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Sem salário, operários do CDP ameaçam greve
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
18/02/2005 | 15:12
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As obras do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Diadema foram interrompidas quinta-feira e podem continuar suspensas nesta sexta-feira. A promessa é dos operários que trabalham na construção do prédio, na Vila Conceição. Eles ameaçam entrar em greve pelo atraso no pagamento dos salários referentes ao mês de janeiro. Segundo pedreiros, ajudantes e serralheiros, não é a primeira vez que a construtura responsável – Empreendimentos Master S/A – demora a pagar o que deve aos funcionários. Na tarde de quinta-feira, parte dos trabalhadores estava de braços cruzados e se recusava a voltar ao serviço.

A Secretaria de Administração Penitenciária prometeu entregar o CDP em março. Pelo ritmo dos trabalhos, o prazo, que se esgota em cerca de 40 dias, dificilmente será cumprido. Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, o governo do Estado admite ter conhecimento “dos problemas que cercam a obra” e garante “tomar as providências que forem necessárias” para que a carceragem fique pronta “o mais rápido possível”.

A assessoria não informou se o governo pretende rever a data prevista para entrega do CDP nem detalhou que tipo de medida vai adotar para tentar reverter a lentidão dos trabalhos. Os operários afirmam que estão dispostos a permanecer em greve até o dinheiro aparecer. “Há 12 dias estamos esperando uma explicação da Master. Só dizem que nosso dinheiro está bloqueado. Ninguém aqui entende direito dessas coisas. A única coisa que sabemos é que falta comida na mesa. Amanhã (nesta sexta-feira), todo mundo vai parar”, diz o empreiteiro Ildo Ribeiro de Oliveira Santos, que diz ter sido contratado no dia 7 de janeiro. Como outros companheiros, afirma não ter recebido “um centavo” pelo trabalho.

De acordo com os operários, cerca de 80 pessoas trabalham na construção do CDP vertical. Todos estariam com os salários atrasados e 50 já cruzaram os braços. O ajudante-geral José Barbosa trabalha na construção há cinco meses e reclama que o atraso no pagamento é constante. “Desde que estou aqui, a empreiteira atrasou por duas vezes o pagamento. Essa é a terceira.” Segundo Barbosa, os operários só conseguem receber a remuneração quando param de trabalhar. “O único jeito da obra andar é quando a gente pára.”

O Diário procurou a Empreendimentos Master S/A por três vezes na tarde de quinta-feira. Uma secretária disse que procuraria o engenheiro responsável pela obra para esclarecer os motivos do atraso dos pagamentos. O nome do profissional e o telefone não foram informados à reportagem. E ninguém da construtora se pronunciou sobre o caso.

O não-pagamento do salário atinge não só os operários que hoje trabalham no CDP de Diadema. Trabalhadores que prestaram serviço em janeiro e foram dispensados no começo deste mês também não receberam o dinheiro até agora. Quinta-feira, cerca de 25 demitidos estavam em frente à construção, na rua Caramuru, reivindicando os direitos. “Está faltando comida na minha casa. Tenho cinco filhos, esposa, e só eu trabalho na família. O gás de cozinha acabou e não tenho dinheiro para comprar. O problema é que ninguém dá uma satisfação”, protesta o carpinteiro Francisco Gomes Rangel Filho, que diz ter trabalhado 31 dias na obra sem receber nada.

Polêmica – A lentidão das obras do CDP de Diadema não é novidade. Em novembro do ano passado, depois de 18 meses do início da construção, apenas 25% do prédio estava concluído. Orçado em R$ 7 milhões e projetado para receber 576 presos, a obra está mergulhada em polêmica.

Em outubro, a Prefeitura tentou embargar a obra porque o Estado não havia dado garantias de que a detenção só receberia presos da própria cidade. Segundo a administração municipal, essa foi a exigência para que o terreno da rua Caramuru fosse cedido para construção. Apesar da reivindicação, o governo ignorou o embargo municipal e o caso agora tramita no Tribunal de Justiça do Estado.

O outro CDP que a Secretaria de Administração Penitenciária constrói no Grande ABC é o de São Bernardo. A obra foi iniciada na segunda quinzena de outubro e o governo garante   que vai entregá-la em abril. O prédio está localizado na estrada Yae Massumoto, no bairro Cooperativa. O CDP tem capacidade para abrigar 768 presos em área de 40 mil m².



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