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E a chuva castiga o ABC mais uma vez
Bruna Gonçalves
Camila Galvez
03/02/2011 | 07:24
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Quinze dias. Foi esse o tempo da trégua das chuvas no Grande ABC. São Bernardo, Diadema e Santo André voltaram a enfrentar ontem a força das águas. Córregos transbordaram, a circulação de trólebus foi interrompida por causa dos alagamentos e o Paço Municipal de São Bernardo, cidade mais atingida, voltou a ficar debaixo d'água. O trânsito travou e muitos motoristas perderam a tarde - e a paciência.

Sandro Pedro Silva, 41 anos, ficou parado na Rua Jurubatuba, dentro do ônibus que dirige, por pelo menos uma hora. "O Grande ABC não tem mais jeito", lamentou. Uma fila de motoboys se formou diante do alagamento, mas não arriscou passar. "Saí de uma enchente na Vila Vivaldi para entrar em outra aqui", reclamou Francisco Cavalcanti, 32.

O CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) registrou o extravasamento do Ribeirão dos Meninos, em São Caetano e em Santo André, e do Córrego Saracantan, em São Bernardo. O pico das chuvas na região foi registrado sobre o Córrego Chrysler, em São Bernardo, com 63,2 milímetros. O Ribeirão dos Meninos ficou em segundo lugar, com 54,4 milímetros de chuva.

Em São Bernardo, por volta das 15h, havia pontos de alagamento nas avenidas Maria Servidei Demarchi, Marechal Deodoro com Prestes Maia, Faria Lima e no entorno da Praça Samuel Sabatini.

Segundo a Defesa Civil da cidade, houve ocorrências de alagamento no Jardim Petroni, desmoronamento no Ferrazópolis, desabamentos no Jardim Ipê e Terra Nova, alagamentos em moradias no Detroit e Divinéia, deslizamento no Royal Parque e uma queda de árvore no Jardim Ipanema. Não foram registradas vítimas.

Em Santo André, o Rio Tamanduateí transbordou e deixou pontos de alagamento na Avenida dos Estados, na altura do Viaduto Adib Chammas e perto do Auto Shopping Global, no sentido Mauá. No sentido São Caetano, houve alagamento próximo à Rua do Ouro, na Vila Metalúrgica. O Departamento de Segurança de Trânsito registrou quatro quilômetros de lentidão.

Por medida de segurança, foi fechada por cerca de uma hora a alça do Viaduto Adib Chammas, que dá acesso à Avenida dos Estados, sentido Mauá. Outro ponto que permaneceu fechado por 30 minutos foi próximo à Rua do Ouro, sentido São Caetano. O trânsito foi liberado por volta das 15h20, quando a água baixou.

Santo André ainda registrou alagamentos na Avenida Queirós dos Santos, no cruzamento da Avenida Firestone com a Avenida Santos Dumond e na Praça 14 Bis.

No cruzamento da Rua Coronel Fernando Prestes com a Avenida Coronel Alfredo Fláquer, um semáforo caiu após ventos fortes, atingindo um veículo. Não houve feridos.

Circulação do transporte público é prejudicada pelo temporal 

Pontos de alagamentos e quedas de energia elétrica provocados pelo temporal afetaram o transporte público na região. Os terminais Santo André e São Bernardo da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) ficaram inundados. A água impediu a entrada e saída dos ônibus por cerca de duas horas, entre 14h e 16h.

Neste intervalo, também foram registrados problemas na distribuição de energia elétrica em parte do Corredor Metropolitano ABD. Os trólebus ficaram impedidos de circular e passageiros tiveram de esperar pela passagem de ônibus movidos a diesel.

Por 30 minutos, os trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) ficaram impedidos de percorrer as estações Santo André e Capuava da Linha 10-Turquesa (Luz-Rio Grande da Serra).

Para atender aos usuários do serviço, a companhia acionou o sistema Paese, transferindo por ônibus os passageiros entre as estações que ficaram alagadas.

Motorista enfrenta a primeira enchente 

A recepcionista de São Mateus, moradora na Zona Leste da Capital, Cátia Rangel, 31 anos, não vai esquecer dos momentos de tensão que viveu ontem à tarde, em Santo André, por causa da chuva.

Grávida de cinco meses, Cátia voltava de uma consulta, quando foi surpreendida pelo transbordamento do Rio Tamanduateí, na Avenida dos Estados.

"Não queria vir de carro. Tirei a carteira no fim do ano passado e, quando vi a Avenida dos Estados cheia, fiquei apavorada. A gente vê na televisão, mas não imagina como é", conta Cátia, que aguardava o nível da água abaixar, no Viaduto Adib Chammas. "Meu marido estava comigo no médico, mas precisou voltar para o trabalho. Se estivesse, estaria mais tranquila."

Com o transporte público da cidade prejudicado, a professora Andreza Paiva, 31, resolveu ir caminhando para casa. "Trabalho na Zona Sul e uma amiga me avisou. Vim de trem, mas ao chegar vi que não passaria ônibus. Optei caminhar 20 minutos até o bairro Bangu", explica.

O pastileiro de Mauá José Manoel Filho, 33, torcia para não esperar quatro horas para o nível do rio abaixar, como na enchente do mês passado. "Acabei de sair do trabalho, tenho família e não vou me arriscar no meio das águas. O jeito é esperar."

A auxiliar administrativa de Santo André Fernanda Gouveia, 16, lembra que na enchente de 15 dias atrás demorou nove horas para chegar em casa. "Não vou esperar, vou a pé mesmo."

Outros perderam a tarde de trabalho aguardando a chuva passar. "Estava indo a trabalho para o Parque das Nações (em Santo André), mas pelo visto não vai ser possível tão cedo com essa chuva."

Piauiense fica ilhada no terminal rodoviário João Setti 

A chegada da piauiense Zilma Modesto, 35 anos, a São Bernardo, ontem, não teve as boas-vindas que ela imaginava. Ao desembarcar do ônibus, a mulher que fugiu da seca e das dificuldades do sertão nordestino para buscar vida melhor deu de cara com o alagamento que parou o Centro da cidade para a qual se mudou.

Sem poder sair do Terminal Rodoviário João Setti por causa da enchente na Rua Jurubatuba e na Avenida Faria Lima, ela esperava a água baixar com malas e dois filhos pequenos, Cledson e Cleylson. "Só tinha visto isso pela televisão, mas não dá medo. Se a gente fica aqui não tem perigo", disse.

A cunhada de Zilma, Rita Modesto, 41, conhece bem a rotina: mora perto do Centro e passou por outros alagamentos. "Época de chuva é sempre igual", resignou-se.

ESPERA
Sentada dentro da loja de móveis na qual trabalha como vendedora na Rua Jurubatuba, Silvia Inácio de Lima, 62, esperava pacientemente que as águas baixassem. "Temos três degraus na porta para impedir que a água atinja nosso produto. Mas temos prejuízo mesmo assim, porque não entra um cliente enquanto a rua está desse jeito", lamentou.

O remédio da atendente de telemarketing Márcia Ribeiro, 42, também era esperar. Ela tentava atravessar o Paço Municipal e chegar à Avenida Lucas Nogueira Garcez. "Já tentei por todos os lados, tudo está debaixo d'água". Mais uma vez, Márcia.




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