Oferecido no Cras Feital, projeto tem investimento do Judiciário e já conta com fila de espera
Muitos jovens que vivem em situação de vulnerabilidade não enxergam oportunidades além daquelas que fazem parte do convívio deles. Aprendizado no ramo da tecnologia, não raras vezes, parece distante para muitos adolescentes, o que pode atrapalhar o futuro, tendo em vista que todos estão direta ou indiretamente inseridos na era da tecnologia.
No Ensino Médio de países da Europa, por exemplo, disciplinas que tratam de programação e robótica estão na grade curricular, assim como Matemática. Os jovens aprendem desde cedo que o mercado de trabalho depende do conhecimento. Seguindo esse exemplo, a Prefeitura de Mauá, em parceria com o Judiciário, implementou o curso de robótica para adolescentes no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Feital.
Matheus da Silva Caldas Araújo, 18 anos, faz parte do grupo de alunos atendidos pelo programa. O jovem sonha em seguir carreira militar, como fuzileiro naval da Marinha. No entanto, ressalta que não tem condições financeiras para bancar curso preparatório para entrar na corporação e diz almejar fazer parte do IBPM (Instituto Brasileiro de Preparação às Escolas Militares).
Ele foi chamado pela equipe do Cras, que selecionou famílias com mais necessidade. Para Araújo, que adora jogar futebol, o curso de programação e robótica vai ajudar a avançar na vida. “Através dessa especialização posso conseguir um emprego adequado. Atualmente faço bico cortando cabelo e como servente. Mas preciso de algo fixo, até que consiga entrar para companhia militar.”
O curso atende alunos de 12 a 17 anos, e também maiores de idade que fazem parte do Ação Jovem. Com apenas 13 anos, João (nome fictício) conta animado que ama Matemática e prevê ser grande engenheiro civil. “Esse curso contribui para o meu amadurecimento e me dá oportunidade de arrumar um trabalho quando tiver idade suficiente.
Além disso, para Engenharia, a base do curso é conta, o mesmo que usamos em programação e robótica. Vai me ajudar muito para meu futuro.”
A única menina do grupo, Ana (nome fictício), com 14 anos, espera ser veterinária, mas como não acha que será tão fácil entrar em uma faculdade, acredita que usará o que aprende no Cras como oportunidade. “Aprender programação e robótica me abrirá caminhos, estou gostando e aprendendo muito.”
Muito sorridente, a menina conta que pega quatro conduções para ir e voltar do curso, mas o longo percurso não a cansa. “Quero ser alguém quando crescer, e para isso sei que preciso me esforçar.”
Chamado de Mauá do Futuro, o projeto é um piloto que deve se espalhar para os outros Cras a partir do ano que vem.
O curso tem vaga para 16 alunos e já possui lista de espera para três turmas. Marco Sestini, juiz da Vara do Júri de Execuções Criminais e da Infância e Juventude, e Angélica Ramos Frias, promotora, visitaram o local e afirmaram que o investimento foi realizado com o valor arrecadado nas suspensões de processos. “Utilizamos o dinheiro das multas para transformar a vida dos jovens, porque assim eles podem ter um emprego baseado neste aprendizado, seja em uma startup ou em carreira acadêmica. Queremos descobrir talentos”, disse Sestini.
O curso consiste em três módulos: programação, eletrônica e robótica. A ideia é montar robôs de baixo custo integrado à computação, inclusive com a utilização de materiais reciclados, construindo peças e elaborando objetos que sejam funcionais. A metodologia, chamada de aprendizagem criativa, apresenta o conteúdo de forma prática, incluindo a programação de jogos por meio do software Scratch, um programa desenvolvido pelo laboratório do MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos.
Para o professor da turma, Rafael Antônio Soares da Silva, 33, é motivador ver o interesse dos jovens. “Aqui descobri que eles podem ir muito além. São extremamente inteligentes, interessados e dedicados. Neles, vejo que temos a possibilidade de criar novas perspectivas de vida. Todos têm potencial, basta ser explorado”, avalia, otimista.
Objetivo é expandir programa em 2019
Gerente de TI (Tecnologia da Informação) da Prefeitura de Mauá e coordenador do projeto, Kleber da Silva Divino, 35 anos, comemora iniciativa do Judiciário e ressalta a importância na vida dos meninos de aprender cursos na área. A ideia do programa é criar um maker space, ou seja, um espaço criativo para criar e fazer acontecer.
O Mauá Maker Clube será um espaço, no Paço, que terá aparelhos como impressoras 3D e máquinas de corte a laser para vivências dos projetos criados em sala. Divino afirma que nenhuma aula usa lousa, mas sim o fazer.
Também haverá duas escolas disponíveis para o curso, além dos Cras. “Os alunos de 13 a 16 anos conhecem novas áreas e oportunidades. Muitos vivem somente aquilo que conhecem, e aqui podem descobrir novas experiências para o futuro. Já com os maiores, a intenção é prepará-los para o mercado de trabalho e dar suporte para mudança de vida”, explica o coordenador.
A verba de R$ 1,2 milhão vem do Judiciário e será um repasse por multas. A ideia do juiz é usar o dinheiro para criar um futuro melhor aos jovens, tirá-los das ruas e da proximidade com drogas. “Queremos fazer o polo (Mauá Maker Clube) funcionar o quanto antes. Até o fim do mês deve abrir edital para chamamento de profissionais e compra de equipamentos. Vamos poder mudar o destino de muitos jovens”, comemora Divino.
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