Cultura & Lazer Titulo Velha guarda
Estandarte do samba

Cantor e compositor Monarco lança álbum depois de quatro anos

Miriam Gimenes
26/10/2018 | 07:35
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Divulgação


Monarco nasceu Hildmar Diniz, há 85 anos, no bairro de Cavalcante, no Rio de Janeiro. Ganhou o apelido, que acabou por virar nome artístico, ainda criança, à época em que brincava pelas ruas de Nova Iguaçu. “Tinha uns 9 anos e um camarada estava vendo uma revista de super-heróis e pronunciou a palavra ‘monaco’. Achei graça e ele disse: ‘Do que está rindo, ‘monaco’? As crianças começaram a pular e me chamar assim e o apelido pegou.” O ‘R’ veio depois para facilitar a pronúncia do nome.

Pouco tempo depois de ser ‘batizado’, mudou-se para o bairro de Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio, berço da Portela – sua escola do coração e da qual é um dos integrantes da velha guarda – onde começou a ‘rabiscar’ seus primeiros sambas, por influência da convivência com os bambas locais. E de lá para cá foram inúmeros clássicos escritos e gravados, os mais recentes reunidos no disco recém-lançado Monarco de Todos os Tempos (Biscoito Fino, R$ 30, em média).

Neste trabalho, o primeiro após quatro anos de intervalo do último disco, Monarco imprime sua voz forte, áspera, expressiva e inconfundível em 16 faixas. “São inéditas e algumas regravações. Uma delas é a que Zeca (Pagodinho, em Hora da Partida) já gravou, mas acabou não acontecendo. A música tem dessas coisas. E esta é boa, e achei que valeria colocar neste álbum.”

O disco foi produzido por seu filho, Mauro Diniz, que fez os arranjos, tocou cavaquinho em todas as faixas e dividiu com o pai a autoria de seis delas. “Mauro sabe para onde eu vou, conhece os caminhos, descobre o acorde certo, é mais que um parceiro.” O filho só não participou da escolha do repertório, já que quase todas as músicas – exceto uma – foram selecionadas por Monarco.

A exceção é Obrigado pelas Flores, incluída a pedido da gravadora. Monarco escreveu essa canção após fazer um show em 1978 para comemorar o êxito da cirurgia a que se submetera. Para sua surpresa, recebeu ao fim da apresentação um buquê, ofertado pela amiga sambista, que morreu em abril, dona Ivone Lara. Trata-se, portanto, de uma singela homenagem e denota o carinho com o qual ele compôs este trabalho. “Todo mundo está gostando do disco. Falamos muito sobre desilusões amorosas, coisas da natureza, samba de partido alto, momentos alegres e tristes, mas de tristezas bonitas”, analisa.

Ele, que foi amigo do também sambista Cartola e, assim como o bamba, ganhou o status de mestre, diz que o gênero musical do qual é estandarte, ainda que marginalizado, se mantém forte. “O samba está aí, mas não vive um grande momento. Está esquecido, só é lembrado no Carnaval, depois viramos ‘João Ninguém’. Tentam puxar nosso tapete, mas não conseguem. Se não tocar na rádio, cantamos na esquina. Ele é um patrimônio cultural do nosso País.” Só o fato de ainda ter quem acredite e valorize a sua obra, acrescenta, já fez valer o legado que construiu. “Isso não há dinheiro que pague. Minha carreira é muito boa e estou bem feliz. Vivo bem e ainda sobra um dinheirinho para viajar com a minha pretinha”, finaliza, aos risos.  




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