Setecidades Titulo Após morte de família
Aquecedores para banho são responsáveis por 87% dos acidentes domésticos

Família encontrada morta em Santo André pode ter inalado monóxido de carbono após vazamento

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
16/07/2019 | 07:47
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Valterci Santos/Agência Estadual de Notícias do Paraná


Segundo a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), 87% dos acidentes domésticos envolvendo inalação de CO (Monóxido de Carbono) são causados por aquecedores da água do chuveiro. O envenenamento pelo gás tóxico é a principal suspeita de causa da morte de quatro pessoas da mesma família em Santo André, cujos corpos foram encontrados no domingo, dentro de apartamento na Vila Bastos. Uma das vítimas estava no box do banheiro.

Roberto Yasuhide Utima, 46 anos, Katia Rumi Sasaki Utima, 47, e os filhos Barbara, 14, e Enzo, 3, chegaram de viagem feita à Disney, nos Estados Unidos, na última sexta-feira. Seus corpos foram encontrados por uma familiar, que veio ao apartamento entregar o cachorro da família. As malas de viagem sequer haviam sido desfeitas e o estado de decomposição sugeria que os óbitos ocorreram entre sexta-feira e sábado. O pai, o garoto de 3 anos e a adolescente estavam no quarto e a mãe no banheiro.

Medição preliminar apontou que havia mais monóxido de carbônico do que o tolerável dentro do imóvel. A liberação da substância ocorre pela queima parcial do combustível utilizado pelo sistema de aquecedor – normalmente o gás natural ou o liquefeito de petróleo –, que passam por reações químicas que o transformam em dióxido de carbono e água. Quando a combustão é incompleta, pode dar origem ao monóxido de carbono, explicou a engenheira química e professora do Centro Universitário FEI, Maristhela Marin. “Sem o oxigênio necessário, não há a queima total do gás, que é altamente tóxico para o organismo”, detalhou. Mesmo em concentração pequena, o CO pode causar sintomas como náuseas e vertigens, levando rapidamente à perda de consciência. “Ele se liga fortemente ao sangue e vai promovendo a morte celular.”

A professora afirmou que é fundamental que aquecedores a gás contem com sistema de exaustão para jogar para fora do ambiente a fumaça. “A manutenção preventiva deve verificar os queimadores, se há alguma obstrução na tubulação e é isso que vai garantir a segurança do sistema”, pontuou. A família Utima havia acabado de voltar de viagem e, por isso, todas as janelas da residência estavam fechadas. Conforme investigação policial, o sistema de aquecimento do apartamento não contava com chaminé há dez anos.

O chefe da divisão de motores e veículos do Centro de Pesquisas do Instituto Mauá de Tecnologia, Renato Romio, pontuou que existe série de normas para instalação e manutenção de sistemas de aquecimento a gás. “Os aquecedores devem ser instalados em locais abertos, como áreas de serviço.”

O presidente da AEAABC (Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Grande ABC), Luiz Augusto Moretti, afirmou que é responsabilidade do condomínio contratar profissional para emitir laudo que ateste que os aquecedores dos apartamentos estão funcionando adequadamente. A professora da FEI lembrou, no entanto, que cada proprietário deve se atentar à necessidade de manutenção. “Procurar empresas que sejam idôneas e certificadas para instalação e manutenção”, concluiu. O síndico do Edifício Móbile, onde a família morava, Edson Ferrari, não retornou até o fechamento desta edição.

Família foi sepultada em Cemitério de Mauá

Foram enterrados na tarde de ontem os quatro integrantes da família Utima, de Santo André, cujos corpos foram encontrados no domingo dentro de apartamento, na Vila Bastos. O sepultamento foi realizado no Cemitério Vale dos Pinheirais, em Mauá.

A principal suspeita é que todos tenham morrido por envenenamento causado por monóxido de carbono, devido à queima de gás do aquecedor do chuveiro. O equipamento não conta com chaminé para eliminar a fumaça, conforme investigação policial.

Cerca de 300 pessoas entre familiares, amigos e colegas acompanharam o velório e o enterro. Por volta das 16h, um a um, os caixões foram levados até a sepultura. O clima era de comoção e tristeza. Nenhum dos parentes quis falar com a equipe do Diário. O caso está sendo investigado no 1° DP (Centro) de Santo André.

OUTROS CASOS
Em maio, família de seis pessoas de Santa Catarina foi encontrada morta em apartamento no Centro de Santiago, capital do Chile. Eles comemoravam o aniversário de 15 anos de uma das vítimas. Laudo emitido pelas autoridades chilenas atestaram que a causa da morte foi inalação de monóxido de carbono.

Pesquisadores da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) apresentaram em maio dispositivo capaz de identificar a presença de CO no ambiente e evitar este tipo de acidente. Deputados argentinos tentam tornar o uso do sensor obrigatório nas residências com aquecedores a gás. No Brasil, existem dispositivos semelhantes à venda, pela internet, com preços a partir de R$ 30, no entanto, seu uso não é obrigatório.




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