As irmãs Bárbara, 6 anos, e Liliane de Gouveia Neves, 2, e um vizinho delas, Cléberson Leonardo Souza Santos, 4 anos, morreram soterrados após um deslizamento de terra que atingiu três barracos na favela do Parque São Bernardo. Outros 11 moradores ficaram feridos e dez famílias estão desabrigadas. A favela está passando por obras de reurbanização, mas, segundo a Prefeitura de São Bernardo, as intervenções no local do acidente estavam programadas para uma segunda fase em data ainda não definida.

As garotas dividiam o barraco, do lado direito do morro, com mais quatro irmãos, os pais e a avó. “Foi tudo muito rápido. Ouvi um barulhão e levei uma pancada na cabeça, mas continuei consciente. Consegui me levantar e cheguei à minha avó. Ela estava bem, mas quando cheguei perto da Bárbara, vi que ela não estava mais respirando. Foi um terrível pesadelo”, contou o irmão mais velho das garotas, José Antonio Barros Neves, 23.

Do lado esquerdo da encosta ficava o barraco onde morava a família de Cléberson, que morreu antes de chegar ao Pronto-Socorro do Hospital Príncipe Humberto. A mãe, o pai e a irmãzinha de um ano sofreram ferimentos leves. “Meu filhinho queria ser bombeiro e foi embora dessa maneira”, lamentava-se a mãe, Maria Adriana Souza do Nascimento, 25.

Antes de o Corpo de Bombeiros chegar, a vizinhança já tinha se mobilizado e retirado parte dos soterrados. Não houve feridos graves. “Foi a coisa mais horrível do mundo. Já imaginou acordar com os gritos das pessoas pedindo socorro, naquela escuridão e não poder fazer quase nada?”, lamentava-se o ajudante de eletricista Juvenal Pedro da Silva, 29, tio das garotas, que mora próximo ao local do acidente. Silva contou que há cerca de três anos a cozinha da casa da família das irmãs foi destruída por um deslizamento semelhante.

O acidente desta segunda aconteceu durante as fortes chuvas que atingiram. Das 9h de domingo até as 9h desta segunda, foi registrado índice pluviométrico de 23,6 mm³. Neste mês, já choveu 62,4 mm³, enquanto em julho inteiro do ano passado o índice foi de 39 mm³, segundo o metereologista Luiz Alves dos Santos Neto, da Agência Climatempo. A chuva deve diminuir de intensidade a partir desta terça.

Urbanização – O Parque São Bernardo é uma das 22 áreas de risco de deslizamento nas quais a Prefeitura realiza obras de urbanização: drenagem nas encostas, instalação de redes de esgoto e água e pavimentação. A área onde houve o deslizamento, que corresponde ao setor 6 do projeto, ainda não havia sido drenada. “Agora, toda a área deverá ser reestudada, pois já não existem encostas. Nosso primeiro passo foi retirar as famílias do local”, afirmou o secretário de Habitação e Meio Ambiente, Paulo Massoca. A porção de terra que desabou era utilizada como lixão pelos moradores.

Em parceria com o programa Habitar Brasil/BID, do Ministério das Cidades, a urbanização do bairro prevê a transferência dos moradores das áreas de risco para 665 casas, das quais 208 deven ser entregues no próximos dias. O ministro Olívio Dutras, das Cidades, vistoriou as obras no mês passado.