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Mulher com dengue recebe remédio contraindicado para tratar a doença

Após dar diagnóstico errado, médico da UPA Demarchi, em São Bernardo, receitou prednisona; laudo correto veio em hospital particular

Beatriz Mirelle
03/05/2024 | 08:15
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FOTO: Reprodução/Google


Moradora de Parque das Flores, em São Bernardo, a analista de logística Mônica Nascimento, 43, denuncia negligência no atendimento recebido na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Demarchi. De acordo com ela, no dia 14 de abril, foi até o posto de saúde com febre e dores nas articulações, olhos e cabeça. Durante a consulta, recebeu atestado de Influenza (vírus causador da gripe) e o médico receitou prednisona (corticoide contraindicado em caso de dengue). Dias depois, em um hospital particular, ela teve a confirmação de que, na verdade, estava com dengue. 

“É uma falta de responsabilidade. Cheguei na UPA em 14 de abril com dores de cabeça, articulações e olhos, falta de apetite e febre. Passaram tratamento para gripe. Não estava com sintomas de rinite ou sinusite. O médico não examinou minha garganta, não viu meu pulmão, não viu nada, nem pediu exames. Simplesmente, ele me medicou sem sair de onde estava. Eu não consegui raciocinar por causa da dor e nem questionei ele. Fui ao Hospital Santa Marcelina em São Bernardo (antigo Neomater) no dia 18 de abril porque os sintomas continuaram. Lá, recebi o diagnóstico de dengue. Eu estava tomando medicação errada pela falta de profissionalismo do médico da UPA. Ainda estou me recuperando e fiquei de atestado até 23 de abril”, relata Mônica. 

No receituário médico, foi indicado que ela tomasse azitromicina, loratadina, prednisona e dipirona. 

“Dos medicamentos citados, apenas a dipirona poderia ser utilizada com segurança. Apesar de não oferecerem maior risco, a azitromicina (antibiótico) e a loratadina (anti-alérgico) são desnecessários no caso de dengue. A prednisona (anti-inflamatório) deve ser evitada devido ao risco de gerar complicações graves da doença, como a dengue hemorrágica. Caso tenha feito o uso inadvertido de algum medicamento contraindicado, a orientação é procurar auxílio médico. O ideal é não utilizar nenhum remédio além de dipirona e paracetamol”, avalia o médico Matheus Todt Aragão, doutor em Ciências da Saúde e professor da Universidade Federal de Sergipe.

Aspirinas, iboprofeno, nimesulida, prednisona, hidrocortisona e ivermectina estão entre os medicamentos contraindicados em caso de suspeita da doença. 

“Quando soube da morte da mulher de 30 anos, vizinha de bairro, fiquei assustada porque eu também poderia ter morrido por ter tomando medicação para Influenza na ida à UPA Demarchi, sendo que eu nem estava tossindo ou tendo secreção. Ainda estou me recuperando, após mais de duas semanas com sensações horríveis por causa da doença.” 

O caso que Mônica Nascimento cita é o da dentista Larissa Costa Duarte, 30 anos, que morreu no último dia 17. O Diário noticiou o caso após a mãe da jovem afirmar que o tratamento recebido pela filha na UPA Demarchi foi crucial para a piora no quadro dela, que tinha o rim transplantado. Ela morreu após ir três vezes à UPA Demarchi com sintomas de dengue, receber medicação mesmo sem ter o diagnóstico da doença, esperar oito horas pela transferência ao Hospital de Urgência e infartar na unidade hospitalar. 

Questionada, a Prefeitura de São Bernardo não se pronunciou sobre ambos os casos. 




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