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Especialistas alertam para dislexia na volta às aulas
Célia Maria Pernica e Luciana Yamashita
Do Diário do Grande ABC
10/02/2008 | 07:44
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Elas são inteligentes e desenvolvem talentos em diversas áreas. Apresentam QI (Quociente de Inteligência) acima da média. Mesmo assim, quem tem dislexia ainda é tachado de burro ou preguiçoso.

A dislexia não é considerada uma doença, mas um distúrbio de aprendizagem na área da linguagem. Os disléxicos apresentam dificuldades com a leitura, a escrita e a soletração. A ABD (Associação Brasileira de Dislexia) estima que 5% a 17% da população mundial tenham o distúrbio.

“Hoje, as pessoas têm mais informações. Mas muita gente confunde a dislexia com outros problemas, como deficiências visuais, mentais, lesões cerebrais ou razões psicológicas que provocam o fracasso escolar”, afirma a coordenadora técnica e científica da ABD, Maria Ângela Nogueira Nico.

Para identificar a dislexia corretamente, é preciso uma equipe multidisciplinar, com especialistas em fonoaudiologia, psicologia, neurologia e psicopedagogia.

Maria Ângela explica que o distúrbio é hereditário e o disléxico sempre conviverá com as dificuldades. “Muitos descobrem que também são disléxicos na hora da entrevista do filho, sobrinho ou neto. Não deve haver preconceito. A dificuldade não é na parte cognitiva, é com a linguagem, principalmente a escrita. Disléxicos costumam ser muito criativos”, diz.

Para evitar danos emocionais, é importante que o diagnóstico seja feito o quanto antes. “Se a criança começa a ter dificuldade para ler e escrever e é inteligente, aconselha-se fazer a avaliação para que ela não tenha comprometimentos emocionais”, afirma a coordenadora Maria Ângela.

Segundo a ABD, os disléxicos apresentam combinações de sintomas em intensidade de níveis que variam do sutil ao severo.

A psicopedagoga Luciene Bugarelli Moreira explica que o distúrbio não impede ninguém de aprender. “O mais importante é entender as reais dificuldades do aluno e acompanhar de perto seu processo de aprendizagem. Todos aprendem, cada um no seu tempo.”

Luciene aconselha que o aluno sente perto da lousa, tenha mais tempo para a cópia do conteúdo e use um gravador durante a aula. “A compreensão e a parceria são essenciais para garantir o futuro desses jovens”, diz.

Experiência - Mãe de um disléxico de São Caetano, Márcia Caniato Picon, 38 anos, desconfiou do problema do filho Ramon, 14, hoje na 8ª série de um colégio particular, quando ele estava no 2º ano. “Meu filho começou a ficar muito desanimado e falava que não queria mais ir à escola, pois não adiantava, já que era burro mesmo.”

Segundo Márcia, uma professora chamava seu filho de burro e o humilhava na sala de aula. “Ela o fazia ler em voz alta e depois perguntava para a sala se ele tinha lido bem, mas fazia gesto com a mão mostrando que não.”

A pedido de Márcia, Ramon fez a 2ª série duas vezes, até encontrar uma instituição de ensino que soubesse lidar com o distúrbio. “A escolha da escola é fundamental, pois precisa estar preparada para apoiar o aluno”, acredita.

Ramon toma medicamentos para aumentar a concentração e diminuir a ansiedade, além de fazer fonoaudiologia e terapia. “Os resultados são notórios”, finaliza.



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