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Corte pode matar árvores do parque Celso Daniel
Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
07/09/2002 | 17:03
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Ao realizar fissuras nos troncos das árvores do parque Prefeito Celso Daniel (ex-Duque de Caxias), em Santo André – para o encaixe de bancos também de madeiras –, a Prefeitura condenou os eucaliptos, a maioria de idade avançada, ao risco de doenças e até de morte. A avaliação, feita no próprio parque, é da professora-doutora em Ciências e especialista em Botânica Cândida Vieira, que leciona na Umesp (Universidade Metodista do Estado São Paulo). “O que fizeram é agressivo e, o pior, vemos claramente que não havia necessidade de fazer essa injúria às árvores. Isso demonstra o desrespeito do homem, que pensa que a natureza está aí para serví-lo”, disse. Comunicado do problema, o Depav (Departamento de Parques e Áreas Verdes) da Prefeitura de Santo André informou, por meio de sua assessoria, que “a colocação dos bancos não causa prejuízo à saúde das árvores”.

Com os cortes, segundo a especialista, as árvores têm seus troncos abertos e ficam expostas à ação de fungos e bactérias que podem causar infecções e levá-la à morte. “Nessas, por exemplo, o banco foi colocado enquanto a árvore era viva, mas ela morreu e eles a cortaram”, disse a professora, apontando exemplos de árvores cortadas. Algumas delas, porém, apresentam “um tecido de cicatrização” que cobre o banco, demonstrando, segundo ela, que há árvore que consegue adaptar-se à nova situação e sobreviver. No entanto, depois do corte feito, “não há nada a fazer” e o risco de morte da árvore depende de suas condições e de seu poder de resistência.

Segundo a professora, os cortes também diminuem o espaço no tronco para realização do fluxo da água e nutrientes, vitais para sua sobrevivência. A professora ressaltou que os cortes atingem justamente a parte vital da madeira: as duas camadas externas do tronco. “Eles atingiram o alburno, por onde a árvore absorve a água do solo; e o floema, por onde ela recebe os nutrientes das folhas, que é a camada seguinte, já na casca”, disse. Além disso, o cerne – que fica no centro e é responsável pela estrutura da árvore – acaba sendo afetado e aumenta o risco de a árvore tombar com o tempo.

As ações do homem, porém, acabam retornando a ele próprio. Segundo a professora, com uma menor absorção de seiva e água, ela tem a fotossíntese prejudicada – que é a absorção do gás carbônico dos veículos, por exemplo, para liberação do oxigênio.

A especialista em botânica ainda lembrou que a idéia de colocar bancos nos troncos das árvores “não tem sentido” e não ajuda em nada, uma vez que o eucalipto continua o crescimento em largura, o que vai comprimindo o banco colocado até quebrá-lo. “A própria madeira também molha e se expande. É uma idéia sem sentido. Eles poderiam ter utilizado galhos para fazer os bancos, sem causar essa injúria”, disse. Segundo a professora, um eucalipto chega a viver 100 anos, e mesmo os mais velhos mantêm seu processo de crescimento.

Substituídas – Comunicado do problema, o Depav afirmou que “as árvores estão vigorosas e o aproveitamento dos troncos para a colocação de bancos é feito sem qualquer prejuízo para a saúde das mesmas”, disse. Além disso, a Prefeitura de Santo André informou que a incrustação de bancos em árvores é feita exclusivamente em eucaliptos que, oportunamente, serão substituídos por árvores nativas, uma vez que os eucaliptos não são árvores adequadas ao Parque.




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