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Bicicleta para todas as idades

Projeto desenvolvido por ciclista que já foi campeão brasileiro ensina moradores de Mauá a andar de bike

Bianca Barbosa
08/07/2018 | 07:21
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Denis Maciel/DGABC


O sonho da dona de casa Irene Martinho Volpi, 76 anos, demorou para se tornar realidade. “Sempre quis aprender a andar de bicicleta. É uma coisa tão simples para muita gente, mas para mim foi um enorme desafio”, revela a primeira aluna com mais de 60 anos a frequentar projeto desenvolvido em Mauá. Criado pelo professor Canguru, como é conhecido o ciclista Cícero Neto, 56, o programa começou em outubro, com materiais do atleta e ajuda da Prefeitura, que cede o Ginásio Poliesportivo Celso Daniel para as atividades e paga o salário do professor. As aulas são de terça a sexta-feira, a partir das 14h, e para participar é necessário apresentar documentos e esperar o chamado – hoje, a fila de espera tem cerca de 20 pessoas.

Os olhos atentos do professor, campeão brasileiro em 1996, correm pelo pátio para acompanhar desde a aluna mais nova, Manuela, 2 anos, até a mais experiente, dona Irene. As aulas começaram em outubro, mas bem antes o professor buscava projeto que pudesse atender aos interessados que o procuravam. “Tenho uma loja de bicicletas e sempre tinha que fazer algo para movimentar os clientes. Aí comecei a dar aulas, mas precisava de muitas bicicletas, do lugar, de apoio financeiro. Foi então que eu e minha mulher fizemos um projeto e apresentamos ao prefeito (Atila Jacomussi, PSB, hoje afastado). Desde então estamos aqui”, lembra. Cerca de 30 alunos já foram formados, e atualmente 56 estão no curso, dos quais 14 com mais de 60 anos, que seguiram os passos de dona Irene. O projeto é gratuito e dura aproximadamente três meses. “O povo não para de ligar atrás de vaga”, afirma Canguru, feliz com o resultado.

A felicidade também está estampada no sorriso da dona de casa Ivaneide Pereira da Silva, 59, enquanto manobra sua bike. “Pedalar representa muito para mim. Tive paralisia infantil, e minha infância foi muito restrita, não podia brincar nem de pega-pega com meus amiguinhos”, lembra. Por causa da doença, o lado esquerdo de Ivaneide responde de forma mais devagar aos estímulos do corpo, mas isso não foi impedimento para viver o sonho de andar de bike. “No dia que consegui andar sozinha foi um misto de riso e choro. Gritava para todo mundo, fiquei tão emocionada”, relata, orgulhosa.

Hoje ela pratica zumba, musculação e está sempre nas aulas do professor Canguru. Ivaneide diz que, sem saber, aprendeu a andar de bicicleta no mesmo dia que o neto, 1 ano. “Meu filho ligou, e quando contei ele deu risada, porque o meu pequeno tinha aprendido no mesmo dia.”

O ensinamento é o mesmo para todas as idades, segundo Canguru. “Primeiro aprendem o equilíbrio, depois coloco o pedal, ensino a postura, a fazer curvas, tudo direitinho e bem devagar para pegarem o jeito. Dura uns três meses ao todo.”

As crianças aprendem um pouco mais rápido, com pouco mais de seis aulas. Quem tem bicicleta leva, quem não tem, usa o material do professor. Para a vendedora Ângela Marques do Nascimento, 33, que é mãe de Asafe, 6, as aulas e dedicação do professor foram essenciais para o filho aprender a pedalar. “O que nós tentamos por três anos, o Canguru conseguiu fazer em dois dias”, comenta Ângela.

Trabalho diferenciado dá resultado

O sucesso do professor Canguru com os alunos é, de fato, resultado do trabalho diferenciado. A assistente social Priscila Sant’Ana, 31 anos, é mãe de Pedro, 4, e da mascote da turma, Manuela, 2. “Descobri as aulas por acaso, trazendo minha cunhada aqui no ginásio. É um projeto maravilhoso, que merecia ter mais apoio. O Canguru é muito dedicado, está o tempo todo junto com os alunos, estimula, diz que confia, que a pessoa vai conseguir”, comenta.

A vendedora aposentada Marlene Rodrigues Alves, 66, concorda: “Ele é o diferencial, fez esse esporte ser o meu preferido.” Ela conta que, apesar de ter aprendido ainda criança, já tinha esquecido como se anda de bike. “Agora voltei com tudo, faço ioga, hidroginástica e até lian gong. Me sinto melhor agora do que quando tinha 30 anos”, revela.

De acordo com a médica da família Amanda do Val Anderi, está comprovado que quanto mais ativa é a pessoa, menos limitações físicas ela tem. “A prática de atividade física promove a melhoria da composição corporal, diminui dores articulares, aumenta a densidade mineral óssea, melhora a utilização de glicose e o perfil lipídico, aumenta a capacidade aeróbia e melhora força e flexibilidade”, explica.

Cada aula é oportunidade de superação para algum aluno. A repositora Vanessa Coutinho de Carvalho, 31, disse que o projeto auxiliou nos movimentos das pernas. “Sou especial, tenho hidrocefalia, mas me sinto tão bem na bicicleta, melhorou meus movimentos. Sonho um dia poder pedalar igual a eles (crianças). Estou quase conseguindo”, afirma. Já a dona de casa Irene, citada no inicio da reportagem, está de castigo, porque há alguns meses precisou fazer um exame de cateterismo. “Agora só venho assistir às aulas, mas vou voltar em agosto. Isso aqui é uma terapia para mim, me sinto ainda mais feliz quando pedalo.”

E dona Irene não está errada, de acordo com a médica Amanda. Além de todos os benefícios físicos, existem os psicossociais. “Ajuda também no alívio da depressão, no aumento da autoconfiança e melhora a autoestima.”

Quando regular e bem planejada, a atividade física contribui para a diminuição do sofrimento do idoso deprimido, além de oferecer oportunidade de envolvimento social, com saída do quadro depressivo e menores taxas de recaída. Como disse a dona Irene, “pedalar faz bem até para a alma”.

Cidades dão atenção à terceira idade

Engana-se quem pensa que atividades voltadas para idosos são paradas e sem graça. Conforme reportagem de 2015 do Diário, em 2025 o número de idosos será maior do que o de crianças na região. Com o aumento dessa população, prefeituras investem na diversidade de cursos e ações para atrair e cuidar da melhor idade.

Além das aulas de ciclismo, Mauá oferece vôlei adaptado, musculação, natação, futebol, capoeira, ginástica, ioga, zumba e hidroginástica. Todas as segundas-feiras, a partir das 15h, também é realizado baile na sede das oficinas culturais, na Vila Bocaina.

Já São Bernardo inaugurou há poucos dias o Programa Cuidadoso, que funciona nas dependências da UBS (Unidade Básica de Saúde) Rudge Ramos, com atendimento médico, geriatras, dentistas, orientações farmacêuticas e serviços ofertados pelo Nasf (Núcleo Ampliado de Saúde da Família). Outro programa, o De Bem Com a Vida, tem objetivo de desenvolver práticas corporais, visando a qualidade de vida dos idosos. Na área de esportes, a cidade oferece atletismo, bocha, dança e outras atividades, realizadas duas vezes por semana em diversos bairros. 

Em Santo André, aulas de informática, musicalização, zumba, ginástica, inglês, ioga, dança cigana, artesanato, teatro, memorização, pintura a óleo e dança circular são ministradas, entre outras opções.

Ribeirão Pires oferece, entre outras atividades, boxe adaptado, ginástica, hatha yoga, alongamento, zumba, dança cigana, dança de salão, coral, cantoterapia, dominó, artesanato, patchwork, pintura em tecido, tricô, bordado, crochê, corte e costura e informática (básico e intermediário). Também promove passeios, palestras, eventos culturais, bailes, festas e oficinas de culinária.

Os moradores de São Caetano acima dos 50 anos também podem participar de diversas atividades ofertadas pela Prefeitura, tanto sociais quanto de lazer, esportivas, e cursos de idiomas nos Cises (Centros Integrados de Saúde e Educação). A Universidade da Terceira Idade, com aulas gratuitas no período da tarde, dispõe do módulo básico, de dois anos, para o qual estão inscritos 249 alunos; e o avançado, com um ano e 265 participantes.

Rio Grande da Serra e Diadema não responderam sobre as atividades até o fechamento desta edição.<TL> 




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