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Bombeiros voluntários arriscam a vida pela emoçao de ajudar
Daniel Fernandes
Da Redaçao
19/02/2000 | 16:40
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Quanto você cobraria para arriscar a própria vida para salvar uma mulher de 70 anos do ataque feroz de um enxame de abelhas? Para os 42 voluntários, homens e mulheres, que doam parte de seu tempo trabalhando na Associaçao Brasileira de Resgate e Administraçao de Emergências, em Sao Bernardo, a resposta para a pergunta é simples e rápida: nenhum centavo.

Situaçoes com essa, do ataque de abelhas, e muitas outras fazem parte do dia-a-dia desse grupo, que começou a ser formado há três anos. No momento em que pisam na sede da 1ª Companhia da associaçao, localizada no bairro Baeta Neves, donas de casa, médicos, enfermeiros, advogados e motoristas têm apenas uma missao: salvar vidas.

Eles sao o que se pode chamar de bombeiros voluntários e doam o pouco tempo livre em suas atribuladas vidas "para ajudar ao próximo", como gosta de definir a presidente e um dos primeiros membros da associaçao, Fernanda Dias de Oliveira.

Ninguém recebe pelo serviço que realiza. Mas nao é fácil ser um bombeiro voluntário. O interessado em realizar o serviço benemérito se submete, primeiro, a um teste de aptidao física. Depois, passa por um treinamento de 12 meses que incluiu o aprendizado de técnicas de salvamento aquático, salvamento terrestre, prevençao e combate a incêndios e até atendimento pré-hospitalar.

Mas o que motiva uma dona de casa a se transformar em uma pessoa disposta a realizar salvamentos? "Geralmente, os voluntários sao pessoas que sofreram algum tipo de trauma com relaçao a acidentes ou outro tipo de tragédia pessoal", afirmou Fernanda. Pessoas que já sentiram na pele a necessidade de contar com ajuda de desconhecidos.

Show do U2 - Mas nem sempre é uma experiência trágica do passado que leva uma pessoa ao serviço voluntário de resgate. Há muito casos curiosos. Por exemplo, Fernando, a própria presidente da associaçao, começou no trabalho de bombeiro voluntário há cinco anos, antes mesmo do início das atividades da entidade.

"Eu queria assistir ao show do U2, mas nao tinha dinheiro para o ingresso. Eu conhecia o Bolivar (Bolivar Fundao Filho, um dos fundadores da Associaçao) e ele me convidou para trabalhar na assistência médica ao público do espetáculo da banda." Mas aquela chance de ouro nao funcionou muito bem. "Naquela oportunidade, atendi mais de 600 pessoas com desidrataçao", lembra Fernanda, que disse ter feito de tudo, menos assistido ao show da banda irlandesa de Bono Vox.

Apesar de dedicar boa parte de seu tempo à associaçao, Fernando ainda encontra tempo para cursar enfermagem. Ela também é para-médica formada nos Estados Unidos. "Antes, eu fazia administraçao de empresas." Atualmente, para conseguir algum dinheiro, a presidente ajuda a mae na organizaçao de festas.

O que trouxe Marcos Freddy Padilha, hoje comandante da 1ª companhia da Associaçao, para o trabalho voluntário de resgate foi um acidente de trânsito que presenciou em frente a sua casa. "Eu nem pensei, desci do meu apartamento e comecei a socorrer as vítimas", contou o comandante Padilha, que ganha a vida como guarda patrimonial. Foi aí que encontrou o Bolivar, que passava pelo local e também ajudou no socorro.

Nova York e Miami - A idéia de criar uma associaçao de bombeiros voluntários teve inspiraçao nos Estados Unidos, quando Bolivar Fundao Filho presenciou o atendimento de bombeiros voluntários às vítimas de um acidente de trânsito em Nova York. Depois, repetiu a dose ao ver o salvamento de um rapaz que perdeu o controle de sua asa delta, em Miami, e ficou preso em fios de alta tensao.

Desde entao, a idéia foi amadurecendo no Brasil. "Em 1985, durante uma grande enchente em Sao Paulo, nós saímos para amarrar carros em postes para eles nao serem levados pelas enchentes", afirmou Bolivar. Segundo ele, a açao foi realizada "por um grupo de malucos".

Desde entao, a idéia foi se desenvolvendo, e a entidade funciona em uma casa do Baeta Neves. Como toda entidade nao governamental, a Associaçao Brasileira de Resgate e Administraçao de Emergência passa por dificuldades financeiras.

De acordo com a presidente Fernanda, o custo mensal para manter o serviço assistencial gratuito é R$ 15 mil. "Mas nós conseguimos arrecadar metade disso, com o trabalho de remoçao hospitalar", afirmou.

A instituiçao também arrecada dinheiro desenvolvendo um trabalho para empresas que nao possuem ambulatório médico ou serviço de ambulância para seus funcionários.




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