Setecidades Titulo Meio Ambiente
Zoo terá só animais
da Mata Atlântica

Espaço localizado no bairro Parque Estoril, em São
Bernardo, se torna exclusivo para a fauna regional

Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
02/04/2012 | 07:00
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Até o fim do ano, o Zoológico do Parque Estoril, em São Bernardo, será espaço exclusivo para animais da Mata Atlântica. O objetivo é transformar o lugar, inaugurado em 1985, em santuário para a população conhecer melhor a fauna da região e alertar para os perigos da destruição de nossas áreas verdes. Hoje o zoo possui 140 animais de 65 espécies diferentes, sendo 50 ameaçados de extinção.

Para que a readequação seja feita, alguns bichos serão realocados em outros zoológicos do País. O processo, porém, não é fácil. "No caso dos papagaios-verdadeiros, por exemplo, naturais da Amazônia, há dificuldade em levá-los para outros locais. Em geral, são aves mais comuns e os zoos não querem aceitar", afirma o veterinário Marcelo da Silva Gomes.

Outros bichos, como as duas emas machos, comuns no cerrado brasileiro, devem ficar em recinto separado, longe dos olhos dos visitantes. "São animais velhos, que estão conosco há 15 anos. Um deles tem catarata e quase não enxerga. Não seria justo tirá-los de seu lar", afirma. No caso das aves amazônicas que não conseguirem espaço em outros locais, a ideia é fazer viveiros e não expor os animais.

Na lista dos ameaçados de extinção e que fazem parte da coleção do zoo estão o papagaio chauá, papagaio de peito roxo, arara azul, arara canindé, curica, araçari banana, anta, jacaré de papo amarelo e jabuti. O espaço também é o lar do cachorro-vinagre, espécie relacionada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais como ‘quase ameaçada', devido ao isolamento de suas populações e à destruição do seu habitat. "Viver em cativeiro não é a melhor opção, mas nesses casos é necessário para a preservação das espécies. Aqui eles podem se reproduzir e diminuir o risco de extinção", diz Gomes.

Para alguns animais, os mimos recebidos dos tratadores se transformam em laços de amizade, como é o caso do jacaré de papo amarelo Diniz, o xodó do tratador Fábio Bianchini, 30 anos. Diferentemente dos seus parentes, Diniz é manso. "Ele não comia quando deixávamos a carne na jaula e decidi alimentá-lo com a ajuda de uma pinça, diretamente na boca. Ele se acostumou e agora só come assim." Diniz, um garotão que tem entre 15 e 20 anos, não ficará solteiro por muito tempo. O zoo se prepara para receber duas fêmeas daqui a dois meses.

Enquanto isso, outro jacaré da mesma espécie aguarda transferência para o zoológico de Paulínia, no interior do Estado, em 15 dias. Ele foi capturado em pesqueiro de Mauá há três meses e levado com dois anzóis no estômago para tratamento. "Não podemos ficar com ele. É maior do que o Diniz, com 2,46, e pode matá-lo em disputa por território", afirma o veterinário.

Já os irmãos Gordo e Gandhi, duas antas com 200 quilos cada, não podem ver o tratador Wladimir Périgo Korban, 37, que logo se espremem no portão do viveiro a espera do almoço e de cafuné. Sob seu comando, os bichos sentam e até deitam para realização de exames clínicos. "São animais dóceis, mas o Gandhi é mais tranquilo. Todos os dias corremos em volta do lago."

A preservação da espécie é motivo de preocupação para o tratador, que aprendeu a amar esses animais. "Uma das propostas do novo Código Florestal é limitar de 80 para 15 metros a mata auxiliar nas margens dos rios, local onde as antas vivem. Isso é muito perigoso e temo que eles desapareçam da natureza", lamenta.

Metade dos bichos resgatados e tratados volta à natureza

Desde a criação do Zoológico do Parque Estoril, animais selvagens feridos, mutilados e maltratados, recolhidos pela Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros ou Guarda Civil Municipal, são encaminhados para tratamento veterinário. Com capacidade para atender até 20 bichos, a média dos que conseguem retornar para a natureza é de 50%. "Soltamos o animal onde o encontramos, para facilitar sua adaptação", explica o veterinário Marcelo da Silva Gomes.

A maior parte dos bichos tratados são aves de rapina como corujas e gaviões, feridos por linha de pipa com cerol, atingidos por cacos de vidro, pancadas, tiros de chumbinho ou estilingue. Um dos casos recentes é de um falcão peregrino, ave migratória. "Chegou com fratura exposta na pata esquerda, já necrosando. Tivemos de amputar a pata e vamos colocar uma prótese de cobre e alumínio."

O falcão, no entanto, não voltará para a natureza, assim como uma arara azul, que teve seu bico arrancado após um coice de cavalo. Esses animais devem ser expostos em viveiro especial, como forma de alerta para a importância do cuidado e da preservação da fauna brasileira.




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