dos recursos do filme é não mostrar o rosto dos inimigos. Nas cenas de batalha, o drama fica concentrado na força paramilitar judaica. Os palestinos só aparecem fugindo, mas avisam: “Continuaremos aqui”.

O olhar crítico do diretor, maldito em Israel, está em não assumir o papel de vítima. Seu mérito é exibir de forma crua que nada mudou desde aquele maio de 1948. Irrita o seu governo assumindo os erros e as atrocidades cometidas por seu povo em nome da fé. Por seu caráter “mea-culpista”, foi censurado duas vezes, o que o fez buscar exílio em Paris em 1982, onde ficou por onze anos. Ganhou também a alcunha de “amante dos palestinos”.

De volta a Israel, fez, por pura teimosia, a trilogia que trata sobre aspectos específicos do Estado. Devarim (1995), sobre os judeus pioneiros em Tel Aviv, Yom Yom (1998), que fala da integração entre judeus e palestinos em Haifa, cidade natal do diretor e Kadosh (1999), que relata a violência a que as mulheres de uma comunidade judaica ortodoxa são submetidas.

Seu cinema de cenas sem cortes é boicotado em seu próprio país, que o acusa de não apresentar qualidade em seus roteiros. A desculpa não se aplica, mas, para Israel, é difícil lamber uma cria como Amos Gitai.




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