Charles Darwin (1809-1882), o autor de Origem das Espécies, lamentava não ter aprendido a desenhar. O formulador da teoria da seleção natural certamente se emocionaria com o belíssimo A Árvore da Vida (Ática, 40 págs., R$ 21,90) do artista gráfico Peter Sís, um tcheco radicado nos Estados Unidos.

A instigante biografia de Darwin escrita e ilustrada por Sís foi premiada e aclamada pela crítica desde seu lançamento, em 2003. Por aqui, foi editada em 2005, mas é destaque no estande da editora na 19ª Bienal do Livro, que se encerra neste domingo, em São Paulo.

Sís respeita a linearidade dos fatos da vida do pesquisador, mas o projeto gráfico surpreende o leitor (criança ou adulto) a cada página. Baseado nas minuciosas anotações de Darwin, ele nos aproxima do rapaz que, aos 22 anos, embarcou no navio Beagle e desbravou fauna, flora e costumes da costa da América do Sul.

Além do imenso talento gráfico - Sís faz estonteantes cenas com muito pontilhismo e hachurados e trabalha magistralmente os tons pastéis - ele acerta no tom da narrativa. A sacada foi mesclar anotações científicas e fatos íntimos, como o sofrimento do jovem frente à desaprovação do pai quanto à viagem que mudaria sua vida ou, mais tarde, a dor pela perda dos filhos.

O dinamismo prossegue quando o autor relata a trajetória do gênio em três camadas: a vida pública, a vida privada e a vida secreta. Nesta última percebe-se o quanto e como ele foi se enchendo de coragem para tornar pública a teoria da evolução. Mostra quem foram seus apoiadores e detratores. É deliciosa a passagem da discussão entre um representante da Igreja Católica e um aliado de Darwin, Thomas Henry Huxley, no célebre debate em Oxford, em junho de 1860. O bispo Samuel Wilbeforce pergunta a Huxley se ele descendia de um macaco por parte do avô ou da avó. Huxley retrucou que preferia ser neto de um macaco a ter parentesco com um homem que usava a mente em favor do preconceito e da falsidade.