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Genérico força baixa de preços no Grande ABC
Sérgio Saraiva
Da Redaçao
19/02/2000 | 16:43
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No meio da confusao sobre os genéricos, a populaçao do Grande ABC está forçando o rebaixamento geral nos preços dos remédios. A maioria dos consumidores rejeita os preços dos medicamentos de marca e exige alternativas dos farmacêuticos. "Mais ou menos seis em cada dez clientes chega à farmácia perguntando pelos genéricos", informou o empresário Samuel F. de Carvalho, proprietário de uma farmácia no Centro de Sao Bernardo.

Essa pressao tem como efeito a oferta de descontos lineares (para todos os medicamentos), que variam de 15% a 25% nos remédios de marca, como Antak, Keflex e Amplacilina, os três primeiros a ter seus princípios ativos transformados em remédios genéricos. Os descontos atingem também os preços dos produtos similares, pouco mais baratos que os de marca.

A diferença de preços nao é pouca coisa. Pela tabela, o Antak (R$ 24,20), usado no combate à úlcera, está 55,7% mais caro que o genérico Ranitidina (R$ 10,71). Entre o Keflex (um dos antibióticos mais vendidos no país) e seu genérico, o Cefalexina, a diferença é de 36,3%. A Amplacilina é 42,28% mais cara que a Ampicilina.

Seis novos genéricos foram registrados na semana passada, três deles para venda ao consumidor; e os demais, para uso hospitalar. Estarao nas farmácias nesta semana: Claritrominicina (Klaricid), Salbutanol (Aerolin) e o Cetoconazol (Nisoral). Os genéricos sao remédios semelhantes aos de marca, mas bem mais baratos por nao embutirem em seus custos gastos com propaganda.

Os consumidores, mobilizados pelas notícias sobre a briga entre Ministério da Saúde e a indústria farmacêutica, nem sempre estao informados sobre os detalhes, mas sabem muito bem o que está em jogo. A maioria quer genéricos que ainda nao existem para substituir os receitados pelos médicos. Querem preços mais baixos de qualquer maneira.

É o caso do ferramenteiro aposentado Alejandro Acemel, 72 anos, do Parque Sao Vicente, Mauá, que afirma ter entendido o essencial do debate: "O remédio tem de ter a mesma composiçao, fazer o mesmo efeito e ser mais barato". Espanhol radicado há 40 anos no Brasil, Acemel gasta boa parte de sua aposentadoria com remédios, ainda sem genéricos, para tratar a dor que sente na coluna. Ele espera sua vez. Mas a reaçao dos demais consumidores frente às respostas negativas dos balconistas vai da indignaçao ao descrédito com relaçao ao governo.

"Alguns, ao se sentirem frustrados, dizem que o governo está fazendo política, mentindo", disse Sebastiao Nascimento, gerente de uma farmácia na regiao central de Sao Bernardo. "Eles nao entendem porque ainda tem poucos genéricos", explicou.

A descrença é compartilhada por Luiz Emílio Figueiredo, 35 anos, que vê na polêmica sobre os genéricos uma jogada de mercado, apesar de ter assistido a comentários pela televisao. Ele gasta cerca de R$ 380 mensais em remédios para a sua mae. "Por enquanto, rodo muito para achar preços melhores. A diferença entre as farmácias é muito grande", afirmou.

A costureira aposentada Shizuka Shimada, 62 anos, dependente de remédios para hipertensao e diabetes, já procurou uma forma de pagar menos, mas desistiu por enquanto. "Nao estou entendendo muito bem o que está acontecendo, mas acho que minha vez vai chegar", disse ela, ao sair de uma farmácia de Diadema.

Em Santo André, Marli Fernandes Penhabel, 35, disse gastar cerca de R$ 80 mensais em remédios de marca para a mae, também portadora de hipertensao e diabetes. Mas disse preferir sempre seguir a orientaçao do médico, a quem já questionou sobre medicamentos mais baratos.

A auxiliar de produçao Ivani de Oliveira, 25 anos, de Sao Bernardo - grávida de cinco meses -, soube quase tudo sobre os novos medicamentos pela televisao. "Nao há genérico para gestantes ainda. Mas vai ter depois do parto, quando o princípio ativo do antibiótico Keflex é muito usado", concluiu.




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