Cultura & Lazer Titulo
Finalmente, um verão
André Bernardo
Da TV Press
19/12/2004 | 15:54
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Maria Fernanda Cândido está se sentindo a mais carioca das paranaenses. Desde que se mudou para o Rio, em 1999, quando interpretou a sensual Paola em Terra Nostra, ela nunca pôde aproveitar o verão carioca como gostaria. Por conta das personagens de época que fazia, era sempre aconselhada pelos diretores a não ir à praia ou pegar sol. Hoje, graças à exuberante Lavínia, de Como Uma Onda, ela virou quase uma "rata de praia". "Sempre que posso, dou um mergulho no mar antes de ir para o Projac. Se eu chegar ao estúdio com o cabelo cheirando a sal, não tem problema. Faz parte da caracterização da personagem", diz.

PERGUNTA: Lavínia é a primeira personagem contemporânea de sua carreira. Você já andava cansada de só fazer trabalhos de época?

MARIA FERNANDA CÂNDIDO: Bem, cansada não é exatamente a palavra, mas eu confesso que tinha vontade de variar um pouco. Mudar de ares. Já me perguntaram até por que eu só fazia trabalhos de época e eu nunca soube o que responder. Mas, sem dúvida, novela contemporânea é muito mais fácil de fazer do que novela de época. Desde a postura até o vocabulário. Nem se compara. Quando você faz uma novela de época, por exemplo, não pode ir à praia, ficar bronzeada, essas coisas. Para piorar a situação, meus trabalhos coincidiam sempre com o verão. Ou seja, fazia o maior calorzão no Rio e eu não podia aproveitar.

PERGUNTA: E agora? O que mudou?

MARIA FERNANDA: O que mudou é que agora estou podendo aproveitar o verão carioca. Pela primeira vez, estou fazendo uma novela que se passa no verão, no calor, na praia. Quer algo melhor? Se eu quiser dar um mergulho na praia e seguir para o trabalho, tudo bem. Afinal, chegar no estúdio com o cabelo cheio de sal não chega a ser um problema. Faz até parte da caracterização da personagem (risos). E o figurino? Sandálias de couro, saias curtas, tops coloridos. Agora, é só chegar no estúdio e começar a gravar. Antigamente, eu perdia duas horas na sala de maquiagem.

PERGUNTA: Pela primeira vez também, você protagoniza uma novela na Globo. Qual é a dor e qual é a delícia de ser protagonista de novela?

MARIA FERNANDA: Olha, é muito gostoso protagonizar um projeto. Principalmente quando ele é bacana como esse. Como você mesmo disse, a Lavínia é a minha primeira personagem contemporânea, é mãe de uma adolescente, estou atuando na minha primeira novela das seis e assim por diante. Ou seja, é uma novidade atrás da outra. Desde que li a sinopse, já fiquei encantada. Por isso, aceitei na hora. É uma delícia? É. Mas é uma grande responsabilidade também. Afinal, você está ali à frente do grupo, encabeçando o elenco. Protagonizar novela é trabalho para poucos. É realmente difícil, porque temos um volume de cenas grande e não sobra tempo para mais nada. Dificuldades à parte, garanto que ser a protagonista é mais delicioso do que doloroso.

PERGUNTA: A Ana Paula Arósio, com quem você já trabalhou em Terra Nostra e Esperança, costuma dizer que atrizes bonitas têm trabalho dobrado para provar seu talento. Você concorda com ela?

MARIA FERNANDA: Concordo, sim. Mas a dificuldade que as pessoas têm de conciliar beleza e talento não é de hoje. As pessoas não aceitam que beleza e talento sejam virtudes que possam coexistir pacificamente. Oscar Wilde, em O Retrato de Dorian Gray, já dizia que beleza não combina com inteligência. Imagina. O que não dá é para esse tipo de cobrança interferir no meu trabalho. Procuro desenvolver o meu trabalho, ser uma profissional aplicada e seguir a minha vida, independentemente desses ou de outros pré-conceitos.

PERGUNTA: Você ficou surpresa ao ser premiada no último Festival de Brasília por sua atuação no filme Dom? O que aquele Kikito representou para você?

MARIA FERNANDA: Eu confesso que foi uma surpresa mesmo. Sinceramente, eu não esperava ganhar. Principalmente por ser a minha estréia no cinema. Mas eu gosto do filme. Acho que ele estabelece um bom canal de comunicação com o público porque aborda temas como amor, paixão, amizade e ciúmes. Quanto ao prêmio em si, ele não representa qualquer mudança na minha carreira. Vou continuar conduzindo a minha carreira do jeito que eu sempre conduzi. O Kikito que eu ganhei pode fazer diferença para os outros. Para mim, não.

PERGUNTA: Ano passado você concluiu também o curso de Terapia Ocupacional na USP. Quando e como você se interessou por essa carreira?

MARIA FERNANDA: Conheci essa especialidade quando eu ainda era adolescente e fiquei fascinada. Nunca tinha visto nada parecido. Na Terapia Ocupacional, trabalhamos com pessoas com deficiências, incapacidades e limitações físicas, mentais e psicológicas. É uma profissão que respeita o ser humano, sem adotar uma postura de dó ou compaixão. É uma das profissões mais humanas que conheço e, talvez por isso mesmo, seja uma das menos conhecida.

PERGUNTA: Mas você pretende conciliar a profissão de atriz com a de terapeuta ocupacional?

MARIA FERNANDA: Não. Atuar consome todo o meu tempo. O jeito é desenvolver projetos que chamo de fronteiriços. Em julho, por exemplo, organizei uma Oficina de Pesquisa e Leitura de Poesia na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. O resultado foi fantástico. Além do contato com a poesia, incentivamos o uso de um bem cultural público, que é a própria biblioteca e o seu acervo, por parte de uma população que geralmente não tem acesso a esse tipo de informação. O convívio de pessoas tão diferentes entre si foi indescritível. A tolerância ao diferente é algo que ainda temos muito a desenvolver em nossa sociedade.




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