Seu José Belchior perdeu a esposa há quatro anos. A dor dura até hoje e a solidão faz parte da herança que dona Sebastiana deixou. O consolo do aposentado de 80 anos, morador de Mauá, é cuidar das plantas que a companheira tratava com esmero.

Para seu desgosto, uma das espécies que monta guarda na calçada foi podada quase totalmente há dez dias. A coroa de folhas que se erguia há 25 anos veio abaixo quando seu José solicitou à Prefeitura o corte de alguns galhos que ameaçavam a fiação elétrica.

A poda deixou um espaço na lembrança de seu José. "Percebi que alguns galhos estavam muito próximos dos fios, resolvi chamar a Prefeitura. Me arrependo muito", lamentou. Não adiantou brigar com o funcionário público que deixou quase pela metade a antiga árvore.

"Recebi o rapaz da poda e entrei em casa. Em menos de uma hora ele conseguiu acabar com a planta que demorou décadas para crescer", criticou.

CARINHO
Para agradar a mulher, seu José costumava entrar em lotes vagos de Mauá à procura de novas mudas.
Pequenas roseiras e espécimes que nem mesmo seu José conhece fazem a recepção do lar onde viveu os últimos anos ao lado de dona Sebastiana. "Eu não era acostumado a mexer com plantas. Mas minha mulher me deixou isso como herança", contou o aposentado com lágrimas nos olhos.

MANEJO
O biólogo do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais Israel Gomes Vieira explicou que existem técnicas e até períodos do ano para executar a poda em plantas no perímetro urbano.

O especialista antecipa que não é recomendado retirar toda a copa de uma árvore, mesmo que a galhada ameace a fiação elétrica. "Existem cortes que retiram parte da copa. A fiação permanece segura e a árvore pode florescer", falou Vieira.

Algumas espécies não suportam a poda completa da galhada, conforme explicou o biólogo. "A aroeira salsa e a canelinha podem sobreviver a podas drásticas, por exemplo. A época do ano mais segura para a poda é no fim do inverno ou início da primavera", informou.

A Prefeitura de Mauá não se pronunciou até o fechamento desta edição.