Cultura & Lazer Titulo
Ballet Stagium mostra três montagens no Sesc Santo André
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
22/10/2002 | 20:20
Compartilhar notícia


O Ballet Stagium, cujo trabalho é respeitado – e premiado – também no exterior, surgiu há exatos 31 anos. Fundadora da companhia ao lado de Décio Otero – a parceria, artística e pessoal, perdura até hoje –, Marika Gidali lembra-se da primeira apresentação, em 23 de outubro de 1971: “Fizemos Orfeu e Eurídice no Cine Independência, em Santos. Estavam minha mãe, meu pai, minha irmã e alguns tios. Achamos que foi um grande sucesso”, afirma.

Desta quarta a sábado, o Stagium toma o Sesc Santo André para mostrar três montagens e se colocar como a melhor opção cultural – e com entrada franca – da semana na região: Danças da Ilha de Santa Cruz (quarta e sábado, às 15h), Coisas do Brasil (quinta e sexta-feira, às 15h) e Tangamente (quinta, às 20h30). Os espetáculos têm como característica comum a concepção artística da companhia, baseada na inovação, na liberdade e no apuro técnico. As obras do Stagium são abertas. “Você tem direito a ler o balé da sua própria forma. Cada um tem a sua história, a sua opinião”, diz Marika.

Danças da Ilha de Santa Cruz, de 2000, é uma coreografia criada para o Projeto Joaninha, que a companhia mantém para crianças e adolescentes da periferia paulistana. Dançam crianças que têm entre 8 e 14 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente é o mote.

“É um balé referencial como trabalho com crianças da periferia, que não são tratadas como carentes, mas como cidadãos que têm de ser respeitados. Lutamos por meio da cultura. As crianças recitam, na íntegra, uma leitura poética que Eliakin Rufino fez do Estatuto”, afirma Marika.

Coisas do Brasil, de 1979, é um dos carros-chefe do Stagium, que se revela indignado com a exploração das pessoas e do país. “A idéia é contar a história do Brasil de uma forma mal-criada, mas bem humorada”, diz Marika. A coreografia abarca desde a chegada dos portugueses, passando pelos navios negreiros e terminando com o Carnaval.

A ligeira abertura do regime militar e a campanha pela anistia política, no fim da década de 70, influenciaram a criação do espetáculo. “Coisas do Brasil mostra um país livre de amarras, mais liberado, um Brasil sério e gozado, verdadeiro e cômico. É um balé que contesta sem partir para a violência. E continua atual”, afirma.

Tangamente, de 1995, refere-se à América Latina, e não somente à Argentina. “Há uma identificação entre os povos latino-americanos, as mesmas coisas são ditas em línguas diferentes”, diz Marika. Gênero musical dramático por natureza, o tango contribui para a teatralidade da montagem.

Entra em cena o refinamento da música de Astor Piazzola (1921-1992). “Piazzola fez algo genial, deu uma nova leitura ao tango. Ele colocou o erudito no popular, revolucionou. Inicialmente, não foi aceito na Argentina, mas no mundo inteiro sim. A música unifica os povos, assim como a dança.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;