Cultura & Lazer Titulo
Suingue com veneno inédito de Itamar Assumpção
24/10/2009 | 07:00
Compartilhar notícia
Divulgação


Suingue brasileiro misturado com veneno. O verso de "Nem James Brown" representa em parte o que o compositor Sergio Molina fez com as letras inéditas que Itamar Assumpção (1949-2003) deixou para ele musicar. O CD "Sem Pensar, Nem Pensar" (Selo Cooperativa), que tem show de lançamento amanhã no Sesc Pompeia, destila esse sabor de veneno, que, como já reconheceu a cantora Miriam Maria, tem algo dos compassos quebrados de Arrigo Barnabé na rítmica.

O próprio Arrigo foi convidado a participar da locução na versão II da faixa-título, que tem, digamos, "a cara dele". Com isso, e alguns procedimentos de canto falado à maneira do Grupo Rumo, Molina "atualiza" aquela vertente que ficou conhecida como a vanguarda paulistana, mas "sem abrir mão da tradição" de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Noel Rosa.

Quando entregou as letras para Molina, Itamar disse também que queria a voz de Miriam para cantá-las e que o compositor fizesse as músicas a seu jeito. "Não precisaria imitar o estilo dele", diz Molina. Acontece que as próprias letras de Itamar já têm uma cadência que sugerem caminhos melódicos.

Molina concorda: "O ritmo do texto me sugere coisas que evidentemente vão ter umas pontes. Em algumas partes faço algumas homenagens, com aquelas linhas de baixo."

Molina traz para a música de Itamar uma sofisticação melódica e harmônica, do universo erudito contemporâneo e do jazz, que ele não tinha. "Ele queria esses versos com harmonias mais complexas, com um outro tipo de vocabulário melódico."

Itamar costumava compor sobre as linhas de baixo, e em algumas situações Molina parte do mesmo procedimento. A citada Nem James Brown é uma das que representam essa estética. É "funk que nem James Brown tá sabendo/ porque pulsa pra lá de excêntrico", como diz a letra.

No arranjo, Molina une funk com descarga latina, baião e improvisos jazzísticos. É uma das faixas mais fortes e suingadas do álbum, gravado ao vivo em estúdio, o que confere um caráter de maior espontaneidade ao resultado, embora haja muito arranjo escrito.

Outra faixa das mais pulsantes é "Penso Logo Sinto", que começa como ijexá e termina como vigoroso maracatu. Entendeu, Nereu? também se inclina para o jazz fundido com funk e cita o clássico Fico Louco com muita propriedade.

Das mais bonitas do CD, "Estranha Ideia" e "Autorização" ("Ninguém vai invadindo assim meu coração/ Sem que eu diga venha") são mais harmônicas. A letra desta faz par com a de "Esquisito" ("Você está muitíssimo enganado comigo/ Não é só chegar falando te amo que já vai me levando").

Em relação às letras, Miriam diz que partilha algumas ideias dele como no caso de "Esquisito". "Lógico que algumas coisas têm a ver comigo, porque a gente tinha uma proximidade, ele me conhecia. Só que são letras muito fortes, e às vezes para mim é até um pouco difícil cantar umas que são mais confessionais."

Das 16 faixas, duas já tinham sido gravadas por Itamar, "Prezadíssimos Ouvintes" (dele e Domingos Pellegrini) e "Penso Logo Sinto". Não Importa foi a primeira parceria com Molina. No CD há duas versões, uma delas gravada parte em estúdio e parte em show, com participação da plateia.

Clara Bastos, que inventou várias linhas de baixo além das que Molina escreveu, é, como Miriam, ex-integrante da banda Orquídeas do Brasil - que acompanhou Itamar durante anos e também está no CD, em "Não Importa". A banda do show é a mesma que gravou o disco e tem também Mariô Rebouças (piano) e Priscila Brigante (bateria e percussão).




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;